Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 9 de novembro de 2009

Todos aqueles supostos liberais e conservadores que se calaram a respeito do Foro de São Paulo quando ainda era possível deter o crescimento do monstro – ou que até mesmo me acusaram de alarmismo e obsessão por insistir em falar do assunto – posam, agora, como especialistas tarimbados na matéria, verdadeiros profetas retroativos, que repetem, sem citar-lhes a fonte, e com um atraso que as torna perfeitamente inúteis, as advertências que fiz em tempo. Advertências, aliás, cujo mérito não era meu no mais mínimo que fosse, porém inteiramente do advogado paulista dr. José Carlos Graça Wagner, cujos arquivos constituíram a minha única fonte de informações sobre o Foro até 2001.

Se o esquerdismo trouxe tanto dano ao Brasil, foi apenas como modalidade especialmente sedutora de uma vigarice intelectual endêmica que se observa em todos os quadrantes do espectro ideológico e que constitui, ela sim, a causa mais profunda e permanente dos males nacionais.

Quando a “direita” brasileira recusou ouvidos ao Dr. José Carlos Graça Wagner e a mim, perdeu não só a oportunidade de sobreviver politicamente – hoje até o sr. presidente da República sabe e declara que ela já não tem a mínima perspectiva de acesso ao poder –, mas também a de dar um exemplo honroso de sensibilidade intelectual superior, capaz de prestar atenção à verdade mesmo quando não venha de fontes oficiais ou bem comportadinhas. Esse exemplo bastaria para lhe conferir imediatamente aquela autoridade moral, tão decisiva nas disputas políticas, que não raro sobrepõe a minoria sábia à maioria tagarela e, pelo menos a longo prazo, pode lhe assegurar as mais belas vitórias.

Com sua omissão, ela provou que sua subserviência aos bem-pensantes é ainda mais forte do que seu instinto de sobrevivência, já que cede às injunções deles ainda mesmo quando calculadas para funcionar como estupefacientes, para amortecer suas reações de autodefesa e até sua capacidade de perceber a presença do perigo. De 1990 até o ano passado, a direita nacional não fez senão tentar por todos os meios aplacar o inimigo, oferecendo-lhe uma resistência débil e risível que só criticava seus pequenos erros econômico-administrativos para melhor ajudá-lo a ocultar seus crimes maiores. Todo mundo sabe o que ela ganhou com esse colaboracionismo mal disfarçado: ganhou sua completa exclusão do processo político, só compensada – se cabe a palavra – por uma humilhante sobrevivência como força auxiliar da esquerda soft.

Concedendo agora a macaqueadores e oportunistas retardatários a atenção que recusou aos primeiros descobridores de uma verdade temível, ela mostra que não aprendeu nada com a experiência, que continua preferindo, ao conhecimento genuíno, o simulacro mais pífio que possa encontrar no mercado. Talvez porque nele enxergue o seu semelhante.

Não é preciso dizer que, se aquela primeira recusa da verdade determinou o fim dessa direita como facção politicamente relevante, esta de agora anuncia a perda de suas últimas reservas de vitalidade, o sacrifício integral de seu futuro às exigências de um presente miserável.

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