por Percival Puggina
Antes de mais nada, fica posto um desafio aos leitores que discordarem do conteúdo deste artigo: indiquem-me um país (qualquer um, e basta um) onde o socialismo e as idéias marxistas tenham produzido democracia e prosperidade. Note-se que ao longo de um século e meio esse sedutor modelo só não foi testado na Oceania e na Antártica. E eu não estou, nem mesmo, cobrando desempenho positivo em direitos humanos, equilíbrio ecológico e liberdades públicas; quero apenas um caso em que o socialismo real tenha gerado uma sociedade próspera e democrática.
Os organizadores do Fórum Social Mundial, no ano passado, buscaram pela mão grandes personalidades que compuseram a face externa do evento. Aqui estiveram, em meio a outros do mesmo gênero: o ditador argelino Ben Bella (“eu não sou um democrata, sou um revolucionário”); o senhor Ricardo Alarcón, marionete número um de Fidel Castro (que lhe concede a honra de presidir o único parlamento do mundo que em pleno século XXI ainda emite leis contra a liberdade do povo que diz representar); madame Danielle Mitterrand, para quem “Fidel Castro é um democrata convicto”; a dona Hebe Bonafini, que no diálogo patrocinado pela AFP com o fórum de Davos, proporcionou a mais constrangedora cena de desvario e ódio ideológico de todo o Fórum; o representante das FARC, agente do narcoterrorismo marxista colombiano que agasalhava nossos conterrâneos Fernandinho Beira-Mar e Pitoco. (Não incluo, na lista, o José Bové porque esse vivaldino é farinha de outro saco).
O mais distraído jornalista que tenha acompanhado o Fórum em 2001 sabe que esse grupo estava, para a volúpia socialista do evento, assim como o abre-alas de mulatas está para as escolas de samba organizadas por Joãozinho Trinta: levanta a arquibancada e põe todo mundo no enredo do samba.
Dentro de poucos dias, começa tudo outra vez. E agora querem falar de paz! Então, de duas uma: ou se repete o filme com os mesmos atores, ou se melhora o nível e se busca, pela mão, gente séria e desarmada. Neste último caso se estará reconhecendo que o evento de 2001 foi um lamentável engano, uma encenação mal feita, na mais rigorosa tradição da esquerda mundial: promete uma coisa e entrega outra. Ou, se o Fórum de 2001, com sua fauna guerrilheira, revolucionária e terrorista, for considerado válido, a afirmação se aplicará ao evento de 2002 e ao seu discurso em favor da paz.
Por outro lado, um Fórum Social Mundial, do tipo sério, não pode ser socialista, porque como se viu acima, os problemas sociais não são resolvidos com conversa fiada e o socialismo é um case sem versão bem sucedida. Some-se a esse constrangimento, por fim, a frustração do distinto público. Se o Fórum deixar de ser socialista e começar a tratar dos problemas sociais sem demagogia, com objetividade e eficiência, vai sobrar lugar.
Percival Puggina é arquiteto, político, escritor, presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e de Administração Pública.