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A prova cabal da mentira

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 16 de outubro de 2006

Sob o título “Paranóia”, encontro no site oficial da campanha lulista (http://www.lulapresidente.org.br/boletim.php?codigo=21) uma declaração sobre o Foro de São Paulo que deve ser analisada com a maior atenção e rigor, porque fornece aprova cabal de que o PT é um partido de sociopatas cínicos, amorais, sem escrúpulos, mentirosos até à alucinação.

Publicado sem assinatura de autor, portanto endossado pelos chefes mesmos da campanha presidencial de Lula, o documento começa anunciando que “alguns artigos na imprensa e muitas mensagens na internet divulgam uma ‘denúncia’ seríssima: a de que o PT seria integrante de uma perigosa organização internacional chamada Foro de São Paulo.”

As aspas na palavra “denúncia” dão a entender que ela não é uma denúncia de maneira alguma, não é a revelação de ações graves e malignas, mas sim apenas uma tentativa artificiosa de fazer onda em torno de fatos já amplamente conhecidos ou inócuos. Veremos adiante se esses fatos são realmente assim.

“Pois bem: a tal organização existe, chama-se mesmo Foro de São Paulo mas só oferece perigo para os partidos neoliberais.”

Como não faz nenhum sentido reconhecer publicamente a existência de algo que já é publicamente reconhecido como existente, este parágrafo é uma confissão de que o Foro de São Paulo, a mais vasta e poderosa organização política já existente na América Latina, fundada por duas celebridades mundiais (Lula e Fidel Castro) e composta por todos os líderes da esquerda continental, continua desconhecido do público geral após dezesseis anos de atividade.

Mas será normal, inócuo e indigno de denúncia o fato de que tantos chefes de Estado, tantos líderes de partidos, tantos comandantes de guerrilhas tenham reuniões periódicas para discutir assuntos políticos durante mais de uma década e meia sem que ninguém fora do círculo dos eleitos fique sabendo de nada?

Ou, ao contrário, a denúncia não tem nada de artificioso, é a revelação jornalística obrigatória de um fato importante e colocá-la entre aspas é que é uma tentativa pueril de esconder um elefante por baixo de um pires?

Raciocinem um pouco. Mesmo que aqueles indivíduos se reunissem sem qualquer intuito político, mesmo que fossem ali apenas para beber cerveja e jogar futebol-de-botão, o número e a magnitude deles já faria do acontecimento um alvo necessário e indispensável de atenção jornalística. O silêncio total da mídia a respeito assinalaria, no mínimo, uma falha profissional imperdoável, mesmo que o encontro se realizasse uma única vez. A persistência da omissão por dezesseis anos seguidos, mesmo se não levarmos em conta suas implicações políticas e a considerarmos apenas do ponto de vista técnico-jornalístico, já seria por si um fenômeno alarmante no mais alto grau. Ainda supondo-se que não houvesse nisso nenhum esforço de ocultação, apenas um lapso de atenção profissional, é evidente que uma gigantesca falha de cobertura, repetida uniformemente por todos os jornais, canais de TV e noticiários de rádio ao longo de tanto tempo, comprovaria uma epidemia geral de inépcia jornalística como nunca se viu na história da mídia mundial. Dizer que isso não constitui motivo de denúncia ultrapassa a margem do que se pode conceder à hipótese da estupidez. É cinismo puro e simples. É mentira consciente, produzida no intuito de ludibriar os votantes às vésperas de uma eleição.

Mas quem, em sã consciência, pode acreditar numa tão vasta, geral e duradoura conjunção de inépcias jornalísticas acumuladas em todas as redações, em todas as cabeças de jornalistas do país ao longo de dezesseis anos por mero acaso, por pura coincidência? Se essa coincidência tivesse realmente acontecido, sua improbabilidade matemática seria tão gigantesca que, por si, o fenômeno mereceria estudo científico. Querer que acreditemos nisso é esperar que abdiquemos totalmente da inteligência racional e do senso das proporções, para apostar na palavra sacrossanta de um redator de aluguel aserviço de um partido de ladrões.

Para qualquer observador com QI superior a 12, é claro que houve ocultação deliberada do Foro de São Paulo e, uma vez vazado o segredo, um esforço proposital de abafar o escândalo por meio de evasivas, desconversas e novas ocultações. Essas duas etapas da fraude se evidenciaram, respectivamente, no sumiço completo do site do Foro de São Paulo logo após eu começar a divulgar trechos das atas de suas assembléias, e na nota oficial do PT, assinada por seu assessor de imprensa Giancarlo Summa, que afirmava ser o Foro apenas um inofensivo centro de debates, sem intuito decisório, afirmativa que desmenti, com provas cabais, em artigo publicado em O Globo em 19 de outubro de 2002 (v. http://www.olavodecarvalho.org/semana/10192002globo.htm).

Não sei como o acordo de sumir com a notícia veio a ser obedecido tão fielmente por todos os órgãos de mídia (se bem que no Brasil eles não sejam tantos que não se possa suborná-los, ou intimidá-los, ou simplesmente seduzi-los por atacado). Mas sei de onde partiu a ordem de sumiço: partiu do próprio Foro de São Paulo, na pessoa do seu fundador e dirigente máximo, Luís Inácio Lula da Silva. Quem me contou isso? Foi ele mesmo, ora bolas! Ele próprio, no seu discurso de 26 de setembro de 2005, comemorativo dos quinze anos de fundação do Foro, declarou que essa entidade era um sistema de relações construído entre ele e outros líderes esquerdistas “para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política”.  Pergunto ao autor do documento: Você não sabe ler, desgraçado? Não entende o que o seu próprio chefe admite com clareza máxima? Entende sim, e porque entende, esconde. No caso, esconder se torna ainda mais fácil porque o discurso com a confissão explícita da ocultação proposital também foi ocultado por sua vez: publicado no site oficial do governo (http://www.info.planalto.gov .br/download/discursos/pr812a .doc), não foi citado por nenhum jornal, revista, canal de TV ou estação de rádio deste país, mesmo depois que o denunciei nas minhas colunas, aqui, no Jornal do Brasil e no Mídia Sem Máscara. Vai me dizer, moleque idiota, que isso também foi coincidência, mera coincidência?

A segunda frase do parágrafo admite que o Foro é perigoso, “mas só para os partidos neoliberais”. Não interessa, no momento, discutir o sentido objetivo do termo “neoliberal”, que já investiguei em artigo anterior (http://www.olavodecarvalho.org/semana/050725dc.htm). Interessa que, para os esquerdistas em geral, incluindo o autor do documento, o termo designa pessoas e entidades que eles parecem não ter a menor dificuldade de identificar, tal o sentimento de certeza com que o aplicam a esses alvos. As duas perguntas que a afirmação suscita são, portanto: (a) Que tipo de perigo, concretamente falando, o Foro apresenta para os partidos que tenham a infelicidade de enquadrar-se na classificação de “neoliberais”?; (b) É realmente só esse o grupo ameaçado, ou os perigos aludidos se estendem também a outros grupos não mencionados?

Com relação ao item “a”, o autor nada esclarece. Como o documento se constitui de palavras escritas em defesa das ações do Foro, devemos portanto recorrer a estas para esclarecer o sentido daquelas. O que o Foro tem feito contra os neoliberais mostrará a quais novos perigos o autor do documento promete agora submetê-los. Por outro lado, o Foro não age diretamente, mas através das entidades que cumprem suas resoluções. Ora, as ações que essas entidades têm empreendido contra os chamados “neoliberais” constituem-se, em grande parte, de guerra cultural e combate político. O objetivo com que as empreendem foi declarado explicitamente pelo próprio inventor e mentor do Foro de São Paulo, Fidel Castro: “Erradicar o neoliberalismo” (http://www.pt.org.br/site/secretarias_def/secretarias_int.asp?cod=2255&cod_sis=9&cat=7). Não se trata, portanto, de concorrer com o neoliberalismo nas eleições, alternando-se com ele no poder, democraticamente: trata-se de eliminá-lo, de varrê-lo do círculo das possibilidades socialmente admissíveis. O primeiro perigo que o Foro promete para os partidos inimigos é este: torná-los inviáveis como força política e cultural. A promessa é clara, e exclui in limine a possibilidade do rozídio no poder por via eleitoral, que supõe a existência política e cultural do adversário como força organizada. Pode-se concorrer com esse adversário, é claro, mas só como meio temporário destinado, em última instância, a “erradicá-lo”. Nenhum partido ou organização rotulada como “neoliberal” jamais ambicionou “erradicar a esquerda”. Limitam-se a tentar vencê-la nas eleições, quando podem, e em seguida aceitá-la como oposição democrática sem perspectiva de extinção. A assimetria é evidente.

Se, porém, “ser erradicado” política e culturalmente já é temível o bastante, expondo milhões de pessoas ao perigo de ficar sem representação política ou meios de autodefesa coletiva, as entidades filiadas ao Foro não se contentam com perigo tão modesto. Entre elas constam organizações armadas como as Farc, o MIR chileno, os Tupamaros, que já enviaram para o beleléu, fisicamente, uma quantidade considerável de “neoliberais”. O número exato é de cálculo difícil, mas já passou de algumas dezenas de milhares.

O “perigo” anunciado é portanto bem claro: Neoliberais (seja isto lá o que for), nós vamos matar vocês. Os que sobrarem, nós vamos excluir da política e da vida social decente.

O autor do documento é pérfido o bastante para deixar essa ameaça no ar com a certeza quase infalível de que fala em código, só para os do círculo interno, já que os de fora tomarão automaticamente a palavra “perigo” como mera hipérbole vazia, sem que lhes ocorra interpretar as palavras pelas ações e descobrir a presença explosiva da ameaça velada.

Quanto à pergunta “b”, isto é, se o perigo se circunscreve aos grupos neoliberais, não creio que seja possível enquadrar nessa classificação os milhares de jovens e crianças que morrem anualmente de drogas distribuídas pelas Farc no Brasil, na Colômbia, na Venezuela e nos EUA. Também não creio que haja algum neoliberalismo na mente de todas as vítimas de seqüestros realizados pelo MIR chileno, como por exemplo o publicitário Washington Olivetto, que não esconde suas simpatias esquerdistas. Mais rebuscado ainda seria chamar de neoliberais todas as vítimas assassinadas, em fuzilarias a esmo ou em disputas de quadrilhas, por bandidos que a Farc instruiu e treinou em técnicas de guerrilha urbana. Cá entre nós, que o autor do documento não nos ouça, a afirmativa de que o Foro de São Paulo “ só oferece perigo para os partidos neoliberais” é um eufemismo pérfido e mentiroso. O Foro de São Paulo oferece perigo para qualquer um que atravesse o seu caminho, não só no sentido de oposição política, mas até no de ficar plantado, por acaso, na direção de onde venha uma bala perdida disparada por qualquer discípulo local das Farc. O Foro de São Paulo oferece perigo para toda a população.

Prossegue o documento: “O Foro de São Paulo, como diz o nome, é um ‘foro’ ou ‘fórum’, que faz reuniões anuais de que participam não apenas partidos latino-americanos, mas também partidos socialistas e progressistas da Europa, África e Ásia.

Agora o fulano quer nos fazer engolir que as Farc são um partido político, não a quadrilha armada que vende cocaína no Brasil através de seu sócio Fernandinho Beira-Mar, atira nos soldados do nosso Exército e treina assassinos para que aterrorizem a população. O MIR chileno é um partido político, não uma quadrilha de seqüestradores armados? Para quem esse sujeito pensa que está escrevendo? Para crianças de sete anos? Para bobocas ludibriáveis ad infinitum? Se essa óbvia fraude publicitária não é crime eleitoral, eu sou o Lula em pessoa.

A explicação acaciana de que o foro é um foro, “ou fórum”, é uma papagaiada incumbida de revender, abreviadamente, amentira boba inventada pelo sr. Giancarlo Summa, de que a entidade “é um foro de debates, e não uma estrutura de coordenação política internacional”, à qual não preciso responder porque já respondi em 2002: “Porca miséria, quem já viu um mero foro de debates emitir ‘resoluções’ ao fim das assembléias? Resolução é decisão, é diretriz prática, é norma de ação. Uma assembléia que emite resoluções, subscritas unanimemente por organizações de vários países, não pode estar fazendo outra coisa senão coordená-las politicamente. É, aliás, o que afirma a resolução final do I Foro (São Paulo, 4 de julho de 1990), ao expressar seu intuito de ‘ avanzar propuestas de unidad de acción consensuales’. O esforço comum para formular uma ‘unidade de ação’ não pode ser puro debate, sobretudo quando se cristaliza em ‘resoluções’: ele é, no mais pleno sentido do termo, coordenação política.”

 Mas o mais bonito do documento vem no anúncio do XIII encontro do Foro (San Salvador, janeiro de 2007), quando será discutido, entre outros temas, o “combate ao crime organizado, ao narcotráfico e à militarização”. Chega a ser maravilhoso. Que é que os mentores do Mensalão, os maiores narcotraficantes do continente e o único governante latino-americano empenhado em militarizar seu país para aguerra del pueblo entero” (nos termos dele mesmo) podem sugerir para combate aos três males que eles próprios personificam eminentemente? Não sei, mas eu sugiro aos interessados: prendam todos os participantes do XIII encontro do Foro de São Paulo, e verão o crime organizado, o narcotráfico e a militarização diminuírem consideravelmente na América Latina. Eles próprios é que não vão trancafiar-se a si mesmos, como o Dr. Simão Bacamarte. O psiquiatra de Itaguaí era louco, mas teve a honestidade científica de reconhecer que o era. Libertou a população que ele próprio internara e foi para o hospício em lugar dela. Mutatis mutandis, os homens do Foro são bandidos, mas jamais hão de reconhecer que o são. Vão combater o crime metendo na cadeia quem não é seu cúmplice, reprimir o narcotráfico ampliando a clientela das Farc e eliminar o militarismo alistando todo mundo no exército de Hugo Chávez.

A declaração do PT foi publicada um dia depois de sair noJornal do Brasil o artigo em que eu sugeria ao candidato Alckmin cobrar do oponente explicações sobre suas atividades no Foro de São Paulo. Ela é um arremedo grotesco de antídoto, preparado às pressas por puro temor de um vexame politicamente catastrófico, a revelação, em pleno debate eleitoral, das ações clandestinas do sr. Luís Inácio Lula da Silva como parceiro e protetor dos maiores criminosos do continente.

Em matéria de confronto polêmico, a denúncia do Foro de São Paulo é um autêntico roto-rooter capaz de trazer à tona crimes e perfídias em comparação com os quais tudo o que se denunciou do PT até hoje é agradinho.

Não sei se o sr. Alckmin terá a coragem de usar o equipamento. Mas sei que a extrusão total da sujeira petista enterrada é inevitável, seja nesta eleição ou depois dela. Entendo o desespero da campanha petista. Mesmo que seja vencedor nesta eleição, Lula um dia sairá do poder pelo esgoto. O PT se acha esperto ao ponto de ser o “Partido Príncipe” sugerido por Antonio Gramsci. Mas terá sido o primeiro Príncipe, na História, que foi presunçoso e tolo o bastante para tentar enganar todo mundo indefinidamente. No fim, como diz a Bíblia, sua loucura será exposta aos olhos de todos. No outro mundo, Maquiavel está chorando e Abraham Lincoln está rindo, porque já conhecem o final da novela.

O chuchu que virou pepino

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 10 de outubro de 2006

Começo por chamar a atenção dos leitores para a seguinte nota publicada na coluna de Mônica Bérgamo (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0410200609.htm)

“De um dos parlamentares mais bem votados do PT em jantar com empresários, anteontem: ‘Vamos ser claros. Existia um acordo entre nós [PT] e o PSDB: o próximo governo era nosso, do Lula. O de 2010 seria do José Serra ou do Aécio Neves, sem problemas. Com a vitória do Alckmin, esse acordo será rompido. E o Alckmin vai ter derrotado o Serra, o Aécio, o Fernando Henrique Cardoso, o Lula, todo mundo.’ A platéia ouvia, algo perplexa. O parlamentar continuou: ‘O Alckmin, se eleito, não vai governar. O PT não vai dar trégua no Congresso. A CUT, o MST, os movimentos sociais, não vão dar trégua nas ruas.’ A perplexidade só aumentou. No mesmo jantar foi dito que o PT está preparado para uma má notícia nas próximas pesquisas: a de que Alckmin tenha empatado ou até superado o presidente Lula nas intenções de votos. ‘Mas o PT vai para as ruas’, disse o parlamentar.”

Se a informação é veraz (e confesso que sinto dificuldade em contestá-la), ela significa que:

1) Os dois partidos fingem enfrentar-se em público, quando em segredo já dividiram o bolo do poder. Isso seria a maior fraude eleitoral de todos os tempos.

2) O acordo criminoso tem autoridade superior à decisão do eleitorado, que pode ser revogada à força caso venha a se desviar do que ele determina. Isso seria mais que uma ameaça de golpe. Seria a confissão de que o golpe já está armado.

A informação pode parecer chocante demais para ser verdadeira, mas, no país do Mensalão, do dinheiro na cueca, dos 50 mil homicídios por ano, das testemunhas judiciais assassinadas em série e dos narcotraficantes recebidos como hóspedes oficiais de um governador de Estado, a diferença entre o chocante e o banal se tornou um detalhe filológico sem maior interesse.

A notícia, aliás, tem antecedentes, e bastante numerosos.

Tempos atrás, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o então teórico petista Cristovam Buarque reconheceram, numa declaração conjunta, que seus respectivos partidos não tinham nenhuma divergência no que diz respeito a ideologia e metas; que a única disputa ali existente era de cargos. Em qualquer país decente, essas duas belezinhas teriam sido imediatamente aposentadas da atividade política. No Brasil, receberam mimos e afagos como se tivessem acabado de recitar “Batatinha quando nasce”. Já naquela época ninguém se escandalizava ante a confissão de que a mais vistosa disputa em cartaz no circo político nacional era uma farsa. A identidade de política e farsa parecia, ao contrário, uma lei da natureza. Por que deveríamos então surpreender-nos com sua confirmação tardia?

A suspeita explícita de algum acordo secreto remonta pelo menos à declaração de Fernando Henrique, feita ao candidato Lula poucos dias antes da eleição de 2002: “Você sabe que esta cadeira é sua.” Por que o presidente, em vez de ajudar o seu candidato nominal, apostava tudo no cavalo do adversário? Não sei, mas o fato é que, eleito para deter o avanço da extrema esquerda, Fernando Henrique havia tratado é de favorecê-lo por todos os meios, alimentando o MST com as verbas federais que o transmutaram de grupelho folclórico em temível organização de massas, desmoralizando e demolindo as Forças Armadas, institucionalizando o assalto revanchista aos cofres do Estado e oficializando a doutrinação politicamente correta nas escolas. Não é de espantar que a direita militar tenha acabado por nutrir mais ódio aos tucanos do que aos petistas, oferecendo a estes o seu apoio eleitoral em 2002. Nada no mundo me convencerá de que tudo isso foram resultados imprevistos de erros inocentes, cometidos com a mais pura intenção de sepultar o comunismo sob as glórias de uma democracia capitalista. No instante mesmo em que os cometia, Fernando Henrique gabava-se de ser melhor conhecedor da estratégia revolucionária gramsciana do que seus concorrentes petistas. E era mesmo. Mas, nesse sentido, seus erros não foram erros. foram uma espertíssima política de esquerda camuflada como política direitista sonsa. Todos os aparentes paradoxos do governo Fernando Henrique se resolvem quando os encaramos sob esse prisma. Inclusive as famosas privatizações, conduzidas com espírito premeditadamente clientelista que as inutilizou como instrumentos de higiene administrativa e comprometeu para sempre a imagem do “liberalismo” aos olhos do eleitorado, dando um poderoso reforço ao discurso estatista da esquerda – resultado óbvio que um cientista político habilitado como Fernando Henrique jamais teria podido deixar de prever, e do qual, aliás, tirou ainda um belo proveito secundário, o enriquecimento de seus amigos.

A existência da parceria oculta entre as duas agremiações pareceu confirmada por um sinal indireto nas eleições de 2002, quando o candidato José Serra, alimentado de informações sobre o Foro de São Paulo capazes de fazer em cacos o prestígio do oponente, se recusou a divulgá-las, preferindo antes ser usado como sparring para o maior sucesso do adversário e tornando-se, por omissão, cúmplice dos crimes inumeráveis cometidos por aquela organização subversiva.

O mesmo silêncio é observado agora pelo sr. Geraldo Alckmin, cuja imagem de conservador e católico só engana a quem desconheça a contribuição dada por ele ao avanço da ditadura politicamente correta entre nós, mediante um decreto abominável que proíbe padres, pastores ou rabinos de vetarem o ingresso de homens vestidos de mulheres nos seus templos, como se cultos religiosos fossem bailes do Scala Gay.

Como se isso não bastasse, o candidato ainda sai proclamando que Lula está à sua direita, dando assim um formidável impulso a que a identificação do esquerdismo com a vontade de Deus se arraigue um pouco mais na imaginação popular, e confessando que, à imagem do seu antecessor de 2002, não enfrenta o oponente como a direita enfrenta a esquerda, mas apenas concorre com ele num campeonato de esquerdismo. Se é verdade que o contrato secreto sugerido na notícia da Folha não compromete o PSDB inteiro, mas apenas alguns grupos dentro dele, é claro que entre a facção de Alckmin e o grupo Serra-Aécio-FHC a divergência também não é ideológica, mas mera disputa de poder, reproduzindo em miniatura, na escala tucana, a concorrência entre PSDB e PT.

Ambos esses partidos, no fim das contas, vêm da mesma origem social e cultural. Nasceram do mesmo grupo uspiano intoxicado de marxismo, cujos membros menos ortodoxos, mesmo após a queda da URSS, não abdicaram em nada de seu compromisso materialista e esquerdista, no máximo consentindo numa modernização cosmética, da qual não resultou nenhuma tomada de posição efetiva contra as ditaduras comunistas e nem sequer o despertar de algum interesse, por mínimo que fosse, pelo pensamento da “direita”. Fernando Henrique, Serra, Gianotti e tutti quanti continuam tão ignorantes do conservadorismo anglo-saxônico ou da economia austríaca quanto o eram na década de 60. Que sentido faz, então, rotulá-los de “direitistas”? Como podem esses indivíduos representar, mesmo de longe, uma corrente de idéias pela qual não têm sequer um interesse teórico, um interesse intelectual, um interesse de meros leitores? O cientista Bolívar Lamounier voltou a insistir recentemente, e é o milésimo a dizê-lo: “O PSDB é uma organização de centro-esquerda.” Fazer dos líderes tucanos a encarnação da direita nacional é evidentemente uma fraude. Se perguntarmos a quem beneficia essa fraude, a resposta é óbvia: beneficia por igual aos tucanos e petistas, ajudando-os a dividir o espaço inteiro da política nacional entre a “esquerda” e a “direita da esquerda”, deslocando para o mundo do não-ser todas as forças que poderiam legitimamente reivindicar, em graus variados, o título de direitistas, conservadoras ou liberais. Tenho explicado isso desde o ano de 2000 pelo menos (V.http://www.olavodecarvalho.org/semana/paulada.htm, http://www.olavodecarvalho.org/semana/dirdaesq.htmhttp://www.olavodecarvalho.org/semana/berlim.htm), e não vejo por que continuar repetindo o óbvio.

Quem disse que em briga de marido e mulher não se mete a colher tinha em vista precisamente o fato de que, por trás dos bate-bocas domésticos restando sempre um fundo de amor secreto, qualquer veleidade de tomar partido de um dos lados acabará fortalecendo a união dos cônjuges em prejuízo do intrometido. Duas forças que se acharam espertas o bastante para usar o PSDB contra o PT ou vice-versa saíram quebradas e desmoralizadas dessa tentativa supremamente idiota. A primeira foi o PFL. Pouco restou dele depois da aliança com FHC, e agora está mais fraco ainda depois do esfarelamento político de Antonio Carlos Magalhães, um fenômeno que previ como inevitável mais de três anos atrás. A segunda foi a vasta parcela de oficiais das Forças Armadas, que, em 2002, no empenho de vingar-se dos tucanos que tanto haviam humilhado suas corporações, votaram maciçamente no PT acreditando poder servir-se dele e jogá-lo fora. Foram eles os usados e jogados, exatamente como anunciei que seriam.

Onde erraram? Erraram, primeiro, pela mania brasileira de tentar resolver tudo com manhas sorrateiras em vez de coragem e franqueza. Napoleão ensinava: entre a esperteza e a força, a força sempre vence. O corolário é incontornável: se você não tem força, adquira-a. Essa é a única esperteza que vale. Um único ato de coragem multiplica a força por mil. E nada enfraquece mais do que tentar usar a esperteza como substitutivo da coragem. Com mais alguns passos nessa direção, a Frente Liberal se tornará a entrada dos fundos do esquerdismo. E as Forças Armadas se tornarão Fraquezas Desarmadas.

Erraram, também, por subestimar a unidade profunda da esquerda nacional, unidade forjada na luta precisamente contra a elite pefelista e as Forças Armadas. Civil ou militar, o sujeito precisa ser muito besta para achar que de repente, em troca de dois ou três agradinhos, esquerdistas históricos vão romper lealdades de quatro décadas para se tornar amigos de seus inimigos de ontem. Mesmo se não existisse a aliança formal a que se refere a colunista da Folha, restaria o espírito de solidariedade revolucionária, uma força psicológica tremenda. Um comunista pode retalhar ou assar vivo outro comunista. Mas jamais permitirá que um estranho, um reacionário, o faça em lugar dele. Entre comunistas, as divergências são políticas ou estratégicas. Entre os comunistas e o resto, a diferença é um abismo ontológico intransponível. Notem o ar de infinita superioridade com que eles se referem a vocês, e verão que nesses ambientes vocês jamais terão sequer o estatuto de seres humanos enquanto não se converterem ao esquerdismo. Para o comunista, só há amigos e inimigos – e nesta última classificação entram os aliados oportunistas como o PFL e os oficiais “nacionalistas”.

Há também o fato de que bater com duas mãos, articulando a “pressão de cima” com a “pressão de baixo” como se viessem de fontes separadas e inconexas, é a mais velha e sólida tradição estratégica do esquerdismo internacional – uma tradição que dificilmente seria desconhecida por homens muito versados em marxismo e em praticamente mais nada.

Por fim, é evidente que nem PT nem PSDB são organizações nacionais independentes, criadoras de suas próprias idéias. Ambos são instrumentos passivos de estratégias globais que seus dirigentes nem mesmo enxergam com clareza, pois não têm QI para isso, e às quais servem com o deslumbramento de caipiras para quem um sorrisinho da mídia novaiorquina ou uns aplausos de ocasião na Assembléia Geral da ONU representam a culminação suprema da existência humana. Para os criadores da política mundial, os planejadores estratégicos da Nova Ordem Mundial, articular um partido de esquerda com um de centro-esquerda em mais um país de tagarelas semiletrados no Terceiro Mundo, depois de tantos onde isso se fez com sucesso desde a primeira década do século XX, não é certamente o grande desafio de suas vidas.

Em face desses antecedentes, a noticia dada por Mônica Bérgamo faz tanto sentido que negar sua veracidade in limine, como o faz indignado o meu caro Reinaldo Azevedo, só se explica como natural reação do homem honesto ante o temor de que sua última esperança de restaurar a ordem moral se transfigure na mais intolerável das decepções. Quando a derradeira tábua de salvação começa a nadar como um crocodilo, mostrar dentes de crocodilo e agitar o rabo como um crocodilo, o cérebro humano tende a apegar-se à idéia reconfortante de que as árvores às vezes assumem estranhas formas animais. Mas a situação do Brasil se tornou tão ameaçadora, que recuar ante as hipóteses escabrosas pode ser um meio de apressar a sua realização. Os piores instintos humanos assumem o comando justamente quando rejeitados para a escuridão do inconsciente. É melhor, pois, levar a hipótese a sério, e começar a investigá-la.

Também não há por que supor, como Reinaldo, que a notícia seja desinformação calculada para queimar a candidatura anti-Lula. Se o acordo secreto existe, e se Alckmin tomou a iniciativa de traí-lo, eis aí uma bela razão para votar em Alckmin. O princípio do ladrão que rouba ladrão vale também para o traidor paradoxal, que trai o pacto abominável dos conspiradores. Eu, que não tenho a menor apreciação pelo sr. Alckmin, confesso que, se ele fez o que Mônica Bérgamo diz que ele fez, já vejo aí um começo de motivo para admirá-lo. Num país de carneirices, pagagaiadas e macaqueações, ele terá optado por um caminho próprio, não obstante os riscos. Já não se poderá chamá-lo de “chuchu”. Ao menos do ponto de vista dos conspiradores, ele terá se transformado em pepino. Há quem goste e quem não goste de pepino. Mas ninguém dirá que é digestivamente inócuo.

A arte da acusação invertida

Olavo de Carvalho


Diário do Comércio, 2 de outubro de 2006

Comunista, quando quer caluniar alguém, não precisa inventar crimes: atribui-lhe um dos seus, e pronto. Resolve dois problemas de uma vez: queima a reputação do infeliz e ainda esconde as suas próprias culpas sob as cinzas do cadáver. Isso é assim desde os tempos de Lênin. O método é simples, prático, brutal e descarado. Tão descarado que a platéia, recusando-se instintivamente a acreditar que alguém seja mau o bastante para usá-lo, cai no engodo de novo e de novo e de novo.

O exemplo mais espetacular, em escala nacional, foi aquele que citei aqui no artigo anterior: o hiperbolismo retórico dos Dirceus e Mercadantes, na CPI de 1993, transformando os Anões do Orçamento em gigantes do crime e acusando-os de montar “um Estado dentro do Estado”, coisa que ia muito além das possibilidades e até da imaginação daquelas diminutas criaturas, tudo para camuflar a montagem de um genuíno “Estado acima do Estado”, obra-prima de maquiavelismo, que o próprio PT já ia construindo com a ajuda das mais ricas e temíveis organizações criminais do continente, e cuja potência continua e continuará produzindo efeitos devastadores, pouco influindo nisso o resultado das eleições de ontem.

No plano internacional, exemplos ainda mais edificantes brotam em profusão cornucópica. O caso mais célebre talvez tenha sido a matança de 20 mil oficiais poloneses num campo de prisioneiros da II Guerra, executados por nada, por frescura, por divertimento. Os soviéticos levantaram a denúncia no Tribunal de Nuremberg. O mundo ficou chocado ante as fotos de cadáveres que não paravam de surgir do fundo da floresta de Katyn. Anos depois, vieram provas concludentes de que os autores do massacre tinham sido os próprios acusadores. Notem bem o detalhe: haveria escassez de crimes praticados pelos nazistas, para que os soviéticos tivessem de lhes emprestar um? Não, é claro. Mas a coisa parece que está no sangue: é uma comichão, uma volúpia irresistível, uma compulsão avassaladora. O gostinho da dupla mentira leva esses sujeitos ao orgasmo. Não é delicioso, por exemplo, xingar os judeus em todos os jornais do mundo e depois sair choramingando que eles são os donos da mídia? É melhor que sexo. O sujeito fez isso uma vez, não quer parar nunca mais.

Pos isso mesmo, essa conduta não se limita aos comunistas professos. Ela espalhou-se na esquerda em geral ao ponto de constituir um reflexo condicionado, um estilo de vida, um modo de ser, um traço permanente da cultura “progressista”. Mais recentemente, veio a onda de denúncias contra os padres pedófilos. Foi uma tempestade mundial, uma epidemia planetária. Por toda parte, os homens comprometidos com o voto de castidade pareciam não ter outra ocupação na vida senão bolinar meninos. Mas havia na acusação alguns detalhes estranhos. Desde logo, embora na quase totalidade dos casos as vítimas fossem do sexo masculino, as palavras “homossexual”, gay ou mesmo “pederasta”, que era o termo técnico exato para descrever a conduta dos criminosos, não aparecia nunca no noticiário. Nunca mesmo. A uniformidade global da omissão sugeria que os pedófilos eram pedófilos não por serem homossexuais, mas por serem padres. A idéia subjacente era persuadir o público de que a culpa de tudo estava no cristianismo, não numa cultura anticristã intoxicada de estímulos a toda sorte de sacanagem lícita ou ilícita, cultura da qual a própria mídia internacional era a expressão mais vasta e permanente.

A intenção canalha tornava-se ainda mais evidente porque o número de pedófilos entre os padres era muito menor do que entre os assistentes sociais da ONU, uma classe politicamente correta que havia devastado duas gerações de meninos na África e na Ásia, com o agravante cruel de aproveitar-se da situação local de miséria e dependência, própria a induzir as vítimas a que se submetessem a qualquer exigência despótica em troca de comida e abrigo. Ora, estes casos eram divulgados apenas em livros, em sites de organizações filantrópicas e em pesquisas acadêmicas: nem uma palavra sobre os campeões mundiais do abuso de menores aparecia naqueles mesmos jornais e noticiários de TV que ostentavam tanta indignação contra os padres. A seletividade deformante era tão óbvia, que tinha de haver alguma perversão maior por trás de tudo. Só entendi o fenômeno quando li o livro do repórter Michael S. Rose, Goodbye, Good Men: How Liberals Brought Corruption into the Catholic Church (Washington DC, Regnery, 2002). Era a história de como organizações ligadas ao movimento gay haviam infiltrado psicólogos nos seminários, durante duas décadas, para que vetassem o ingresso de homens vocacionalmente dotados para o sacerdócio e, em contrapartida, dessem preferência a candidatos homossexuais. Fontes citadas pelo autor: os próprios psicólogos, muitos deles arrependidos de haver colaborado com essa maldade descomunal. A operação havia mudado radicalmente a composição do clero americano, produzindo artificialmente a situação que depois seria imputada à Igreja Católica pelos próprios autores do crime. É claro que esse efeito não depende de um acordo prévio, de uma conspiração entre os planejadores originais e a mídia que anos depois completa a operação. Nesses casos, pode-se contar sempre com aquilo que Willi Munzenberg, o gênio comunista da desinformação midiática, chamava “criação de coelhos”. Basta dar o empurrão inicial, e o resto vem pelo automatismo imitativo – o processo mental mais característico do “proletariado intelectual” que espalha as modas culturais. Hoje em dia qualquer engenheiro social de quinta categoria domina a técnica de gerar esses efeitos. O mundo cultural está agora repleto não somente de coelhos, mas de milhões de pequenos Willis Munzenbergs com orelhas de coelho. Por meio deles a arte de usar os próprios crimes como instrumento de difamação dos inimigos deixou de ser privilégio da elite comunista para tornar-se patrimônio geral da esquerda.

E não venham com a bobagem de que estou contando isso por “preconceito”, “homofobia” ou coisas assim. Jamais abri minha boca para criticar as preferências sexuais de quem quer que seja. Apenas não sou idiota o suficiente para confundir preferência sexual com crime. Muito menos crime comum com uma operação de calúnia em larga escala, montada como camuflagem perversa de uma trama ainda mais perversa voltada contra a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo.

 A desvantagem do ardil é que, pela sua própria tendência de reproduzir-se mecanicamente ad infinitum, ele só serve para ludibriar ignorantes. Quem conheça a história do movimento comunista logo acaba apreendendo a fórmula do truque e reagindo ao automatismo com outro automatismo: onde quer que ouça um comunista acusando alguém de qualquer coisa, já sabe que alguma o comunista fez. O outro pode também ter feito, mas não é por isso que o comunista o acusa. É porque ele próprio fez, e quase com certeza fez pior. Posso testemunhar que, no meu caso, esse reflexo imunizante jamais falhou: todas as vezes que busquei algum crime por trás do discurso de acusação esquerdista, encontrei. E em geral encontrei mais de um.

O sr. Marco Aurélio Garcia acaba de me fornecer mais um exemplo, ao chamar de “violação da Justiça e da vontade popular” a divulgação das imagens do dinheiro usado na compra do dossiê anti-PSDB, comparando o episódio ao seqüestro do empresário Abílio Diniz em 1989, quando, diz ele, os malvados direitistas “tentaram identificar seqüestradores com o PT” por meio de uma foto dos delinqüentes com camisetas do partido.

A inversão é patente, para quem se lembra do caso. Quem “identificou o PT com os seqüestradores” não foi a foto. Não foram os direitistas. Foi o próprio PT, com a desavergonhada campanha que moveu para proteger e libertar os bandidos. Essa campanha mobilizou rapidamente todo o beautiful people paulista, a tropa inteira das garotas-propaganda do comunismo local, mostrando a extraordinária importância política que a causa tinha para o partido, tradicional amigo do MIR chileno, a quadrilha dos seqüestradores. Maior prova de cumplicidade não poderia haver. Cumplicidade não quer dizer necessariamente ajuda material na execução do delito, nem participação nos seus lucros financeiros. Dar suporte político ao crime é crime, e o suporte dado pelo PT aos seqüestradores de Abílio Diniz repetiu-se igualzinho no seqüestro de Washington Olivetto, praticado pela mesma gangue. No ano seguinte ao do primeiro seqüestro, a aliança do PT com o MIR, com as Farc e com outras organizações criminosas foi formalizada com a fundação do Foro de São Paulo, que articula ações políticas com a prática de delitos para a vantagem mútua dos dois braços da revolução comunista, o “legal” e o “ilegal”. Quando veio o caso Olivetto, a mobilização do suporte político foi mais rápida e eficiente, porque já estava tudo pré-arranjado no Foro. O PT estava tão profundamente comprometido com os autores do seqüestro, que além de socorrê-los na mídia e na Justiça ainda tratou de livrar a cara do MIR, dizendo que os bandidos eram “ex-membros” da organização, mentira que uma vez passado o perigo foi desmascarada por um dentre eles mesmos, Mauricio Norambuena, ostentando num jornal chileno uma bandeira do MIR e afirmando que era, sim, membro da quadrilha e não um extraviado free lancer como o rotulavam seus protetores petistas para descaracterizar a origem comunista do crime. Mais impressionante ainda foi a operação montada para livrar da justiça brasileira o falso padre Olivério Medina, para que não esclarecesse em público o que havia revelado a amigos numa festa petista: que havia trazido dinheiro das Farc para a campanha do PT em 2002. O PT está, sim, envolvido com narcotráfico e seqüestros, está envolvido com as Farc, com o MIR, com tudo quanto é bandido esquerdista no continente. Se ganha ou não dinheiro com isso, é indiferente. Ganha politicamente, e sabe que ganha. Isto já basta para qualificá-lo, acima de qualquer possibilidade de dúvida, como beneficiário de uma série interminável de crimes hediondos, como o partido mais criminoso que já existiu neste país. O sr. Garcia sabe de tudo isso, e se ele vier com desconversa esfrego-lhe no nariz os documentos do Foro de São Paulo que provam a unidade estratégica das ações empreendidas em escala continental por partidos legais de esquerda e organizações criminosas, tudo sob o comando direto do delinqüente-mor, fundador e mentor da porcaria toda, Luís Inácio Lula da Silva.

Um detalhe especialmente elegante da fala do sr. Garcia é a singela cara de pau com que ele sugere que a “vontade popular” é não saber nada sobre o dinheiro do dossiê antitucano. Informar os eleitores é insultá-los. Mentir para eles, mantê-los na ignorância como menores de idade, isto sim é que é respeitá-los. Cabeça de comunista é assim. Não se contenta com a perversão. Parte logo para a inversão. E não estou falando de inversão sexual, que é um fenômeno corriqueiro na sociedade. Comunista não se satisfaz com tão pouco: quer praticar veadagem é com o traseiro dos outros. O traseiro da pátria. O traseiro da humanidade.

Mas, no caso de agora, a inversão da ordem dos fatores não começou com o sr. Garcia, nem se limitou à esfera verbal. Investigar o delegado que divulgou o crime, em vez dos delinqüentes que o praticaram, não foi invenção do sr. Garcia, mas de outro ainda mais farsante e malicioso do que ele. Outros ainda piores fizeram o mesmo no caso Celso Daniel. Como é possível que, com tantas testemunhas assassinadas e tantas provas da operação-abafa arranjada pelo PT, a relação entre uma coisa e outra ainda não tenha sido esclarecida? Se foi o partido queridinho de Fidel Castro que mandou matar o boquirroto Daniel e deu sumiço nas testemunhas, que é que poderia haver de estranho nisso, sendo esse partido tão repleto de terroristas e assassinos treinados pelo serviço secreto mais homicida do continente, que já matou mais de cem mil pessoas em Cuba sob os aplausos – se não com a colaboração pessoal – desses mesmos indivíduos? Para gente como Fidel Castro, dar cabo dos inconvenientes é simples questão de rotina. Por que não o seria também para seus discípulos?

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