Olavo de Carvalho
Diário do Comércio (editorial), 31 de março de 2006
Quando tucanos e “liberais” insistem em tentar derrubar o esquema petista mediante puras imputações criminais, abstendo-se pudicamente de fazer oposição político-ideológica, já confessam antecipadamente uma fraqueza que prenuncia desastres imensuráveis.
Se o grupo petista atualmente no poder sustenta-se no desvio sistemático de dinheiro público, a esquerda continental, da qual esse grupo não é senão um pseudópodo especialmente saliente, apóia-se num aparato muito mais vasto e temível: a narcoguerrilha das Farc, o banditismo organizado do MIR chileno e outras entidades criminosas pertencentes ao Foro de São Paulo.
A corrupção instalada no governo federal, preparada desde o começo da década de 90, é apenas uma engrenagem ínfima da máquina criminosa montada pelo movimento comunista para “reconquistar na América Latina o que foi perdido no Leste europeu”.
A concentração do ataque oposicionista em denúncias apolíticas pode parecer, no momento, um ardil inteligente, porque atrai para as trincheiras do antilulismo uma parcela da esquerda. Mas essa parcela só se volta contra os corruptos pegos com as calças na mão, queimados, indefensáveis. Por baixo, continua firmemente unida à máquina continental que os gerou. Ela só consente em juntar sua voz à gritaria moralizante porque acredita que, substituídas as peças que o escândalo tornou inutilizáveis, a máquina ganhará nova credibilidade para poder continuar delinqüindo em escala incomparavelmente maior. Como já aconteceu inúmeras vezes na História, a esquerda se subdivide para tirar proveito publicitário de seus próprios crimes, e o faz servindo-se da ajuda de adversários ingênuos e débeis. Insistindo em combater num campo limitado, mais proporcional à sua minguada coragem e à sua inteligência estratégica provinciana, esses adversários lhe entregam antecipadamente o controle do território maior.
Tucanos e liberais estão tentando vencer num jogo simulado, enquanto fogem do combate real. Quando estiverem comemorando a vitória obtida nessa brincadeira, despertarão no meio de um campo de batalha, onde já não terão de enfrentar demagogos corruptos, mas guerrilheiros e narcotraficantes furiosos.
Aí terão saudades do Mensalão.