Por José Nivaldo Cordeiro
13 de julho de 2002
Malanismo é fernandismo, que é socialismo. Digo isso porque a referência elíptica a esse fato, em meu artigo anterior (“A última do Mendonção”), fez com que eu recebesse vários e-mails dizendo que Malan não é de esquerda.
Ora, isso não resiste ao exame. Paulo Apóstolo já dizia que a fé de nada vale sem as obras. Se o cristão se conhece pelas obras, o mesmo se dá com os socialistas. FHC é a expressão máxima da social-democracia brasileira e Malan foi, desde sempre, o seu principal quadro técnico, aquele que colocou em prática os desejos e as opiniões do chefe e seu grupo político.
Objetivamente Malan é fernandista e, portanto, socialista. Isso não significa que seja bobo ou irresponsável. Ao contrário. Sua obra maior foi manter o relativo equilíbrio fiscal nos últimos tempos e ter mantido uma relação cordial e cooperativa com o FMI e os credores internacionais. Mas isso é algo civilizado e competência não se confunde com visão de mundo. Aliás, o que separa a social-democracia do PSDB das demais vertentes socialistas é precisamente essa ênfase na realidade fiscal.
Também não podemos esquecer que boa parte dessa ênfase aconteceu de fora para dentro, por imposição do FMI e dos credores. Nos primeiro anos da Era FHC a coisa foi um tanto diferente. Só quanto a crise, de fato, deu a sua cara é que a crença no equilíbrio fiscal foi solidificada. Fui puro realismo e pragmatismo do “socialismo moreno” de FHC.
E é fato notório que o equilíbrio fiscal se deu à custa da impiedosa elevação das receitas de impostos. Essa é a faceta mais trágica da gestão FHC/Malan. A dupla conseguiu elevar substancialmente o tamanho da hidra estatal, nunca tendo cogitado fazer o ajuste pela lado da despesa. Isso é a expressão acabada da execução política socialista. São os crentes no gigantismo estatal.
Chamar Malan de neoliberal é coisa de petistas, que nem sabem o que significa equilíbrio fiscal. Para esses últimos, socialismo é irresponsabilidade com a moeda, é emitir até o infinito. Malan, além de conhecer bem a ciência econômica, é alguém que há muitos anos está dentro da máquina do Estado, conhecendo as suas entranhas como ninguém. Não poderia jamais se enganar.
Se Malan não acreditar no que fez e faz, levou uma existência esquizofrênica, dividido entre a ética da consciência e a ética da responsabilidade. Eu não acredito nisso. Ninguém poderia viver um personagem durante tanto tempo. A pessoa Malan é espelhada adequadamente pelo homem público, do contrário ele não teria agüentado. Logo, ele abraça os ideais de FHC, seu chefe.
Nivaldo Cordeiro
O autor é economista e mestre em Administração de Empresas pela FGV – SP