Olavo de Carvalho
Jornal do Brasil, 03 de julho de 2008
Desde há alguns anos, Cliff Kincaid, editor do esplêndido site Accuracy in Media, vem colecionando declarações perversas, grotescas e sobretudo insultuosas proferidas por políticos, intelectuais e artistas de esquerda nos EUA. Insultuosas não só a esta ou àquela pessoa, a esta ou àquela nação, raça ou religião, mas ao próprio dom da linguagem, que não foi concedido ao homem para que criasse uma realidade postiça mediante a verbalização histriônica de seus sentimentos mais vis. Dentre esses sentimentos, destacam-se ali a recusa do elementar respeito aos recém-falecidos, o gosto sádico de caluniar a espécie humana, o desprezo pedante pelas mais singelas afeições familiares, a tendência compulsiva de intimidar e chantagear, a radical intolerância à liberdade de expressão e, last not least, o puro, o legítimo, o indisfarçado desejo de matar – tudo isso sublinhado pela presunção de infinita superioridade moral, que assim se revela, pelo contraste com a conduta documentada, um traço inconfundivelmente psicótico.
O leitor pode verificar em www.aim.org/wls. São milhares de citações, cada qual mais deprimente que a outra, nenhuma delas desmentida ou seguida de desculpas. Praticamente não há nos EUA celebridade “left-liberal” que não tenha dado sua contribuição a essa galeria de horrores, o mais direto e fidedigno retrato da alma esquerdista em todo o esplendor da sua baixeza.
Exorto os blogueiros do Brasil a reunir um mostruário nacional equivalente – necessidade vital a partir do momento em que o próprio presidente da República já não se vexa de chamar de “pervertidos” todos os que tenham objeções morais ao homossexualismo.
Mas o exemplário, para ser didático, deveria vir complementado por uma antologia dos eufemismos, rodeios e circunlóquios delicados com que a “direita”, encolhendo-se de servilismo ao ponto de quase desaparecer no subsolo, responde à brutalidade esquerdista, fingindo uma atmosfera de respeito mútuo, movendo guerra cultural assimétrica contra si própria e inventando para tal fim essa coisa extraordinária, jamais prevista nos manuais de lógica, que é a reciprocidade unilateral.
A diferença entre a direita brasileira e a americana, nesse ponto, é mínima. O pastor Pat Robertson, ao declarar que alguém devia dar cabo de um feroz inimigo do seu país, levanta contra si uma tempestade de invectivas e se humilha num pedido de desculpas. Apelos públicos ao assassinato de George W. Bush são tidos como normais, aceitáveis e até elegantes.
No Brasil, quem exerceu o direito elementar de responder ao sr. presidente da República que pervertido é ele?
Quando o sr. Ricardo Berzoini jura que invadir e queimar fazendas produtivas é “uma contribuição à democracia”, quem lhe responde que vá ser cínico naquele lugar?
Quando o sr. Luiz Mott fala de erotismo abraçado à estátua de um bebê, quem denuncia que isso é propaganda da pedofilia? Quando ele cisca cento e poucos gays dentre os 50 mil brasileiros assassinados por ano e faz disso uma “prova” de violência anti-homossexual endêmica, quem o acusa de improbidade intelectual?
Quanto o ministro da Saúde alega que milhares de mulheres morrem em abortos clandestinos e os próprios documentos do seu ministério provam que elas não passam de sete ou oito, quem o processa por essa fraude publicitária?
Até as Forças Armadas, quando acusadas de crimes imaginários, dão mau exemplo, omitindo-se de responder à calúnia com o devido processo judicial e optando pelo protesto tímido das “notas oficiais” praticamente inaudíveis.
Notem bem. Eu jamais aprovaria que se usase contra a esquerda o recurso, tão típico dela, à ênfase forçada, à autovitimização fingida, ao denuncismo histriônico. Mas o sentimento de justiça, que deve vigorar no estilo literário como em tudo o mais, exige que se chamem as coisas pelos seus nomes, o pervertido de pervertido, o mentiroso de mentiroso, o vigarista de vigarista.