Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 6 de fevereiro de 2007

Os militares que, segundo expliquei no meu artigo de segunda-feira, esperam livrar as Forças Armadas da máquina de difamação esquerdista fazendo delas colaboradoras voluntárias e servis do movimento revolucionário chavista, podem tirar o cavalo da chuva. Um dos mais respeitados luminares do esquerdismo nacional, João Quartim de Moraes, já avisou em entrevista ao site www.vermelho.org que “perante a memória histórica do povo brasileiro, cometeríamos a pior das infidelidades à memória de nossos mortos se consentíssemos em pagar, pelas boas relações com os militares de hoje, o preço do esquecimento dos crimes cometidos pela ditadura”. A mensagem é clara: puxem o saco vermelho o quanto queiram, os homens de farda continuarão sendo chamados de torturadores fascistas, servos do imperialismo e filhotes da ditadura, ou pelo menos serão obrigados, para demonstrar fidelidade a seus novos patrões, a designar por esses nomes os seus colegas de farda que não se mirarem nos exemplos edificantes do coronel Andrade Nery e do brigadeiro Ferolla, talvez os primeirões na fila à espera de uma oportunidade de servir sob o comando do general Hugo Chávez na grande guerra patriótica contra o imperialismo ianque.

Quartim, professor da Unicamp, é o pai espiritual e fundador do tal “Núcleo de Estudos Marxistas”, ao qual não se pode negar o mérito de ter elevado essa universidade ao nível acadêmico de uma escolinha do MST. Na ocasião em que se inventou essa geringonça, desafiei a reitoria da Unicamp a abrir, ao lado dela, um “Núcleo de Estudos Antimarxistas”, provando as intenções altamente científicas e supra-ideológicas que a instituição alegava, e que teria ademais a vantagem de poder estudar os maiores pensadores do século XX – Edmund Husserl, Karl Jaspers, Max Scheler, Xavier Zubiri, Ludwig von Mises, Eric Voegelin, Bernard Lonergan, Leszek Kolakowski e outros – em vez de ter de cingir-se a microcéfalos como Poulantzas, Régis Débray, Caio Prado Júnior, Che Guevara, Nelson Werneck Sodré, Istvan Meszaros e outros a quem os comunistas, por fidelidade partidária, consideram o nec plus ultra da inteligência humana, mesmo porque jamais estudaram nada além desses autores (mentira: na USP e talvez até na própria Unicamp os carinhas sãoo cultos que até leram na íntegra as vinte páginas de “A política como vocaçãode Max Weber, citando-as regularmente em solenidades acadêmicas, discursos presidenciais e festinhas de aniversário). A Unicamp, na época, tratou a minha sugestão com o maior desprezo, mostrando que não aceita provocações direitistas nem muito menos quer discussões de espécie alguma, exceto entre pessoas de comprovada filiação marxista. Não pude deixar de cumprimentá-la por essa demonstração de pureza ideológica, que confere a seus professores a honra insigne de continuar parecendo cultíssimos na ausência de qualquer desafio intelectual mais ameaçador.

O prof. Quartim, por exemplo, é bastante espertinho, o que constitui nos círculos marxistas o equivalente superior da inteligência humana. Ao afirmar que, “nos países sul-americanos submetidos ao terrorismo de Estado, só no Brasil os torturadores não somente permanecem totalmente impunes, mas também continuam a receber elogios”, ele teve o cuidado de se referir somente à América do Sul e não à America Latina em geral, o que o colocaria na dolorosa contingência de ter de abrir exceção para Cuba, recordista continental absoluta de torturadores e terroristas de Estado per capita, todos eles – exceto os falecidos — ainda em seus postos e carregados de honrarias.

O prof. Quartim é um exemplo da idoneidade intelectual das elites mandantes comunistas sob cujas ordens e cusparadas alguns dos nossos militares estão ansiosos para servir.

 

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