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Segredos e mentiras sem fim

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 4 de novembro de 2008

O juiz federal Richard Barclay Surrick rejeitou o pedido do advogado democrata Philip J. Berg para que intimasse Barack Hussein Obama a apresentar sua certidão de nascimento original. A sentença baseou-se em dois argumentos: (1) pela lei americana, nada autoriza o simples eleitor a questionar a elegibilidade de um candidato presidencial; (2) Berg peticionou como simples eleitor, não como vítima, já que não comprovou qualquer dano pessoal sofrido em razão da candidatura Obama.

A Constituição americana determina que só cidadãos americanos natos têm o direito de concorrer à presidência, mas esse permanece um direito sem garantia nenhuma: por incrível que pareça, não há nenhuma instituição incumbida de exigir prova de nacionalidade dos candidatos. Se ao simples eleitor é também negado esse direito, aquele artigo da Constituição está virtualmente revogado.

Berg anunciou que vai recorrer à Suprema Corte: “O que está em questão é saber quem tem legitimidade para impor a obediência à Constituição. Se eu não tenho, se você não tem, se o seu vizinho não tem legitimidade para questionar a elegibilidade de um indivíduo à presidência dos EUA, então quem tem? Assim qualquer um pode simplesmente se afirmar elegível para o Congresso ou para a presidência sem que ninguém possa questionar o seu estatuto legal, a sua idade ou a sua cidadania.”

Enquanto isso, todos os canais possíveis para se averiguar a nacionalidade de Obama estão meticulosamente bloqueados. A governadora do Havaí, Linda Lingle, colocou a certidão de nascimento dele sob guarda do Estado, para que ninguém tivesse acesso ao documento sem autorização do próprio Obama ou de seus familiares. O mesmo fez o governo do Quênia com todo e qualquer documento referente a Obama, logo após expulsar do território queniano o repórter Jerome Corsi que estava ali investigando as atividades do candidato em prol do genocida Raila Odinga.

Obama pessoalmente proibiu que todas as entidades detentoras de seus documentos os divulgassem sob qualquer maneira que fosse. Eis a lista dos papéis que permanecem secretos (v. NewsMax.com):

1) Registros médicos.

2) Correspondência enviada e recebida pelo seu gabinete no Senado.

3) Agenda dos encontros e demais compromissos atendidos por ele no Senado.

4) Lista dos clientes do seu escritorio de advocacia e recibos dos respectivos pagamentos.

5) Histórico escolar do Occidental College, onde ele estudou por dois anos.

6) Histórico de seus estudos na Columbia University.

7) Histórico de seus estudos na Faculdade de Direito de Harvard.

8) Sua tese de doutoramento em Columbia.

9) Seu comprovante de registro na Ordem dos Advogados de Illinois.

10) Lista dos clientes que ele representou como advogado na firma Davis, Miner, Barnhill & Gallard (solicitado a apresentá-la, Obama forneceu em vez disso a lista de todos os clientes da firma, tornando impossível saber quais ele representava pessoalmente).

11) Lista das contribuições de menos de duzentos dólares oferecidas à sua campanha (essas contribuições somam mais de 63 milhões de dólares e, segundo repórteres que puderam espiar por instantes algumas páginas da lista no escritório de Obama, incluem doadores como Fred Simpson, Mickey Mouse e Family Guy).

12) Certidão de nascimento original ou cópia autenticada.

Não é preciso dizer que nenhum outro candidato presidencial jamais negou ao público os documentos equivalentes. O bloqueio torna-se ainda mais suspeito porque vários pontos essenciais da biografia de Obama estão cheios de contradições.

1) Sua avó paterna assegura que estava presente na sala de parto quando ele nasceu num hospital em Mombasa, Quênia. Ele assegura que nasceu em Honolulu, Havaí, mas ele e sua irmã dão os nomes de dois hospitais diferentes onde isso teria acontecido.

2) Ele viajou para o Paquistão quando a entrada de americanos era proibida nesse país. Usou portanto um passaporte estrangeiro, quase certamente o da Indonésia, onde ele viveu e estudou numa época em que, estando o país em guerra, só crianças de nacionalidade indonésia eram aceitas nas escolas. Mais ainda, a lei indonésia não aceitava dupla nacionalidade, de modo que para Obama tornar-se cidadão indonésio ele teve de renunciar (por meio de seu pai) à nacionalidade americana, só podendo portanto voltar aos EUA como imigrante.

3) Obama afirmou várias vezes que jamais pertencera a um partido socialista. Os documentos do New Party provam que ele mentiu (v. AmericanThinker.com).

4) Obama disse que não tinha qualquer ligação com a Acorn, ONG responsável pela maior derrama de títulos de eleitor falsos já ocorrida nos EUA. Documentos e vídeos da Acorn provam que ele mentiu (v. NationalReview.com,www.youtube.com/watch?v=8vJcVgJhNaU e www.youtube.com/watch?v=7NmaZIdz6Vo).

5) Obama disse que não tivera nenhuma conexão política com o terrorista William Ayers. Documentos liberados pela Universidade de Illinois provam que ambos trabalharam juntos em projetos destinados a subsidiar organizações esquerdistas (v. MichelleMalkin.com).

6) Ele disse que jamais soubera das idéias políticas do pastor Jeremiah Wright, mas como é possível ouvir todas as semanas durante vinte anos as pregações de um pastor que praticamente só fala de política, sem ficar sabendo do que ele pensa a respeito?

Além das mentiras patentes, há os fatos nebulosos e mal explicados. Como Obama conseguiu viajar para o Paquistão quando a entrada de americanos era proibida no país? Por que ele jamais contou que é primo de Raila Odinga nem admite divulgar os documentos das atividades que desempenhou em favor desse assassino? Por que o agitador racista Khalid al-Mansour pagou os estudos de Obama em Harvard? Como pode Obama afirmar que não foi educado numa família muçulmana, se os documentos mostram que até numa escola católica, na Indonésia, ele se registrou como muçulmano? Por que, ao saber que alguém abrira um processo no Havaí solicitando a divulgação da sua certidão de nascimento, Obama repentinamente se lembrou de que sua avó estava doente em Honolulu – uma semana depois de ela ter saído do hospital – e, correndo para visitá-la sob a alegação de que talvez fosse sua última oportunidade de encontrá-la com vida, não levou junto a mulher e os filhos mas uma equipe de advogados?

Para completar, há uma quantidade estonteante de pequenas mentiras, todas proferidas com aquela desenvoltura que, nos mitômanos, substitui a sinceridade, às vezes com vantagem: a história do tio que libertou os prisioneiros de Auschwitz (as tropas americanas nunca entraram lá), o pai pastor de cabras (só se as criou no escritório onde trabalhava), a balela de que jamais aceitou contribuições de companhias de petróleo (esqueceu a Exxon e a Shell), a conversa mole de que foi membro do Comitê de Bancos do Senado (jamais esteve lá), etc. etc. A coisa não tem mais fim. É alucinante (v. http://theobamafile.com/ObamaLies.htm).

São só alguns exemplos, colhidos a esmo entre centenas. Nenhum desses fatos foi jamais eficazmente contestado, nem as perguntas daí decorrentes respondidas por quem quer que fosse. No entanto, qualquer dúvida quanto à nacionalidade de Obama ou à autenticidade da sua biografia de campanha é instantaneamente rotulada de “teoria da conspiração” e impugnada como absurda pela grande mídia em peso, como se esta mesma não ignorasse as respostas tanto quanto as ignora o resto da população.

Jamais, na história americana, um candidato presidencial com uma conduta tão nebulosa, extravagante e suspeita teve segredos tão bem guardados quanto os de Barack Obama, nem tanta gente importante empenhada em resguardar seu direito de guardá-los. A privacidade de Obama – a privacidade de um homem público – está acima da própria Constituição americana. Acreditar em Obama sem provas tornou-se obrigação incontornável, e questionar essa obrigação é sinal de racismo.

Tal como no Brasil uma gigantesca operação-sumiço elegeu e reelegeu Lula impedindo que a população soubesse de suas atividades no Foro de São Paulo, um esquema de ocultação mais vasto ainda foi montado para eleger Barack Obama. Com notável hipocrisia os esquerdistas de ambos os países clamam contra a “crescente concentração da mídia”, na verdade uma bênção para eles, sem qual jamais teriam podido bloquear o acesso às notícias que vão contra o seu interesse.

No caso de Obama, o quadro da mais notável fraude eleitoral de todos os tempos é completado pela chantagem racial, pela distribuição maciça de títulos de eleitor falsos e pelo uso generalizado da intimidação e da agressão moral e física que transforma esta eleição americana numa palhaçada de Terceiro Mundo (vejam: TimesOnline, Breitbart.tv, HeraldOnline.com,InYork e WorldNetDaily.com).

O candidato do medo

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 24 de outubro de 2008

Chamado de “Messias” pelo líder radical muçulmano Louis Farrakhan e de “Meu Jesus” pela editora-chefe de um jornal universitário, Barack Hussein Obama informa: “Contrariamente ao que diz a opinião popular, não nasci numa manjedoura.” Já pensaram se ele não avisasse?

Qualquer que seja o caso, pelo menos um milagre confirmado ele já fez: é o primeiro candidato presidencial que obtém o aplauso de todos os inimigos dos EUA sem que isto desperte contra ele a menor desconfiança do establishment americano. Entre seus entusiastas, contam-se o Hamas, o presidente iraniano Ahmadinejad, Muammar Khadafi, Fidel Castro, Hugo Chávez e o canal de TV Al-Jazeera. Imagino o que aconteceria à candidatura de Franklin D. Roosevelt em 1932 se ele recebesse o apoio ostensivo de Josef Stalin, Adolf Hitler e Benito Mussolini.

É verdade que Obama promete desmantelar o sistema de defesa espacial dos EUA, desacelerar unilateralmente o programa americano de pesquisas nucleares, transformar em derrota a vitória no Iraque, vetar a abertura de poços de petróleo e oferecer carteiras de motorista e assistência médica gratuita aos imigrantes ilegais, aquele povinho patriota que quer transformar o Texas e a Califórnia em Estados mexicanos. Mas, se você insinua que qualquer dessas coisas é um bom motivo para os comunistas e radicais islâmicos gostarem dele, a mídia em peso diz que você “passou dos limites” e é virtualmente culpado de “crime de ódio”. Ahmadinejad declarou que a vitória do candidato democrata nas eleições dará o sinal verde para a islamização do mundo, Khadafi proclamou que Obama é um muçulmano fiel apoiado por milionários islamitas e Louis Farrakhan, aproveitando a onda de entusiasmo obamista, anunciou que a “Nation of Islam”, a sociedade secreta de radicais islâmicos que ele preside, há décadas funcionando em marcha lenta, está tendo “um novo começo” e logo estará operando de novo com força total. O sentido desses fatos é claro, mas notar isso é imoral: todo cidadão de respeito tem de jurar que o apoio vindo dos inimigos da América é apenas um equívoco da parte deles, já que Obama não lhes deu – oh, não! – o menor pretexto para que simpatizassem com ele. Insinuar qualquer convergência de interesses é imputar a Obama “culpa por associação” – uma perfídia carregada, evidentemente, de “subtons racistas”.

Qualquer palavra mais dura contra o candidato negro é aliás apontada como prova de racismo, e a mínima sugestão de que haja nisso alguma chantagem racial é prova dupla. O próprio John McCain faz questão de manter o debate na esfera “das idéias”, frisando que o oponente é “um homem decente, do qual não há nada a temer.”

Essa declaração é involuntariamente irônica. A coisa que todo americano mais teme, hoje em dia, é alguém suspeitar que ele pensa mal de Barack Hussein Obama. Seguindo o exemplo do líder, a militância republicana capricha nas exibições de respeito e veneração à pessoa do adversário. Um funcionário do escritório da campanha de McCain em Pompano Beach, CA, que colocou atrás de sua mesa um cartaz associando Obama a Marx e Hitler foi instantaneamente demitido. Um cidadão do Estado de Ohio, que fez umas perguntas mais duras ao candidato democrata sobre seu projeto de reforma fiscal, pagou caro pelo atrevimento. Teve sua vida particular vasculhada pelos repórteres e foi severamente criticado pelos crimes hediondos de trabalhar como encanador sem licença e de não ter pago uma multa de trânsito que recebeu no Arizona oito anos atrás. Isso dá uma idéia do zelo exasperado com que a grande mídia protege a imagem de Barack Obama. Samuel Wurzelbacher, ou “Joe Encanador” – o apelido pelo qual veio a ser nacionalmente conhecido –, tira da sua experiência a conclusão incontornável: “Quando você já não pode mais fazer perguntas a seus líderes, é uma coisa temível.”

O temor não é somente psicológico. Vários militantes republicanos já foram surrados por obamistas, escritórios da campanha McCain em vários Estados foram invadidos e destruídos, e só a ação da polícia impediu, a tempo, que centenas de agitadores obamistas bem treinados, armados de coquetéis Molotov, queimassem os ônibus que se dirigiam à Convenção Republicana em St. Paul (mesmo assim os remanescentes conseguiram fazer um belo estrago). Quando um candidato usa de métodos terroristas e ao mesmo tempo o establishment decreta que chamá-lo de terrorista é o suprassumo da demência, está claro que esse candidato tem direitos ilimitados. Ele pode receber 63 milhões de dólares em contribuições ilegais do exterior, e nada de mau lhe acontecerá por isso. Uma ONG que o apadrinha pode fazer uma derrama de títulos de eleitor falsos em treze Estados, e ai de quem sugira que ele tem alguma culpa no caso. Em compensação, McCain foi acusado de violência verbal criminosa pelo simples fato de mencionar a ligação arquicomprovada de Obama com William Ayers. Uma passeata em favor de McCain-Palin, em Nova York, foi recebida com toda sorte de xingamentos e ameaças. Como, em contrapartida, nenhuma violência se observasse contra os militantes obamistas, foi preciso inventar que, num comício de Sarah Palin, alguém gritou “Kill him!” ao ouvir o nome de Obama. A polícia examinou cuidadosamente as gravações do encontro e concluiu que ninguém gritou nada disso.

Outro fator intimidante é a superioridade econômica. A campanha de Obama recolheu nada menos de 605 milhões de dólares em contribuições. Para cada anúncio de McCain, saem quatro de Obama. Mais avassaladora ainda é a propaganda gratuita fornecida ao candidato democrata pela grande mídia.

Até o momento, o único jornal de certa importância que noticiou o processo movido pelo advogado democrata Philip Berg contra Obama foi o Washington Times – nominalmente republicano –, que no entanto classifica as dúvidas quanto à nacionalidade de Obama como meros “rumores da internet” e, aludindo ao processo só nas linhas finais, como se fosse apenas um rumor a mais, se omite de informar que Obama, em vez de apresentar sua certidão de nascimento como solicitado pelo queixoso, preferiu lançar mão de uma complexa argumentação jurídica para se esquivar de fazê-lo. O segundo processo no mesmo sentido, aberto no Estado de Washington, não é nem mencionado.

As maiores empresas de jornais e canais de TV protegem o candidato democrata não somente contra seus adversários, mas contra ele próprio. Atos ou declarações dele que possam mostrá-lo a uma luz desfavorável são cuidadosamente omitidos. Em toda a grande mídia americana não se encontrará uma só palavra sobre a longa carreira de Obama como militante abortista, muito menos sobre a única atividade importante desenvolvida por ele no plano internacional: a campanha montada, com dinheiro público, para elevar ao poder no Quênia o agitador anti-americano e pró-terrorista Raila Odinga, culpado de ordenar o assassinato de mais de mil de seus opositores políticos e de conspirar com líderes muçulmanos para impingir a religião islâmica a uma nação de maioria cristã. Obama não somente ajudou Odinga com dinheiro dos contribuintes americanos e abriu contatos para ele no Senado, mas fez comícios em favor dele no Quênia. Se algo mostra a verdadeira natureza dos compromissos internacionais do candidato democrata, é esse episódio – mas até a FoxNewsse omite de tocar no assunto.

Por aqui, todo mundo diz que a vitória de Obama é certa. A mim me parece que, mesmo se perdesse as eleições, Obama seria um vencedor. O partido de seus adversários já estava de joelhos no momento em que, em vez de um conservador autêntico, escolheu como candidato um típico “liberal republican”, promessa garantida, caso eleito, de um governo fraco, subserviente aos críticos, exatamente como o foi o de George W. Bush. A esse primeiro desatino seguiu-se outro pior: a partir do instante em que os republicanos, em vez de abrir mil processos como o de Philip Berg, aceitaram como adversário eleitoral legítimo e decente um candidato sem nacionalidade comprovada, com uma biografia nebulosa e repleta de mentiras flagrantes, ajudado e subsidiado pelos mais odientos inimigos do país, ficou claro que haviam abdicado de todo sentimento de honra e consentido em legitimar uma farsa. Se perderem as eleições, eles merecerão tantas lágrimas quanto aqueles que preferiram antes deixar Lula conquistar a presidência do Brasil do que contar o que sabiam sobre o Foro de São Paulo.

Quanto à campanha de Obama, seu perfil é claro. O amálgama de promessas utópicas, propaganda avassaladora, beatificação psicótica do líder, apelo racial, controle da mídia e intimidação sistemática do eleitorado é idêntico nos mínimos detalhes à estratégia eleitoral de Hitler em 1933, mas para dizer isso em público – ou mesmo conscientizá-lo em voz baixa – é preciso mais coragem do que se pode esperar do eleitor médio hoje em dia.

Má pessoa e mau presságio

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 17 de outubro de 2008

George F. Will, um dos mais renomados colunistas do campo conservador, não está satisfeito com a tônica da campanha republicana, segundo a qual “não são tanto as idéias de Obama que são ruins – ele é que é má pessoa”.

No instante em que milhões de americanos estão sendo lesados nas suas contas de aposentadoria, afirma Will no seu artigo do dia 9 no Washington Post, “o esforço de McCain-Palin para fazer o eleitorado focar os olhos nas ligações que Obama teve em Chicago parece surrealista”.

O argumento não difere muito do de E. J. Dionne – um obamista – que comentei dias atrás: o público não quer saber do passado dos candidatos, mas de como eles vão governar o país e resolver os problemas do presente. No fundo, ambos os colunistas apóiam-se numa regra de etiqueta – um lugar-comum da retórica tradicional – segundo a qual debates devem concentrar-se em idéias e deixar intactas as pessoas.

Mas lugares-comuns são argumentos padronizados aplicáveis a uma multiplicidade de situações diversas, cuja diferença específica, por isso mesmo, lhes escapa. Uma idéia só pode ser discutida “em si mesma”, sem menções à pessoa do seu emitente, quando sua formulação é intelectualmente completa o bastante para garantir que ela não muda de significado quando troca de porta-voz ou de contexto. Isso só acontece com teorias científicas e filosóficas altamente abstratas. Com opiniões de políticos, jamais. A rigor, o único sentido que uma declaração de palanque pode ter é a história pregressa do seu emitente, que ela prolonga e esclarece no contexto atual, com graus variados de coerência e credibilidade conforme a situação. Quando Fidel Castro disse: “Jamais fomos comunistas”, ele era um novato na cena política, ansioso por atrair as simpatias do mundo. Quando ele declarou mais tarde: “Sempre fomos marxistas-leninistas”, era já um ditador consagrado, seguro do apoio soviético. A primeira declaração foi apenas uma captatio benevolentiae, a segunda a proclamação oficial de uma aliança efetivamente existente.

A necessidade de referir as palavras à pessoa que as profere torna-se ainda mais patente numa disputa eleitoral, quando não se trata de escolher entre idéias abstratas, mas de preencher um cargo: cargos não são ocupados por idéias, mas por pessoas. Uma vez empossado, o candidato vencedor pode mudar de idéia, mas não de caráter. As propostas de governo que ele apresente durante a campanha não são teorias que possam ser julgadas em si mesmas, porém indícios do seu caráter e da sua capacidade – indícios que, precisamente, só podem ser avaliados em função do seu passado.

Em terceiro lugar, as associações que um político tenha forjado ao longo da sua carreira não são detalhes externos que em nada afetem a hipotética pureza das suas convicções pessoais: são a substância mesma do esquema de poder que lhe dá sustentação política e financeira e cujos anseios e interesses pesarão muito mais sobre a conduta dele no cargo do que as meras idéias que ele possa ter na cabeça, idéias que, se vierem a se opor aos ditames do esquema, só condenarão seu agente ao isolamento e ao fracasso.

No caso de Obama, examinar a pessoa, o passado e as associações torna-se ainda mais obrigatório por dois motivos incontornáveis:

Primeiro: Seu discurso de campanha contrasta de tal maneira com todas as suas ações e palavras anteriores, que ninguém pode votar nele com consciência de causa sem ter primeiro esclarecido se ele mudou de idéia sinceramente ou se o novo make-up com que ele se apresenta é apenas um disfarce. Muitos adeptos de Obama – e alguns dos mais entusiásticos entre eles, como por exemplo Louis Farrakhan (v. http://www.wnd.com/index.php?fa=PAGE.view&pageId=77539) – não escondem que lhe dão apoio precisamente em razão das idéias radicais que ele defendeu outrora (e daquelas mesmas associações comprometedoras que agora ele nega), e não do seu discurso moderado de hoje, que aceitam apenas como concessão tática provisória. Alguém no campo obamista deve estar enganado a respeito do seu candidato: ou os que o aplaudem por ser um esquerdista fanático, pró-terrorista e anti-americano (como o indicam seus votos no Senado e suas ligações com William Ayers, Raila Odinga, Jeremy Wright, Louis Farrakhan e similares), ou os que confiam nele por ser moderado e patriota como seu discurso eleitoral sugere. Os dois lados não podem ter razão ao mesmo tempo. Fugir dessa questão e concentrar o debate tão-somente no conteúdo do discurso eleitoral em si é fazer desse discurso um fetiche hipnótico em vez de tentar compreendê-lo no seu sentido real e concreto.

Segundo: Obama é um recém-chegado, sua carreira política a mais curta e sua biografia a mais obscura e duvidosa que um candidato à presidência americana já apresentou ao público. O próprio Obama não faz o menor esforço para esclarecer seu passado, antes busca encobri-lo por meio de subterfúgios e mentiras já várias vezes desmascaradas. Por exemplo, ele disse que jamais militou num partido socialista: já apareceram as provas de que militou em dois (v. http://newsbusters.org/blogs/p-j-gladnick/2008/10/08/will-msm-report-obama-membership-socialist-new-party). Ele disse que mal conhecia William Ayers: já está claro que foi nomeado por Ayers para a ONG Chicago Annenberg Challenge e ambos juntos arrecadaram um bocado de dinheiro para organizações esquerdistas.

Essa conduta já é suspeita o bastante, mas o respaldo solícito que ela recebe uniformemente da grande mídia chega a ser assustador, denotando uma fraude jornalística geral e organizada, muito mais temível, pelo alcance universal das suas conseqüências, do que a ocultação da existência do Foro de São Paulo pela mídia brasileira (se eu não tivesse visto este último episódio com os olhos da cara não acreditaria no que eles estão me mostrando agora).

Episódios essenciais, não só da biografia pessoal de Obama, mas da sua militância política, são omitidos sistematicamente pelos jornais e pela TV ou só saem em versão expurgadíssima, higienizada e embelezada, contrastando com a espetaculosa exibição dos menores detalhes íntimos da vida da família Palin, apresentados sempre com vagas insinuações de escândalo precisamente porque em si mesmos nada têm de escandaloso ou relevante. Alguns daqueles episódios, bastante recentes aliás, de 2006 e 2007, mostram um Obama tão diferente daquele que aparece nos debates, que nenhum observador isento pode deixar de notar o contraste e perguntar se a imagem de bom menino veiculada pela propaganda eleitoral do candidato, com a ajuda cúmplice da grande mídia, não é antes uma farsa sinistra destinada a colocar na presidência dos EUA, sob pretextos calmantes, um revolucionário odiento e pelo menos tão anti-americano quanto Hugo Chávez e Ahmadinejad.

Pelo menos uma das faces de Obama que os eleitores americanos não conhecem é tão repugnante que, ao tomar conhecimento dela, você perde na hora todo interesse pelas “propostas de governo” que ele tenha a apresentar, e começa a se perguntar quanto o senso de moralidade dos dirigentes democratas precisou baixar para que aceitassem sepultar fatos tão essenciais e construir em cima do sepulcro a imagem integralmente postiça de um candidato confiável e tranqüilizante, do qual nada mais restasse a discutir senão suas “idéias”.

Essa face, invisível ao povo americano pelo menos até o último dia 10, quando o WorldNetDaily publicou as provas cabais da sua existência (v. http://www.wnd.com/index.php?fa=PAGE.view&pageId=77508), é a mais visível no Quênia, país onde Obama teve uma atuação política cem vezes mais decisiva, em escala local, do que jamais teve na América até o início da presente campanha eleitoral. Essa atuação consistiu em apoiar abertamente o líder queniano Raila Odinga e em tentar ]manipular em favor dele o próprio Senado americano. Odinga não é só um notório comunista e agitador anti-americano. É culpado de assassinato em massa. Em 2007, tendo perdido as eleições para presidente, ele desencadeou uma onda de violência, dirigida especialmente contra cristãos, mandando queimar mais de oitocentas igrejas, algumas com gente dentro, matando mais de mil pessoas e expulsando de suas casas aproximadamente quinhentas mil. A matança só parou quando Odinga foi nomeado primeiro-ministro. Obama não lhe negou apoio antes, durante ou depois desses acontecimentos.

Will e Dionne chamariam isso de “velhas ligações do tempo de Chicago”? Diriam que responsabilizar Obama por suas próprias ações em favor de Odinga é “inculpação por associação”, “insulto pessoal”, argumentum ad hominem? Achariam “surrealista” que alguém visse nessas ações um indício mais significativo da índole política e do caráter de Barack Hussein Obama do que suas promessas de campanha?

Não sei, mas sei o que eu diria no lugar deles: o destino que Obama prenuncia para a América não está nas suas promessas de futuro, mas nos fatos do seu passado.

Não chega a ser maravilhoso que um político tão enfatuado das suas “raízes africanas” se esmere tanto em esconder o mais importante episódio africano da sua biografia, que até hoje lhe rende a gratidão e o respeito dos seguidores de Odinga, ao ponto de prenderem e expulsarem do Quênia o repórter do WorldNetDaily, Jerome Corsi, enviado ao país para investigar o que Obama andara fazendo por lá?

Não há mais espaço no presente artigo para expor em detalhe outros capítulos edificantes desse exemplum vitae humanae que o pastor racista Louis Farrakhan chama, literalmente, “o Messias”. Digo apenas que ter uma carreira universitária integralmente financiada por árabes anti-americanos não é “culpa por associação”; receber ajuda de campanha do estelionatário Tony Resko e depois de eleito influenciar prefeituras para que investissem nos negócios dele não é “culpa por associação”; bloquear as medidas do governo destinada a frear os abusos de Fannie Mae e depois receber 100 mil dólares em contribuições dessa empresa não é “culpa por associação”; falsificar uma certidão de nascimento e usar de manobras judiciais para escapar à exigência de mostrar um documento autêntico não é “culpa por associação”; e muito menos é “culpa por associação” militar na Acorn (aquela que de quebra distribui milhares de títulos de eleitor falsos – v. http://news.yahoo.com/s/ap/20081009/ap_on_el_ge/voter_fraud) em favor de empréstimos bancários a devedores insolventes, e depois tentar despejar na conta dessa ONG vinte por cento dos lucros obtidos pelo governo na operação de socorro montada para tapar os rombos desses mesmos empréstimos. Nada disso é “culpa por associação”, e não há nada de surrealista em querer elucidar esses fatos. Surrealista é pretender que o eleitor pode chegar a uma escolha sensata ouvindo o que um candidato diz e fechando os olhos ao que ele fez. Naturalmente, quem ache o contrário é instantaneamente acusado de racista: prova inequívoca de que a campanha de Obama não usa de chantagem racial para proteger o candidato contra a revelação de seus crimes.

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