Olavo de Carvalho

Como o sr. Denny Marquesani me remetesse cópía de uma correspondência trocada entre ele e o sr. Luiz Pontual, sobre assunto que me envolvia, enviei a ele a seguinte resposta:

Prezado Denny,

Se eu estivesse participando de um torneio de insignificância, talvez me preocupasse com esse ser todo feito de gordura, vaidade e miséria interior que é o sr. Pontual.

O que ele diz do Michel Veber é falso. O Michel era um verdadeiro artista da língua portuguesa. Basta ler os comentários dele à Metafísica Oriental para notar isso à primeira vista. Mas é coisa que um sujeito que ignora a regência do verbo “dirigir” não pode mesmo perceber.

A correçãozinha que o soi-disant porta-voz da Tradição faz da minha tradução é idiota. Ninguém escreve em português “Tomei este tema” em vez de “escolhi este tema”.

Significativa da forma mentis do indigitado é a menção dele ao meu “passado tenebroso”, do qual ele certamente sabe mais do que eu e pelo qual ele finge desinteresse olímpico no instante mesmo em que, pelo tom em que fala, procura atiçar curiosidade a respeito. É um truque velho de velha fofoqueira.

Esqueça esse coitado e continue o seu trabalho.

Abração,

Olavo

P. S. Acrescento, para esclarecimento dos leitores, que os termos “sinistro” e “tenebroso”, com que o sr. Pontual se refere à minha pessoa, sugerem uma de duas coisas: ou cometi pelo menos alguns crimes hediondos que justifiquem o emprego desses qualificativos, ou tenho assombrado as noites do sr. Pontual com aparições medonhas que ele toma como realidades. Se é este o caso, não há nisso nada de inusitado. Como tantos outros “homens da Tradição”, o sr. Pontual gosta de imaginar que é René Guénon em luta contra “influências psíquicas” vindas do baixo mundo sob a forma de ursos negros e outros animais temíveis. Hoje entendo que essa parte da sapiência guénoniana constituía-se de histeria misturada com um pouco de ópio, mas não faço idéia das práticas ascéticas com que o sr. Pontual alcançou resultados similares. Desculpem a minha ignorância, mas não sou um iniciado nos mistérios do onanismo espiritual.

P.S. 2: Novas frescuras pontuais

Em resposta a esta breve nota, o sr. Luiz Pontual derramou sobre todos os seus cinco leitores umas duas dúzias de postagens no Orkut, onde, naquele seu inconfundível estilo de menininha, jura que não quer falar do assunto. De passagem, expressa sua sincera indignação contra o sr. Denny Marquesani, o qual teve o desplante de me comunicar as intrigas que dele ouvira contra mim. Nos princípios da sua alta moralidade, falar pelas costas, à distância e sem que a vítima possa ter disso a menor notícia, é seu direito sacrossanto, acintosamente desrespeitado pelo sr. Marquesani, um profano que não compreende as sutilezas espirituais do segredo iniciático.

P.S. 3 – O sr. Pontual parece ter passado dos temores exagerados à bazófia petulante. Na sua carta ao sr. Marquesani, ele disse ver em mim uma criatura tenebrosa, sinistra, mas agora ele me pinta com os traços prosaicos de uma galinha. Malgrado as aparências, não há nisso contradição alguma. Do ponto de vista das minhocas e outras criaturas vermiculares, nada pode ser mais tenebroso e ameaçador que uma galinha. Quase posso vislumbrá-lo, daqui, chacoalhando em desespero a sua roliça pessoa espiritual e física pelo chão, em busca de refúgio, à primeira suspeita imaginária de que andei ciscando no seu terreiro. Convenhamos: é tocante.

Richmond, 30 de junho de 2009

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