Percival Puggina
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5 de agosto de 2001

Sempre que se fala de Cuba surge a idéia de um sistema de ensino universalizado e gratuito. Isso é verdade. Todas as crianças em idade escolar estão em sala de aula, seja no ensino fundamental, seja no ensino médio. Uma percentagem que deve andar na ordem dos 30% (e já foi bem maior do que isso) dos estudantes que concluem o nível secundário, ingressam na universidade, também ela gratuita.

Guardo dúvidas, porém, sobre a qualidade desse ensino. O nível cultural das pessoas com as quais se conversa nas ruas, embora superior ao que se percebe no Brasil, é evidentemente inferior ao que se vê, por exemplo, na Argentina e no Uruguai. E o grau de informação da sociedade, em virtude do absoluto controle do Estado, chega ao nível da incubação. Aliás, para definir Cuba, incubação é uma boa palavra.

Durante minha estada, os dois jornais locais (Granma, do Partido Comunista, e Juventud Rebelde, da juventude comunista) noticiavam em manchete que Fidel prometera colocar um televisor e um computador em cada escola durante o ano de 2002. Ora, um televisor sem videocassete, para assistir os dois canais estatais, é pior que nada, e um computador não é exatamente um laboratório de informática. De fato, conversando com estudantes, isto salta aos olhos: eles não têm a menor idéia sobre o que seja um computador. Que qualidade terá um sistema de ensino contido por tais carências?

Por outro lado, o III Congresso Pioneril (congresso das criancinhas comunistas), cujo encerramento presenciei, me forneceu prova cabal de que a amplitude do sistema educacional é impulsionada pela necessidade de universalizar a manipulação da infância e da juventude para as causas do regime e da revolução. Era de se ver o ardor revolucionário e o conteúdo ideológico que aqueles meninos e meninas com até 10 anos de idade expressavam em discursos cuja veemência e vigor deixariam constrangidos muitos deputados da esquerda local. Cérebros infantis lavados e enxaguados em sala de aula!

Aquilo me assustou. E me assustou mais ainda porque percebo o empenho que hoje se faz no ensino público do Rio Grande do Sul, na mesma direção, e contra o pluralismo, seja através da Constituinte Escolar e dos materiais enviados pela SEC à rede de ensino, seja pela manipulação dos concursos públicos, usados para seleção ideológica dos futuros “trabalhadores em educação”. Nos limites do possível, também aqui se tenta, por vários mecanismos, manipular os corações e as mentes infantis.

Percival Puggina é arquiteto, político, escritor, presidente da Fundação Tarso Dutra de Estudos Políticos e de Administração Pública.

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