Olavo de Carvalho
9 de dezembro de 2008
O método de leitura que se aprende nas universidades brasileiras, pelo menos no que se refere aos meus textos, consiste de três regras básicas:
1) Subordinar-me a alguma corrente ideológica, considerada da maneira mais vaga e genérica possível, e exemplificada nos seus porta-vozes mais periféricos, jamais nas suas fontes intelectuais históricas. Por exemplo, o conservadorismo americano, mas não como aparece em Russel Kirk e Richard Weaver, mas em Pat Robertson, Rush Limbaugh ou Alan Keyes.
2) Atribuir-me o que quer que algum representante dessa corrente tenha dito, de preferência alguma coisa comprometedora, manifestamente errada ou difícil de provar.
3) Dar algumas risadas e considerar-me intelectualmente liquidado.
Não estou caricaturando nem exagerando. O uso generalizado desse método pode ser comprovado documentalmente com dezenas e dezenas de exemplos. O mais recente é o jornalista Pedro Dória, celebrado nos altos círculos intelectuais brasileiros como promoter literário da ex-prostituta Bruna Surfistinha.
Seu mais recente comentário online ilumina as mentes dos leitores mediante o seguinte raciocínio:
1. Alguns adversários de Obama dizem que ele é queniano, logo, Olavo de Carvalho diz que Obama é queniano.
2. A Suprema Corte dos EUA recusou-se a reexaminar o processo aberto contra Obama, logo, está provado que ele não é queniano.
3. Portanto, Olavo de Carvalho é louco.
Com relação ao item 1, o que escrevi foi: “Não sei se Barack Hussein Obama nasceu no Quênia, no Havaí, no Rio de Janeiro ou em Serra Leoa.” (V. http://www.olavodecarvalho.org/semana/081117dce.html).
O item 2 é patentemente um non sequitur. Se a Suprema Côrte mantém a decisão do tribunal de primeira instância que se recusou a julgar a matéria do processo, então qualquer pessoa com QI superior a 12 pode compreender que a matéria não foi julgada de maneira alguma, isto é, que nenhuma das duas instâncias disse se Obama é americano, queniano ou marciano. O que ambas disseram foi que o queixoso, como eleitor comum, não tem legitimidade (standing) para abrir o processo, pois não provou ter sofrido dano pessoal com a eleição de Obama.
Pior ainda, poucos minutos depois de rejeitar o processo, a Suprema Corte marcou audiência para examinar um segundo processo que também contesta a legitimidade de Obama por falta de provas de sua nacionalidade (v, http://www.wnd.com/index.php?fa=PAGE.view&pageId=83113).
Proclamar que a Suprema Côrte endossou a nacionalidade americana de Obama é fraude jornalística da mais baixa espécie. Ainda há muitos processos similares na fila, a discussão prossegue e a própria grande mídia, que ocultou o caso enquanto pôde, já cedeu e começou a noticiá-lo.
No que diz respeito ao item 3, Olavo de Carvalho não sente nenhuma urgência de ser ou parecer normal, e acha mesmo, na sua loucura, que isso não tem nada a ver com o assunto.
Ele é tão louco que acha que a obsessão de normalidade é sintoma de insegurança neurótica, se não camuflagem de distúrbio psicótico.
Richmond, VA, 9 XII 08