Por José Nivaldo Cordeiro
02 de Maio de 2002
As crises econômicas habitualmente têm origem ou se transformam, em seu processo, em problemas com os financiadores internacionais. Está aí a Argentina e as últimas crises brasileiras para atestar o fato. Por conta disso, os discursos políticos “críticos” começam e acabam em propor soluções extramercado para com os financiadores internacionais, as chamadas moratórias, de triste memória. Em que consiste realmente o problema?
É claro que país algum pode dispensar o concurso dos banqueiros, pois é a partir das garantias bancárias que o comércio entre as nações pode acontecer. Cumprem, os bancos, esse fundamental e insubstituível papel. Sempre que se tentou fazer a substituição dos banqueiros, como o Brasil nos anos setenta com os países do bloco socialista, deu no que deu: prejuízo. O caso da Polônia e as famigeradas “polonetas”, tão denunciadas pelo Embaixador Meira Penna, é emblemático. Alguns bilhões de dólares foram despejados no ralo do esgoto.
Os banqueiros, todavia, não se limitam a financiar e garantir o comércio. Eles também garantem, mediante empréstimos, a liquidez corrente, de curto prazo, dos países. Fazem os “papagaios” necessários para o fechamento das contas, quando há problemas.
Outra função que eles têm é financiar a atividade produtiva, aportando recursos diretamente às empresas dos diferentes setores. Apóiam assim o desenvolvimento empresarial, muitas vezes em complemento e suprindo lacunas nos sistemas financeiros imperfeitos dos chamados países pobres, cuja formação de poupança é insuficiente e cujo processo de intermediação financeira não está ainda inteiramente institucionalizado.
O drama começa quando governos pródigos vêem nos financiadores internacionais agências de fomento. Aí passam a absorver todo tipo de recursos disponíveis, sem fazer os corretos cálculos da relação custo/benefício, a fim de alavancar o desenvolvimento. Quando se está no começo da festa, em que a proporção dívida/PIB é baixa e o serviço da dívida é ainda irrelevante no orçamento, ninguém reclama. Quando, todavia, chega o dia em que os banqueiros dão o basta, porque a capacidade de endividamento esgotou-se e o serviço da dívida passa a devorar parcela desproporcional do orçamento, toda sorte de discurso populista contra os banqueiros passa a ser feito.
O curioso é que ninguém se lembra de responsabilizar os governantes irresponsáveis que, livres e espontaneamente, foram buscar os recursos e assinaram os contratos. Ilusoriamente, passam a culpar os banqueiros, que culpa nenhuma têm se bateram na sua porta. E, diante do contrato assinado, têm que executar a dívida, posto que não passam de gestores de recursos alheios.
É curioso então analisar o discurso político das esquerdas. Ora elas culpam os banqueiros por não dar créditos adicionais, como acontece no caso da Argentina no momento, ora os culpam por querer emprestar. Afinal, os banqueiros são maus por emprestarem ou por não emprestarem? Nem sempre fica claro ao se ouvir o discurso dos “progressistas”.
Outra coisa curiosa é que esses atores políticos implicitamente propõem zerar (ou algo assim) a taxa de juros e prolongar ao infinito o prazo de pagamento da dívida (não é outro o intuito que está por trás da moratória). E depois querem levantar recursos adicionais. É claro não há qualquer realismo nessas idéias.
Algo porém é certo: os banqueiros não são doadores de recursos enquanto empresários. Assinou o contrato, tem que pagar. Compete aos tomadores de empréstimos serem precavidos ao tentarem levantar recursos. Todos sabem que os juros são caros e devem ser pagos e que um dia o crédito vencerá e também deverá ser pago. É simples assim.
Todo o carnaval que as esquerdas fazem contra os banqueiros não passa de uma mistura de ignorância e de má fé. Não enganam as pessoas bem informadas. Talvez consigam enganar-se a si mesmas, encantadas que ficam com o próprio discurso. O que se vê é um descolamento da realidade, que é substituída no imaginário dessas pessoas por demônios inexistentes. O pior é que essas pessoas ganham votos e acabam por se tornar governantes, tomando as decisões mais erradas em nome da coletividade. O desastre, então, é inevitável.