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O perigo sou eu

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 24 de setembro de 2007

Peço ao leitor a gentileza de examinar brevemente esta seqüência de fatos:

·        Abril de 2001: o traficante Fernandinho-Beira Mar confessa que compra e injeta no mercado brasileiro, anualmente, duzentas toneladas de cocaína das Farc em troca de armas contrabandeadas do Líbano.

·        7 de dezembro de 2001: O Foro de São Paulo, coordenação do movimento comunista latino-americano, sob a presidência do sr. Luís Inácio Lula da Silva, lança um manifesto de apoio incondicional às Farc, no qual classifica como “terrorismo de Estado” as ações militares do governo colombiano contra essa organização.

·        17 de outubro de 2002: O PT, através do assessor para assuntos internacionais da campanha eleitoral de Lula, Giancarlo Summa, afirma em nota oficial que o partido nada tem a ver com as Farc e que o Foro de São Paulo é apenas “um foro de debates, e não uma estrutura de coordenação política internacional”.

·        1º. de março de 2003: O governo petista estende oficialmente seu manto de proteção sobre as Farc, recusando-se a classificá-las como organização terrorista conforme solicitava o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe.

·        24 de agosto de 2003: O comandante das Farc, Raul Reyes, informa que o principal contato da narcoguerrilha no Brasil é o PT e, dentro dele, Lula, Frei Betto e Emir Sader.

·        15 de março de 2005: Estoura o escândalo dos cinco milhões de dólares das Farc que um agente dessa organização, o falso padre Olivério Medina, afirma ter trazido para a campanha eleitoral do sr. Luís Inácio Lula da Silva. O assunto é investigado superficialmente e logo desaparece do noticiário.

·        2 de julho de 2005: Discursando no 15º. Aniversário do Foro de São Paulo, o sr. Luís Inácio Lula da Silva entra em contradição com a nota de 17 de outubro de 2002, confessando que o Foro é uma entidade secreta, “construída para que pudéssemos conversar sem que parecesse e sem que as pessoas entendessem qualquer interferência política”, que essa entidade interferiu ativamente no plebiscito venezuelano e que ali, em segredo, ele próprio tomou decisões de governo junto com Chávez, Fidel Castro e outros líderes esquerdistas, sem dar ciência disto ao Parlamento ou à opinião pública.

·        9 de abril de 2006: o chefe da Delegacia de Entorpecentes da PF do Rio, Vítor Santos, informa ao jornal O Dia que “dezoito traficantes da facção criminosa Comando Vermelho — entre eles pelo menos um da Favela do Jacarezinho e outro do Morro da Mangueira — vão periodicamente à fronteira do Brasil com a Colômbia para comprar cocaína diretamente com guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Os bandidos são alvo de investigação da Polícia Federal. Eles ocuparam o espaço que já foi exclusivo de Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar”.

·        12 de maio de 2006: o PCC em São Paulo lança ataques que espalham o terror entre a população. Em 27 de dezembro é a vez do Comando Vermelho fazer o mesmo no Rio de Janeiro.

·        18 de julho de 2006: o Supremo Tribunal Federal, sob a pressão de um vasto movimento político orquestrado pelo PT, concede asilo político ao falso padre Olivério Medina, agente das Farc.

·        16 de maio de 2007: o juiz Odilon de Oliveira, de Ponta-Porã, divulga provas de que as Farc atuam no território nacional treinando bandidos do PCC e do Comando Vermelho em técnicas de guerrilha urbana.

·        12 de fevereiro de 2007: as Farc fazem os maiores elogios ao PT por ter salvo da extinção o movimento comunista latino-americano por meio da fundação do Foro de São Paulo.

·        Agosto de 2007: Nos vídeos preparatórios ao seu 3º. Congresso, o PT admite que seu objetivo é eliminar o capitalismo e implantar no Brasil um regime socialista; e fornece ainda um segundo desmentido à nota de Giancarlo Summa, ao confessar que o Foro de São Paulo é “um espaço de articulação estratégica” (sic).

·        19 de setembro de 2007: Lula oferece o território brasileiro como sede para um encontro entre Hugo Chávez e os comandantes das Farc.

Entre esses fatos ocorreram outros inumeráveis cuja data não recordo precisamente no momento, entre os quais o fornecimento maciço de armas às Farc pelo governo Hugo Chávez, uma campanha nacional de mídia para desmoralizar o analista estratégico americano Constantine Menges que divulgava a existência de um eixo Lula-Castro-Chávez-Farc, os tiroteios entre guerrilheiros das Farc e soldados do Exército brasileiro na Amazônia, as denúncias de que as Farc davam treinamento em guerrilha urbana aos militantes do MST e, é claro, várias assembléias gerais e reuniões de grupos de trabalho do Foro de São Paulo.

A existência de uma ligação profunda, constante e solidária entre o PT e as Farc é um fato tão bem comprovado, que quem quer que insista em negá-la só pode ser parte interessada na manutenção do segredo ou então um mentecapto incurável.

Também não me parece possível ocultar a evidência de que essa ligação não é só bilateral, mas envolve, em maior ou menor grau, todas as entidades participantes do Foro de São Paulo, a maior organização política do continente, da qual as Farc e movimentos similares constituem os diversos braços armados, atuando em torno e dentro do território brasileiro sob a proteção do nosso governo federal, chefiado, como se sabe, pelo próprio fundador do Foro de São Paulo.

Não me perguntem como e por que fatos dessa magnitude nunca foram objeto de uma CPI, nem sequer de um breve debate no Congresso, muito menos de algum esforço de reportagem da parte de uma mídia que se gaba de ser tão afeita a investigações perigosas.

As explicações são muitas – espírito de traição, testemunhas que desaparecem, dinheiro que rola, cumplicidade, oportunismo, covardia, estupidez – e nem vale a pena repassá-las. Mas há uma que, pelo pitoresco, deve ser aqui registrada.

O vício dos cursos de auto-ajuda, pagos a peso de ouro e valorizados mais por isso do que por qualquer resultado comprovado, infundiu na classe dominante brasileira uma fé sem limites no poder do pensamento positivo. Muita gente nas altas rodas acredita piamente que, se você repetir com perseverança o mantra “O comunismo acabou”, o movimento comunista terá cessado de existir. Acredita até que, diante de sujeitos que se declaram abertamente comunistas, como os srs. Aldo Rebelo ou Quartim de Moraes, a firme decisão de pensar que eles são outra coisa há de transformá-los nessa outra coisa.

Quanto aos indivíduos que se associam aos comunistas, participam de congressos comunistas, são tidos como comunistas fiéis pelos próprios comunistas e fazem planos para a tomada do poder continental junto com os comunistas, mas não admitem em público que são comunistas, a mera hipótese de que o sejam em segredo é repelida com desprezo ou indignação e alegada como prova de que o autor da sugestão é um perigoso extremista de direita, tão exagerado e fanático que talvez seja ele mesmo, sob camuflagem direitista, um agente provocador a serviço do comunismo internacional.

Chegamos assim à adorável conclusão de que o único comunista – ou pelo menos o único perigoso – sou eu.

Portanto, basta não me dar ouvidos, e pronto: o Brasil está a salvo da ameaça comunista. Não resta dúvida de que, nesse sentido, o Brasil tem hoje o mais vasto, organizado e poderoso front anticomunista já registrado ao longo de toda a História universal.

Em nome do crime

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 19 de setembro de 2007

Em 31 de julho de 2000 escrevi na revista Época:

A Constituição da União Soviética punia o homicídio com dez anos de cadeia, e com pena de morte os crimes contra o patrimônio do Estado… Sob a inspiração de intelectuais alucinados, a escala de valores da Constituição soviética tornou-se o modelo da atitude brasileira perante a criminalidade: ódio e perseguição implacável aos que desviam dinheiro público, passividade atônita e paternal complacência ante os assassinos e quadrilheiros armados.”

Que é que mudou desde então?  Muita coisa. Na época, a elite política esquerdista era a personificação mais vistosa e barulhenta do moralismo acusatório. Era ela que ligava os megafones da mídia, era ela que manipulava os repórteres, transformando suspeitas em notícias e depois usando as notícias como pretextos para abrir CPIs. Era ela que trazia as massas para a rua, exigindo cabeças. Foi ela que criou a maior farsa cívica da história nacional, induzindo o eleitorado a expulsar da presidência, entre lágrimas de comoção patriótica e explosões de grandiloqüência parlamentar, um homem que depois, tarde demais, a Justiça provou ser totalmente inocente.

 Hoje em dia, é ela própria o alvo das denúncias – bem mais graves e incomparavelmente mais sólidas do que aquelas que ela inventou contra Collor de Melo.

 É uma mudança radical, um giro de cento e oitenta graus na rota da massa fecal voadora.

Mas, em primeiro lugar, é uma mudança tardia. No começo dos anos 90, quando o PT vociferava nas CPIs contra a sociedade imoral, ele já ia construindo, discretamente, sua própria máquina de corrupção, incomparavelmente maior do que aquelas que os Anões do Orçamento teriam podido sequer imaginar. Não faltou quem o denunciasse por isso, mas não obteve a audiência que merecia. A crença geral na santidade petista estava em plena ascensão, os fatos nada podiam contra ela. Não por coincidência, o personagem que então brilhava no papel de tribuno máximo da dignidade, e que o fazia com tanto mais eficiência por ser o coordenador da rede de espiões petistas infiltrados por toda parte, tornou-se depois ainda mais famoso como mentor e chefe do Mensalão. As duas operações foram obviamente simultâneas e interligadas: enaltecer a moralidade e destruí-la. Enaltecê-la para melhor destruí-la. Tudo isso podia ter sido evitado se a mídia e os políticos ditos “de direita” não tivessem feito ouvidos de mercador a Paulo de Tarso Venceslau e redobrado a aposta louca na idoneidade dos bem-falantes.

Em segundo lugar, a mudança é só na direção do ataque, não nos seus fundamentos. Os que denunciam o PT continuam a fazê-lo segundo o mesmo critério de falsa moralidade que aprenderam com ele: berram contra o desvio de dinheiro, calam-se ante os rios de sangue que a aliança macabra da esquerda com o banditismo continental faz rolar nas ruas de São Paulo e do Rio. Afetando rebeldia e inconformidade ante o partido governante, são ainda seus escravos ideológicos, incapazes de raciocinar fora do esquema mental soviético que, sem esse nome, se impregnou na cultura e se tornou senso comum. Ora, esse esquema é ainda mais criminoso do que todos os crimes, pois é ele que os gera e dissemina.

Toda a tagarelice antipetista do mundo nada poderá contra o PT enquanto não se libertar desse vício ideológico hediondo que, ao denunciar os criminosos, não sabe fazê-lo senão em nome do Império do Crime.

Excesso de delicadeza

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 17 de setembro de 2007

Ainda há quem seja otário o bastante para, observando a fidelidade conjugal que no fim das contas reina entre o governo petista e os banqueiros internacionais, concluir que os comunistas mudaram, se aburguesaram, só pensam em dinheiro e não querem mais saber de revoluções.

Não contesto o direito à ignorância, mesmo radical e completa. Mas por que raios cada um que me aparece com essa idéia cretina tem de expressá-la com ar de sabedoria paternal, como se estivesse desvelando a realidade do mundo ante a minha inexperiência juvenil?

Aos sessenta anos, boa parte dos quais dedicados ao estudo das ideologias revolucionárias, não tenho mais a obrigação de ouvir polidamente essa patacoada arrogante. Respondê-la com palavrões já é delicadeza excessiva da minha parte. O certo mesmo seriam pontapés no traseiro.

Quem quer que tenha estudado a história do movimento revolucionário sabe que comunistas e banqueiros vivem em simbiose, comprovadamente, desde há pelo menos um século. Como no Brasil ninguém estuda nada, cada um se crê no direito de anunciar como novidades explosivas as obviedades centenárias que acabam de lhe chegar aos ouvidos.

O problema é que, quando você não sabe a data das notícias que alardeia, não pode compreender o sentido delas. Se você acha que a conduta do PT prova uma mudança da mentalidade comunista, é porque imagina que os comunistas de antigamente eram diferentes, eram puros idealistas revolucionários que jamais se rebaixariam a jogar o jogo do grande capital financeiro. Então me diga: Quem eram os contatos de Trotski nos EUA quando de sua primeira viagem à América? Quem financiou a construção de toda a indústria pesada soviética, prolongando por décadas a sobrevida de um regime impossível que já nascera moribundo? Quem alimenta de dinheiro toda a esquerda americana e uma infinidadade de movimentos anti-americanos no mundo inteiro? Quem salvou da debacle o Partido Comunista chinês, fomentando do exterior a recuperação de uma economia que até então só crescia em número de mortes por desnutrição?

Se os comunistas deixassem de ser comunistas cada vez que vão para um motel trocar afagos com banqueiros, Lênin teria entrado para a História como comandante do Exército da Salvação.

O caso de amor entre esses dois tipos de criaturas aparentemente incompatíveis tornou-se ainda mais intenso desde que, na década de 20, os teóricos marxistas mais avisados – Georg Lukacs, os frankfurtianos e Antonio Gramsci – saíram gritando que o inimigo primordial a ser destruído não era a economia capitalista, mas “a civilização judaico-cristã”. O programa traçado por eles, que na época parecia distante das preocupações imediatas do militante comunista vulgar (e até agora não chegou ao conhecimento dos idiotas acima referidos), está hoje sendo aplicado em escala planetária, e sua implementação acelerada reflete a colaboração estreita entre o grande capital financeiro e a rede global de organizações comunistas – os dois braços da revolução mundial. Abortismo, desarmamento civil, sex-lib , feminismo, gayzismo, criminalização da moral religiosa, controle estatal da vida privada e tópicos similares são hoje infinitamente mais importantes para a estratégia revolucionária do que as divergências estereotipadas entre políticas econômicas “populistas” e “elitistas” (ou “progressistas” e “neoliberais”). Onde essas divergências monopolizam o espaço das discussões públicas, como acontece no Brasil, é precisamente porque servem para camuflar o essencial, para expulsar da vida pública o conservadorismo genuíno fundado em valores morais e religiosos e para dividir todo o espaço político e cultural entre a esquerda e uma “direita” postiça, criada especialmente para isso, uma articulada à outra de tal modo que, seja pela via

“populista” ou “elitista”, indiferentemente, a mutação revolucionária do mundo continue avançando.

A pessoa mesma do sr. Luís Inácio Lula da Silva, homenageada simultaneamente em Davos por sua conversão à economia de mercado e no Foro de São Paulo por sua fidelidade inalterável ao comunismo, é o símbolo vivo desse acordo essencial, mas os tagarelas que falam dela o dia inteiro, para louvá-la ou para maldizê-la, parece que não enxergam de maneira alguma a identidade do personagem. Também não enxergam, por isso mesmo, a natureza traiçoeira e cúmplice de uma “oposição” que só combate o petismo no campo das discussões econômicas e das cobranças moralistas, abstendo-se de toda crítica ideológica e de toda menção à estratégia comunista maior por trás de tudo; oposição que, uma vez no poder, faz avançar a mutação social e cultural revolucionária em velocidade ainda maior do que poderiam fazê-lo os próprios petistas.

Não por coincidência, mas por um cálculo psicológico muito preciso, cada nova regra “politicamente correta” que se incorpora aos hábitos sociais perde imediatamente sua aparência comunista originária, de modo que os milhões de trouxas submetidos à sua jurisdição se sentem cada vez mais distantes do perigo comunista quanto mais se adaptam ao tipo de cultura revolucionária concebido por Lukacs e Gramsci. É precisamente o que este último chamava de “autoridade invisível e onipresente” do Partido Príncipe. Nunca a palavra “subversão” descreveu tão adequadamente uma estratégia. É a inversão desde baixo, ou, como a chamava Walther Rathenau, a “invasão vertical dos bárbaros”. Enquanto o poder do grande capital permanece intacto, ou até se fortalece, a “revolução cultural” vai invertendo um a um todos os critérios da razão, da moral, do direito, criando em torno de nós uma infinidade de controles sociais opressivos e absurdos que parecem inventados pessoalmente pela Rainha de Copas. E tudo realizado de maneira indolor, insensível. Dentro de poucos anos, o sujeito ser preso por ler em voz alta certos versículos da Bíblia será considerado a coisa mais natural do mundo, e quem quer que diga que a perseguição anti-religiosa é a realização de um velho plano comunista será tido por louco. Perdão: isso não acontecerá dentro de alguns anos. Já está acontecendo agora.

Do ponto de vista econômico, a unidade do processo revolucionário em curso pode ser resumida da seguinte maneira. Pelo menos desde Stálin nenhum economista marxista acredita em estatização total da economia. Todos sabem que um vasto resíduo de economia de mercado é impossível de eliminar. O máximo que se pode fazer, para perseverar na linha de controle estatal concebida por Marx, é concentrar ao máximo o capital e ao mesmo tempo atrelar seus interesses aos de uma elite governante que por sua vez concentre o máximo de poder político. Ora, quem pode estar mais interessado em concentração do capítal do que os concentradores de capital por antonomásia, isto é, os banqueiros internacionais? E quem pode desejar mais concentração de poder político do que os concentradores compulsivos de poder político, isto é, os partidos comunistas? A via da colaboração entre comunistas e monopolistas foi portanto aberta pelo próprio curso natural das coisas, e por esse canal vem fluindo a história do mundo desde há muitas décadas, ante os olhos cegos da multidão – incluídos nela quase todos os “formadores de opinião”, consultores empresariais, analistas estratégicos e demais pessoas iluminadas cujos pareceres custam em geral uns dez mil dólares por hora.

A fusão tornou-se ainda mais acelerada desde que o movimento comunista, graças ao narcotráfico, à exploração genial dos fundos de pensão, ao apoio dos países árabes, à rede de ONGs ativistas que sugam verbas de todos os governos do mundo e às quantias mastodônticas de dinheiro injetadas discretamente na economia ocidental pela KGB desde os tempos de Gorbachov, se tornou ele próprio tão rico quanto a elite bancária, negociando com ela de igual para igual e tendo com ela uma vasta e nebulosa área de interesses comuns onde se tornam praticamente indiscerníveis.

As vítimas do processo são a economia liberal genuína, os valores civilizacionais milenares, a liberdade individual e a consciência religiosa, estranguladas sob controles estatais cada vez mais abrangentes e opressivos, sempre sob as desculpas edificantes da modernização, do interesse público, da proteção ambiental, da eficiência administrativa e — é claro, porca miséria — dos direitos civis. Mas a maior vítima de todas é a inteligência humana, que de tanto ser desviada, ludibriada, anestesiada, vai perdendo vigor a cada dia e se adaptando a um estado crepuscular de obnubilação e semiconsciência.

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