José Nivaldo Cordeiro

O discurso do presidente Fernando Henrique Cardoso na Assembléia Nacional francesa – muito aplaudido por sinal – foi amplamente noticiado na imprensa de hoje e dificilmente pode refletir os interesses mais sólidos do Brasil. Pode ter arrancando aplausos dos franceses, mas FHC governa o Brasil. O discurso, que critica a ação militar e diplomática dos Estados Unidos, pode ser apenas um gesto gratuito contra aquele governo, sem nada acrescentar para ampliar, seja o poder nacional brasileiro, seja a sua presença no cenário internacional.

O Brasil já tinha perdido uma oportunidade histórica de se alinhar com os norte-americanos ao não estar na linha de frente contra o terrorismo, desde as primeiras horas. Ficou no termo morno, no muro de quem mais gostou que desgostou dos acontecimentos, na dubiedade dos fracos. Então o discurso de hoje pode ser lido como um corolário daquela posição, diplomaticamente equivocada, assumida pela Chancelaria brasileira e pelo próprio presidente.

Mesmo abstraindo as questões morais – e não há como ficar a favor do terrorismo – o governo brasileiro errou, por vários motivos. Em primeiro lugar, o terrorismo também nos ameaça e não há como negar que a tríplice fronteira ao sul pode ser um elemento de vulnerabilidade que pode colocar o país como um facilitador de ações terroristas. Em segundo lugar, porque, queiramos ou não, os Estados Unidos são os nossos melhores e maiores parceiros comerciais. Em terceiro, a proximidade geográfica torna o Brasil um país que não pode fechar os olhos para os dramáticos acontecimentos de 11 de setembro. Em quarto, como o grande país da América do Sul, a posição pusilânime assumida só favorece a uma perda de liderança regional e do reconhecimento internacional.

Em resumo, a equivocada posição diplomática nos colocou na habitual situação de irrelevância no cenário internacional.

E nada há a justificar isso. O Brasil teria realmente que aprofundar e extrair da relação com os Estados Unidos os frutos de uma parceria estratégica, que não seria difícil construir se, do lado de cá, houvesse uma predisposição ideológica e inteligência conduzindo as negociações. Em substituição a uma diplomacia mais eficaz, ficamos nós perdendo tempo com países quebrados como a Argentina, que nada nos podem dar e que freqüentemente querem nos levar alguma coisa. Perdemos tempo com aplausos fácil de países como a França, que têm um recalque histórico contra a América, que não temos. Perdemos tempo com todas as causas perdidas da comunidade internacional.

É admirável a posição da Inglaterra, do Canadá e da Austrália, além do Japão e da Alemanha, que não hesitaram diante dos perigos do terrorismo, ficando do lado de quem estava a força moral. Ganharam em virtudes e também no fortalecimento dos seus interesses. Como é que o Brasil entrará na agenda relevante se sempre busca a companhia dos irrelevantes e dos fracos?

Aqui é preciso frisar a coerência ideológica do governante brasileiro. Fazendo coro com a esquerda internacional, começa a ver nos gestos de defesa militar uma ameaça agressora, começa a desqualificar uma ação que defende não apenas países individualmente, mas o conjunto do mundo ocidental. O recente assassinato infame dos cristãos católicos em plena Missa no Paquistão é emblemático do que estamos a viver. Está em curso um choque de civilizações. Não há lugar para inocentes úteis, não há meios termos. Ou se está do lado de quem tem razão e vai vencer a parada, ou se está contra. A posição morna não é duradoura nem recomendável. Infelizmente o Brasil, pela fala do seu presidente, parece que está escolhendo ficar do lado perdedor e mesmo daqueles que são objetivamente os inimigos dos brasileiros, enquanto nação integrante do Hemisfério Ocidental.

FHC poderia ter saído do governo sem esse opróbrio de acovardado, que não representa minimamente os interesses e mesmo o sentimento da maioria dos brasileiros. Fico a me perguntar com que cara ficará o Brasil se um outro atentado de grande envergadura vier a ser executado. Voltará atrás sobre os próprios passos? Deixará o dito pelo não dito?

Alguém duvida que um segundo movimento será executado?

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