José Nivaldo Cordeiro
8 de dezembro de 2001
A coluna de Clóvis Rossi na Folha de São Paulo de hoje faz algumas perguntas pertinentes, que precisam ser respondidas:
1- “Por que Luiz Inácio Lula da Silva contrai comunismo, aos olhos de certos setores da mídia e da opinião pública, sempre que aparece em alguma foto ao lado de Fidel Castro, mas não é contaminado pelas virtudes de, por exemplo, Alejandro Toledo, o presidente peruano, quando posa com este, como aconteceu quinta-feira?
Ora, Lula da Silva não precisa aparecer em foto com Fidel para ser associado ao comunismo. Nem precisaria ir mais a Cuba, tantas vezes já foi lá. O caráter comunista (socialista, para alguns) está no programa oficial de seu partido, no programa econômico recentemente divulgado, e que tive oportunidade de comentar exaustivamente nesse espaço, e nos demais escritos publicados de todas as lideranças do partido e dos seus principais intelectuais engajados. Ser do PT é uma profissão de fé no socialismo. Os fatos do dia só confirmam e reiteram o passado, conhecido por todos e que apontam para o futuro nada seguro se Lula da Silva efetivamente obtiver o poder. Quanto a Alejandro Toledo, não sabemos ainda a que veio, mas sabemos que em de três meses no poder a sua popularidade é idêntica a de Fujimori em fuga.
2- “Por que Lula é acusado, por exemplo, de omitir o passado golpista do coronel Hugo Chávez, hoje presidente da Venezuela, mas Fernando Henrique Cardoso não é acusado de ter respaldado o golpismo de Alberto Fujimori na re-reeleição para a Presidência do Peru”?
Aqui há um típico argumento sofista. Lula é importante porque postula a Presidência da República, com chances de ganhar. Fernando Henrique está passando à História e deixou de ser ator nesse processo. Não é o caso de fazer tribunal de julgamento. O eleitorado não está interessado nisso, mas sim, no porvir, do que se anuncia para o horizonte. O que FHC fez com Fujimori não tem a menor relevância para avaliar a capacidade e a coerência política de Lula da Silva. Em outras palavras, os pecados de FHC não perdoam os pecados do candidato do PT. E, diga-se de passagem, a posição de FHC (e, de resto, do Estado brasileiro com relação à re-reeleição), foi a mais correta do ponto de vistas dos interesses nacionais.
3- “Por que há um escândalo (aliás, justo) cada vez que Lula elogia Fidel, mas ninguém parece escandalizar-se com o fato de FHC, confessadamente, ter oferecido asilo para o argentino Carlos Saúl Menem quando este estava preso sob acusação de formação de quadrilha para a venda irregular de armamento”?
De novo, a erística em ação. Uma situação nada tem a ver com a outra. Menem tem lá os seus pecados, mas nada comparado a Fidel, que transformou sua Ilha em uma acampamento de prisioneiros miseráveis, praticou (há quem diga que ainda pratica) genocídio, exportou, e ainda tenta exportar, a revolução para outros países, inclusive o nosso, treinando guerrilheiros, dando recursos financeiros e materiais para a instauração de guerrilhas, e muito mais. Fidel é um perigo para a Humanidade. Menem não tem esse status. E, diga-se, a Suprema Corte daquele país já o soltou. Quando FHC fez a oferta estava alinhado com os interesses do Brasil, pois Menem e seu grupo político são relevantes na estrutura de poder da Argentina. Não houve nada de errado nisso, apenas mantivemos a tradição de dar auxílio a políticos momentaneamente em desgraça, que mais das vezes voltam a seus países na condição de primeiros mandatários. Realpolitik. E aprender com genocidas e elogiá-los mostra um a tendência não muito saudável para um aspirante a governante.
4- “Será hipocrisia ou é também má-fé”?
Nem uma coisa e nem outra. É fidelidade aos fé. Se há má-fé, esta está contida em escritos como esses, que claramente objetivam confundir o leitor e levá-lo a decisões políticas que não tomaria, se bem informado fosse.