Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 06 de dezembro de 2007

A prisão de 29 dissidentes em Cuba, no início da semana, pelo crime de pretenderem comemorar o Dia Internacional dos Direitos Humanos, é uma amostra do destino a que os venezuelanos acabarão conseguindo escapar, se continuarem enfrentando corajosamente o governo do sr. Chávez como o fizeram no plebiscito. Mas é também uma amostra do futuro que espera os brasileiros, se não compreenderem que um governo aliado do chavismo e das Farc requer uma oposição abertamente anticomunista, vigorosamente anticomunista, e não esses dois clubes de dondocas atemorizadas – ou vendidas, chi lo sà ? — que são o PSDB e o DEM.

A primeira dessas agremiações contenta-se, desde há muito, com ser uma sombra do PT, não apenas recusando-se a ter com o partido governante a menor divergência ideológica, mas só o enfrentando no campo das acusações mútuas de corrupção – em geral igualmente justificadas –, quando não no da competição de fidelidade ao passado esquerdista, como se viu naquelas ridículas simulações de debate eleitoral em 2002.

Quanto à segunda, o sr. Presidente da República engana-se ao dizer que ela não tem perspectiva de poder. O DEM quer o poder, sim, desde que possa conquistá-lo por meio de alianças, conchavos e acomodações ou, na mais valente das hipóteses, por meio de resmungos moralistas apartidários e inofensivos. O que o DEM não quer é nadar contra a corrente dominante, é ser ou parecer conservador, é tornar-se o legítimo porta-voz das crenças e valores tradicionais do povo brasileiro, que o consenso dos bem-pensantes excluiu de todo direito à representação política ou mesmo ao ingresso nos ambientes culturais soi disant respeitáveis.

Quando uma agremiação que a esquerda rotula de extrema direita professa se modelar pelos ideais do Partido Democrata americano — o partido de Fidel Castro, Hugo Chávez e Ahmadinejad –, é patente que toda confrontação eleitoral “nêfte paíf” se tornou apenas uma fachada legitimadora do esquerdismo triunfante, uma farsa grotesca calculada para impedir que as preferências majoritárias dos brasileiros se façam valer no Congresso e adquiram força de leis.

Vocês já notaram que, nas confrontações extrapartidárias, no plebiscito do desarmamento assim como nas pesquisas de opinião ou na recente Conferência Nacional de Saúde, a opinião vencedora nunca é aquela que depois acaba prevalecendo nas eleições? Por que o brasileiro, ao expressar diretamente o que pensa, diz uma coisa, mas ao fazê-lo através da representação eleitoral, diz outra completamente diferente? Por que o nosso povo é tão conservador nas idéias e tão esquerdista no voto? A resposta é simples: a rede de canais partidários foi toda planejada para que, no caminho entre o sentimento espontâneo e a decisão política, tudo se transmute no seu respectivo oposto. O que no Brasil se chama de representação popular é, literalmente, representação inversa.

Num artigo publicado semanas atrás (A Venezuela vive. E o Brasil agoniza), afirmei que havia mais saúde política na Venezuela do que no Brasil. O plebiscito confirmou isso de maneira integral. Manifestando-se pela dupla e arriscada via simultânea da abstenção e do voto, uma oposição ideologicamente consistente mostrou que dois terços da população venezuelana não querem Chávez, não querem o comunismo, não querem ser governados por agentes cubanos e narcoterroristas das Farc. Se a escolha for colocada nos mesmos termos para os brasileiros, eles votarão como os venezuelanos. Uma oposição nominal, fugindo a todo confronto ideológico, só serve para impedir que isso aconteça.

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