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Quem é Olavo de Carvalho?

Quem é Olavo de Carvalho? Quando seu nome é citado, o público divide-se majoritariamente em dois blocos: os que o admiram e os que o repulsam. O que ele fez para causar efeitos tão intensamente distintos?

Uma simples pesquisa na Web revela mais polêmicas e opiniões sobre ele do que uma breve linha do tempo com tópicos da sua trajetória e pensamento. Daí o propósito deste artigo, resumir a biografia de Olavo de Carvalho.

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Tributo a Olavo – por Prof. Valdemar Munaro

Prof. Valdemar Munaro

Este nobre e generoso espaço de Percival Puggina me dá a possibilidade de render singela homenagem ao dom e serviço intelectuais prestados a todos, especialmente a nós brasileiros, pelo nosso querido Olavo de Carvalho, recentemente falecido.

O panteão dos escritores e dos intelectuais reúne, segundo Allam Bloom, gigantes e anões. É na garupa daqueles que estes podem vislumbrar coisas impossibilitadas de ver por suas estaturas. Os gigantes, quando tais, se assemelham a desbravadores abrindo sendas nas selvas a fim de outros trilharem caminhos antes não percorridos. Gigantes intelectuais não são muitos, nem frequentes, por isso devemos amá-los, estudá-los, auscultá-los, perscrutá-los e agradecê-los, pois, nos fazem transcender da miopia que nos faz ver bem o perto, mas mal o longe a fim de enxergarmos o que nossa mediocridade impossibilita.

Olavo, como muitos disseram, inclusive nosso presidente, está, certamente, entre os poucos pensadores brasileiros gigantes. Sua obra ultrapassa os limites das paixões, opiniões e/ou modismos que normalmente nos aprisionam. Pode-se dizer que ele foi e é uma surpresa intelectual brasileira, um milagre, pela mesma razão de estarmos imersos e acostumados às mediocridades culturais rotineiras que são incapazes de gerá-lo. Inegável dizer que sua atividade educativa e filosófica soergueu nossa qualidade investigativa racional e abriu brechas nas nossas discussões e pensamentos há muito cristalizados. Nisso, foi um autêntico autor de nosso tempo, polêmico, sim, mas, em vista de nossa condição ‘cativa’, ele sacudiu o hábito no qual nos havíamos acostumado ante o invernoso e sombrio território educacional instaurado em nosso país.

Sabemos que todos os grandes escritores contêm uma parcela de substancialidade e outra de acidentalidade. Os elementos acidentais, no entender de Aristóteles, são aqueles penduricalhos ou aspectos que só existem enquanto estiverem enxertados na substância que os sustenta. Os acidentes são como sobras de banquetes, bagaços de ofício; são reais, mas não têm vida própria, subsistem e existem na medida em que estão unidos à substancialidade. De tal forma que, na obra de Olavo, por exemplo, há um lado ou aspecto jornalístico e político que pertence à sua atividade mais acidental e diz menos sobre o seu núcleo substancial. Este se localiza nas suas obras mestras e nas veias do seu trabalho elaborado através dos cursos que ministrou ao longo dos seus últimos vinte anos.

Nenhum autor, assim como nenhuma pessoa humana é admiravelmente integral, perfeita, completa. Mesmo nas obras de Dante, Tomás de Aquino, Shakespeare, Cervantes, Balzac, Dostoievski, Tolstoi, Machado de Assis e de tantos outros, podemos encontrar sabugos, palhas e não só grãos. Neles também temos flashes de literatura secundária, embora a substância esteja lá, pois sempre o substantivo é que dá existência aos adjetivos, não o contrário. ‘Até o grande Homero tinha cochilos’, justificou certa vez S. Jerônimo quando abordado sobre a leitura que fazia das obras heréticas de Orígenes. Olavo tinha o lado polêmico e irreverente, mas isso não fazia a parte central do conteúdo de sua obra.

Dotado de inteligência viva, sagaz e de prodigiosa memória, Olavo possuía um conhecimento vastíssimo sobre quase tudo o que constitui saber humano. Seu processo formativo percorreu etapas de autodidatismo, disciplina e método de estudo, leitura e investigação extraordinárias e pessoais. Buscou lugares onde pudesse encontrar conhecimento e sabedoria. Quem o ajudou inicialmente não foram as universidades, mas o padre Stanislavs Ladusãns, nascido na Letônia e jesuíta, membro da Academia Brasileira de Letras, que ministrava cursos livres de filosofia no Rio de Janeiro. Isso indica outra coisa: não sempre são as universidades que formam intelectuais e cientistas. Na Idade Média, por exemplo, não foi a Universidade de Paris que formou ou elevou Tomás de Aquino ou Duns Scotus ao patamar de grandes filósofos e mestres, mas foram justamente Tomás de Aquino e Scotus que elevaram o nível e a fama daquela universidade. As personalidades humanas normalmente se enchem mais de sabedoria e ciência não em espaços e lugares de algazarra e publicidade, mas no recôndito silêncio da própria cela ou casa. Os exemplos são inúmeros para assegurar que nem sempre as universidades são lugares de formação e geração de ‘intelectuais’ e ilustres escritores.

Olavo discorria com desenvoltura e segurança sobre quase todas as áreas do conhecimento humano. Abordava temas, prolixos ou não, relacionados à literatura, à ética, à filosofia, à religião, às ciências em geral, à história, à teologia, ao cinema, às artes e à estética, à política, à economia, à psicologia, aos problemas relacionados à ordem mundial, a autores vivos ou mortos do cenário contemporâneo, etc…

Nem mesmo em grandes autores da história da filosofia como Fraile, Reale, Copleston, Abbagnano, Urdanoz, E. Brehier, Gilson e outros, encontrei tanta lucidez e síntese compreensiva para entender o pensamento dos filósofos mais representativos de cada período quanto encontrei nas preleções apresentadas por Olavo em sua História Essencial da Filosofia e em outros seus textos relacionados a ela. Olavo também esmiuçou, sobretudo dos modernos e contemporâneos, um quadro de contradições e enganos que muitas das doutrinas daqueles autores contêm. Ousou, sem medo, denunciar vigarices e charlatanices de pensadores e/ou filósofos como R. Descartes, Lutero, Hobbes, Maquiavel, Rousseau, Kant, Hegel, Darwin, Newton, Marx, F. Engels, Freud, Nieztsche, Augusto Comte, Antônio Gramsci, M. Foucault, Heidegger, os membros da escola de Frankfurt (Lukács, Marcuse, Horkheimer, Adorno, Habermas, E. Fromm), Wittgesntein, Derrida, Deleuze, Sartre, Noam Chomsky, Richard Dawkins e muitos outros. Na atualidade, tornou-se o maior estudioso e intérprete do marxismo, pois dedicou particularmente parte de sua vida para ler e analisar a obra completa de Marx, de Lenin e de todos os seus principais asseclas.

Entretanto, sua maior, mais contundente e mais impactante provocação, entre nós, foi a denúncia pública do estado medíocre e apodrecido com que a vida intelectual brasileira se encontra tanto no interior das universidades quanto nas fontes editoriais e nos seminários de formação teológica e filosófica de muitas de nossas instituições eclesiais. Não sabíamos ou não tínhamos noção do quadro doloroso em que vivíamos em nossa vida cultural e formativa. Seu foguete demolidor dirigiu-se em primeiro lugar à turma representada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Basta, para se ter uma ideia, conferir a polêmica com os editores da revista ‘Ciência Hoje’ no livro ‘Aristóteles em Nova Perspectiva’. Sua denúncia nos mostrou que o ensino da filosofia e de outras áreas do saber está integralmente preso ao ditame político ideológico esquerdista presente e atuante em quase todas as faculdades ‘humanistas’ do Brasil, especialmente da USP (cf. Jardim das Aflições), da PUC de SP e do RJ (leia-se O Imbecil Coletivo I e II). A mesma denúncia mostrou quão envergado e deprimente está o quadro de nossas universidades, de nossas escolas, de nossos meios editoriais, de nossos jornais e meios de comunicação, quase totalmente contaminados de marxismo e, sobretudo, de desonestidades intelectuais. Nem mesmo a teologia ficou livre desse imbróglio. Impregnada de ‘libertação’, penetrou a alma de nossos estudantes, futuros prelados e pastores. Segundo ele, essa teologia, com raízes no Vaticano II, tornou-se prisioneira da mesma vertente. Exemplos são os mais conhecidos teólogos brasileiros desse período: Leonardo Boff e Frei Betto. Por muito tempo foram inquestionados, mas Olavo os desqualificou sob o ponto de vista intelectual e reafirmou sua tese de que o estrago causado por essa teologia para a Igreja ainda não foi avaliado nem suficientemente medido.

Em razão de sua atividade como escritor e professor, pudemos, por meio do seu estímulo, ter acesso a obras antes sequer mencionadas nos meios editoriais e universitários. Temos hoje a chance de ler autores como Eric Voegelin, Mortimer Adler, Russel Kirk, Roger Scruton, Leopol Szondi, Nortrop Frye, Bernanos, Newman, I. Conrad, Victor Frankl, Andrew Lobaczewski, René Girard, Thomas Sowell, Xavier Zubiri, A. D. Sertillanges, Chesterton, Theodore Dalrymple, Louis Lavelle, B. Lonergan, Mário Ferreira dos Santos, Otto Maria Carpeaux, Vicente Ferreira dos Santos, Ângelo Monteiro, Meira Penna, Gustavo Corção, Leo Strauss e muitíssimos outros. Em seus cursos, Olavo chamou-nos a atenção para o valor atualizado da filosofia encontrada nas obras de Aristóteles, Platão, Agostinho, Tomás de Aquino, S. Boaventura, Duns Scotus, Husserl, Leibniz, Schelling (e outros muitos), dos grandes autores da literatura e historiadores (como Walter Scott), escritores contemporâneos e modernos, sejam eles do Brasil ou do mundo. Nosso país estava fechado à vastíssima obra de valiosos escritores simplesmente desconsiderados porque não eram, nem são de esquerda.

Segundo Olavo, o pensamento brasileiro e mundial contaminou-se do que Julien Benda designou ‘traição’, isto é, de emoção política que penetrou a mente de nossos intelectuais e deu vazão ao ‘leimotiv’ estampado na filosofia de Marx: ‘o mundo não é para ser conhecido e contemplado, mas, antes, para ser transformado’. Assim, o terreno das ciências deixou de ser laboratório de pesquisas e de conhecimentos para se tornar um campo de batalha política. Nossa vida educacional foi engolida pela ansiedade primária de ‘transformação’ do mundo social, político, cultural, econômico e religioso. Estamos, pois, encharcados de ‘anseios revolucionários’. Por causa disso, segundo Olavo, não há mais, entre nós, possibilidades de debates intelectuais honestos e científicos já que as paixões embotaram e distorceram nossa razoável racionalidade, terminando por prevalecer sobre a objetividade dos fatos e resultados. As discussões ligadas à política estreitamente ligada à sua militância, se locupletaram e substituíram-se à busca honesta, livre e amorosa pelo saber. Estamos entre os últimos lugares do mundo nos rankings educacionais. Tal é a tragédia que se abateu sobre a educação brasileira, sobre nossas universidades, sobre nosso mundo político, religioso e intelectual. Para servir de exemplo, foi recente a observação de um professor que avaliou o trabalho de conclusão de curso (feito a partir das obras de Olavo de Carvalho) de um estudante de filosofia: sua pesquisa não deveria ter sido feita sobre esse autor porque o mesmo não pertence ao quadro dos professores da academia filosófica universitária vigente. Ora, o argumento é fajuto, rasteiro e desonesto. Com efeito, se fosse correto, deveríamos excluir filósofos que não foram professores universitários, entre eles, K. Marx, Engels, Rousseau, Saramago, Gabriel Marcel, Kierkegaard…. e muitos outros. Como se conclui, prevalece ainda aqui e alhures a militância sobre a lógica, a verdade e a racionalidade.

Se o conteúdo central do trabalho de Olavo é a afirmação da unidade do conhecimento na unidade da consciência humana, resulta que esse princípio unitário essencial, é a condição sem a qual seríamos ou estaríamos desintegrados de nós mesmos e do mundo em que habitamos. A desintegração de nosso ser, portanto, começa na ausência da verdadeira percepção de nosso eu e da realidade na qual ele está inserido. Em outras palavras, toda vez que elaborarmos conhecimentos, doutrinas ou ideias nas quais nós mesmos não estivermos dentro delas, significa então que nos colocamos fora da própria doutrina que geramos e, dessa forma, instauramos em nossa atividade intelectual aquilo que Olavo designou ‘paralaxe cognitiva’, isto é, um conhecimento ou filosofia ficcional que conduz o próprio pensador que a produz (com seus discípulos, por consequência), à esquizofrenia de si mesmo, à loucura, à estupidez, à psicopatia. O que pode salvar nossas mentes das loucas ficções é sempre o esforço honesto e sincero de retorno à observação do mundo real das coisas e do nosso eu real. A nossa inteligência é que se alimenta do ser e não o inverso. Todos os idealismos são ficcionais e terminam por levar seus condutores e protagonistas a tentativas de forçosa e violenta implementação dos mesmos, na vida das pessoas. As experiências mostram que tais idealismos conduziram seus agentes e vítimas a experiências tristes, terríveis e chocantes que os totalitarismos históricos do último século testemunharam. Como disse Eric Voegelin, o ‘iletramento espiritual’ das elites intelectuais do mundo moderno e contemporâneo engendrou e legitimou o advento de psicopatas que, alçados a algum poder, foram capazes de, sem escrúpulos e remorsos morais, matar e ferir aqueles que bem quisessem. O homem que eliminar Deus da sua existência terminará por colocar-se no seu lugar e agirá como se divino fosse.
A despeito de todas as opiniões divergentes quero expressar minha gratidão pelas páginas que Olavo escreveu e pela intrepidez com que levou adiante a defesa de valores e princípios nutrientes daquelas almas que desejam crescer e viver na retidão, na sabedoria, na verdade. Muitos brasileiros encontraram em Olavo o alimento intelectual que as universidades não ofereciam. Ele os nutriu e os ajudou a viver melhor. Vinculada à grande tradição metafísica de Aristóteles, de Tomás de Aquino e às fontes judaico-cristãs, a filosofia de Olavo de Carvalho guarda pilares da sabedoria que já fora cultivada e buscada pelos gregos, mas que foi encontrada na grande herança cristã. Seus textos e preleções contêm aqueles valores e princípios que sustentaram as nobres e grandes civilizações. Nesse sentido colaborou muito para o bem do nosso Brasil e do mundo. O Brasil não é só futebol, carnaval, samba ou outra marca. Agora, sobretudo, é também Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. Dele nos orgulhamos.

O grande africano Agostinho iniciou suas ‘Confissões’ com a célebre frase referindo-se a Deus: “Fecisti nos ad te e inquietum est cor nostrum, donec requiescat in te“. Traduzida significa “Fizeste-nos para ti e inquieto está nosso coração enquanto não descansar em Ti”. A afirmação de Agostinho é que Deus não nos fez para o abismo intragável e niilista, mas para estarmos com Ele. Nossa origem será, portanto, também nosso destino. Carregamos em nossa alma a fonte de nossa origem, por isso sabemos qual será nosso destino. Olavo tinha consciência de sua origem e sabia do seu destino. Em recente entrevista disse não temer a morte. Obrigado Olavo, pela confiança que nos transmitiu e pelo bem que nos fez. Que o Cristo Ressuscitado o tenha para sempre na sua companhia.

Santa Maria, 10/02/2022.

*     O autor é professor de Filosofia na UNIFRA.

Original no link: Puggina.org – Tributo a Olavo

Olavo de Carvalho: la insolencia de tener razón

POR ENRIQUE GARCÍA-MÁIQUEZ
29 de Janeiro de 2021

 

Empecemos por ambos extremos a la vez. Es una pena grande que el filósofo brasileño Olavo de Carvalho (1947) no sea más conocido en España y es una buena suerte que no sea más conocido en España. Por idéntica razón: muchísimas de sus ideas y un sinfín de sus argumentos tienen un inmenso interés y están escritos en una prosa directa y contundente como un mandoble. Ésas son dos razones —el interés y el mandoble— de que le acompañe la polémica más acerba. De modo que, si fuese más conocido en España, quizá nos perderíamos aún más sus ideas. Ahora las vemos en la lejanía; entonces no las oiríamos por el ruido.

De hecho, el primero que se tuvo que alejar fue él. Desde 2005 vive en Virginia, USA, perfectamente adaptado al entorno rural más arquetípicamente norteamericano. Salió del Brasil, porque el enorme país, un subcontinente, le daba, según sus propias palabras, claustrofobia. Quería decir, naturalmente, su ambiente cultural e ideológico.

OLAVO, RESPONSABLE DEL RESURGIMIENTO DE LA DERECHA BRASILEÑA

No ha vuelto, pero su influencia se deja sentir como nunca. Se le considera el responsable principal del resurgimiento de la nueva derecha brasileña. Ha tenido una importancia capital —que reconocen incluso sus más acérrimos enemigos— en el cambio de ambiente cultural y social que permitió la victoria de Jair Bolsonaro. El hijo de éste, Eduardo, declaró: «Sin Olavo, no habría un presidente Bolsonaro». Ése es un reconocimiento de dimensiones también subcontinentales. ¿Qué político de aquí reconocería a un filósofo —a cuál— una victoria electoral apabullante? A un filósofo, además, asediado, aislado y exiliado.

PÓSTER DE LA PELÍCULA “O JARDIM DAS AFLIÇÕES”, DE JOSIAS TEÓFILO

Ya no tanto. Olavo Luiz Pimentel de Carvalho ha recibido la Gran Cruz de la Orden de Rio Branco. Steve Bannon lo ha calificado como un «pensador trascendental». Su canal de YouTube es un fenómeno mediático y su cuenta de Twitter echa humo. En 2017 rodaron un documental protagonizado por él, titulado como su libro filosófico más profesional: El jardín de las aflicciones, dirigido por Josias Teófilo. La película ha tenido que hacer frente a una virulenta campaña en contra, que ha sorprendido [no sabemos si muy sinceramente] a su director, porque, según afirma, «lo más curioso es que, a pesar de la polémica, no es un documental político. Su originalidad consiste en que trata con seriedad de filosofía». Entre toma y toma de la película, el filósofo aconsejó el nombramiento de dos ministros del gobierno de Brasil, el de Exteriores y, además, el de Educación. Y encontró tiempo para tenérselas tiesas con Hamilton Morãu, el vicepresidente de Bolsonaro, que le parece tibio.

Aparte de la filosofía, tanta influencia política sería muy difícil de perdonar, si no fuese porque ya no le perdonaban sus escritos, que, a fin de cuentas, son los que aquí nos congregan. «Los ofendiditos que me disculpen, pero tener razón es mi profesión», ha dicho él, poniendo el dedo en la llaga. También le tienen que perdonar los académicos, porque el filósofo más famoso de Brasil no tiene ni un solo título formal. Ni siquiera su trayectoria de autodidacta es diáfana: ejerció de astrólogo [sic, no de astrónomo], se vinculó a una secta sufí y estuvo afiliado al Partido Comunista. De todo lo cual, se fue convirtiendo: hoy es un católico convencido y convincente, no guarda resabios musulmanes ni mucho menos y es un fiero anticomunista, tanto contra la versión clásica, como contra la gramsciana y, especialmente, contra la postmoderna o laclauniana o bolivariana.

LA FURIA Y EL RUIDO QUE GENERA

Por todo lo apresuradamente resumido, se entiende el ruido y la furia que genera, pero hay que añadir que no viene todo del exterior ni del ajetreo de la política. Sus textos también provocan polémica en sí mismos por dos causas principales.

Primero, no tiene miedo a ser acusado de «conspiranoico» ni de resultarlo, si lo ve claro. Aunque, como él mismo subraya, le acusaron de inventarse la importancia del Foro de São Paulo y del Grupo de Puebla que hoy no niega nadie. Segundo, es un defensor acérrimo de la necesidad de replicar con dureza y en su mismo nivel a aquellos que ridiculizan a la derecha o a sus ideas: «Callarse ante el atacante deshonesto es una actitud tan suicida como intentar rebatir sus acusaciones en términos “elevados”, confiriéndole una dignidad que no tiene».

Por eso, a menudo insulta con la ferocidad (y el humor, ojo) de un desatado capitán Haddock: «La izquierda brasileña —toda ella— es una banda de bribones ambiciosos, amorales, amorfos, maquiavélicos, mentirosos y absolutamente incapaces de responder de sus actos ante el tribunal de una conciencia que no tienen». El talento del epigramista no se le puede negar: «Tampoco asombra que los socialistas, no entendiendo el capitalismo, traten de describirlo con la fisionomía hedionda del fascismo, que, por afinidad, entienden perfectamente». El azote también se vuelve contra la derecha más instalada: «los hombres de “la derecha” —digo “hombres” cum grano salis».

De sal gorda, desde luego. Pero esa fiereza suya responde a un claro impulso quijotesco y cristiano. Así lo explica: «No es un discípulo de Jesús aquel que, viendo que abofetean a su hermano, se apresura a adular al agresor ofreciéndole la otra mejilla de la víctima».

Tampoco cabe negar que su amor por la moderación es muy moderado: «Al final, sólo necesita ostentar moderación quien se avergüenza de su propia opinión hasta el punto de admitir, cabizbajo y sumiso, que sólo vale un poco si se la administra en dosis moderadas. En dosis moderadas, hijito, hasta la estricnina vale alguna cosa. Sólo lo que es indiscutible bueno, como la inteligencia, la belleza, la santidad o la salud, vale tanto más cuanto mayor sea la dosis». En definitiva, como advierte su prologuista y antólogo, Felipe Moura Brasil, «Carvalho no es para pusilánimes».

EL ESCRITOR Y FILÓSOFO BRASILEÑO OLAVO DE CARVALHO. FOTOGRAFÍA: MAURO VENTURA

Hay que leerle, pues, con mucho tiento, sin darle un cheque en blanco, pero atentos a los finos —como estoques— conceptos que ofrece entre hachazo y hachazo. Y siempre a su prosa, que es (en el golpe y en el tino) perennemente plástica, musical, de un enorme poder encantatorio. Esa atención y ese cuidado tan necesarios explican por qué creo que es una suerte buenísima la mala fortuna de tenerlo tan lejos y aún sin traducir. Su voz tiene potencia para llegarnos a través de un océano y dos idiomas y nosotros podemos leerlo así más sopesadamente y citarlo con fruición sin que nos lo echen en cara. Permítanme incluso una maldad: quizá del mismo modo su exilio norteamericano haya favorecido su actual recepción en Brasil.

LA DEFENSA DE LA REALIDAD

¿Y dónde leerle? El citado Felipe Moura Brasil (Rio de Janeiro, 1981) ha reunido 193 artículos ordenados por temas del filósofo em un libro de título impagable: Lo mínimo que usted necesita saber para no ser un imbécil, 2013; aún sin traducir. Ahí Olavo de Carvalho brilla en todo su esplendor…, y con todas sus deflagraciones.

A veces el encontronazo del lector con Carvalho es frontal, como advierte su prologuista: «Usted viene con un reflejo condicionado; él viene con un tratamiento de choque». Ese tratamiento suele tener el tamaño de la realidad que él pone ante nuestras narices o un poco más cerca, en nuestras narices, incluso.  Recupera «el don de razonar desde la experiencia directa, que —como afirma—, a lo largo de la modernidad fue rechazado por los filósofos y sólo encontró refugio entre los poetas y los novelistas». Su defensa de la realidad recuerda a la del Chesterton dispuesto a desenvainar la espada para sostener que la hierba es verde. Olavo constata que en «Brasil se puede decir dos más dos son cinco, siete o nueve y medio, sí, pero, si dice que son cuatro, se observa en los ojos que te rodean el fuego del resentimiento o el hielo del desprecio».

Partiendo de ese amor a la realidad, la grandeza de Olavo de Carvalho estriba no en repetir las verdades consabidas contra las maniobras de acallarlas —lo que ya es un mérito a estas alturas—, sino en descubrirnos aspectos de la realidad nuevos. Destaca su especial atención a la batalla gramsciana de las ideas («Los sinvergüenzas pequeños se aprovechan de la idiotez ajena. Pero los grandes la fabrican») y a los juegos postmodernos con el lenguaje: «Nadie, hoy en día se puede decir que es un ciudadano libre y responsable, capaz de votar y discutir como un adulto, si no está informado de las técnicas de manipulación del lenguaje y la conciencia, que ciertas fuerzas políticas utilizan para engañarlo, en un ataque mortal a la democracia y la libertad».

Llama la atención sobre cambios tan sutiles como trascendentales que pueden estar pasándonos desapercibidos, como este «mecanismo de inversión revolucionaria: para que usted tenga fama de provocar odio no hace falta que odie a nadie, basta con que le odien».

EVITAR LA VICTORIA DEL MAL

Frente a todo, Olavo confía profundamente en «el poder curativo de la cultura superior», aunque teme que se esté olvidando. Él mismo se compara a «un médico que, habiendo prescrito un medicamento de emergencia, encuentra la receta olvidada en un rincón de la habitación donde la familia rinde su último homenaje al cadáver del paciente. No me siento —afirma— un genio incomprendido, no me tengo lástima: me compadezco de aquellos a quienes he dejado la ayuda de mi conocimiento y que sólo se han aprovechado de él como un deslumbramiento fugaz. No entendieron que yo no quería sus aplausos, sino su salvación».

Por eso, cuando propone «un programa nacional de rescate de las inteligencias», está dándole un título a su vocación intelectual y política. Olavo de Carvalho demuestra una euforizante fe en la razón, en el sentido común y en la defensa a pecho descubierto de las ideas. «La ignorancia voluntaria ya es la victoria del mal», clama. E insiste: «La idiotez, la cobardía y la pereza tienen sus límites: superado cierto punto, se convierten en la modalidad más refinada y sutil de la felonía». Y añade un argumento más, impecable, para leer y estudiar: «Es humanamente bobo empeñarse en aprender de la propia experiencia, cuando estamos dotados de un razonamiento lógico precisamente para poder reducir la cantidad de experiencia necesaria para aprender».

EL ESCRITOR Y FILÓSOFO BRASILEÑO OLAVO DE CARVALHO. FOTOGRAFÍA: MAURO VENTURA

 

 

Original em: https://revistacentinela.es/olavo-de-carvalho-la-insolencia-de-tener-razon/

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