Por Maria Lucia Victor Barbosa
19 de julho de 2002
Desde 11 de setembro de 2001, quando houve o ataque dos fanáticos liderados por Osama Bin Laden às torres do World Trade Center de Nova York e aos prédios do Pentágono, parece que a violência, esta velha companheira da humanidade, soltou-se com mais fúria no mundo e entramos na era da perplexidade.
No Oriente Médio, recrudesce a guerra entre israelenses e palestinos. Seriam estes povos antigas tribos descendentes do patriarca Abraão, pois conta-se que Hagar, serva de Sara e mãe do filho de Abraão, Ismael ou Ismail, foi expulsa com a criança quando nasceu Isaac, filho de Sara com Abraão. Ismael tornou-se o pai da nação dos ismaelitas, identificados com os árabes, portanto, com o islam. Os hebreus descenderiam de Isaac, dando origem ao judaísmo. Assim, a inimizade entre israelenses e palestinos tem origens remotas e lendárias.
Agora a luta fratricida prossegue com nítidas características religiosas, além de políticas. Ironicamente a palavra islam, traduzida como “submissão”, tem as letras árabes slm que se relacionam com a palavra hebraica shalom, a saudação da paz.
Não há paz. Israel vê sua economia se desorganizar e não surge entendimento sobre a criação do Estado Palestino. Dentro de sua tradição radical, belicosa, fanática, a Jihad islâmica como o Hamas, não aceitam a existência de Israel e se opuseram aos acordos de paz em Oslo. É uma situação altamente complexa, na qual horrores são perpetrados como o dos homens-bomba se explodindo e levando consigo todos os judeus que lhes estiverem próximos.
Leio, que no dia 16 deste, uma emboscada de militantes palestinos contra a colônia judaica de Emanuel, na Cisjordânia, matou 8 israelenses e feriu 5. Um dos mortos em Emanuel era um bebê. Sua mãe, grávida de oito meses, foi ferida com gravidade e deu à luz, mas os médicos não conseguiram salvar a criança, que faleceu. Fico me perguntando, diante deste e de outros fatos medonhos, qual o sentido da vida neste planeta e se o ser humano realmente evolui em termos de sua essência.
Não faz mal, dirão muitos, inclusive muitos cristãos, era apenas um judeuzinho. Além disso, judeus, principalmente na América Latina, são associados ao detestado Estados Unidos.
Os Estados Unidos agora são bombardeados por escândalos em algumas de suas grandes empresas. São fraudes contábeis que exageram os lucros para favorecer executivos, com conseqüente prejuízo para os acionistas. Olha aí, dirão muitos na América Latina, que coisa feia, ainda bem que não conhecemos essa coisa de corrupção por aqui.
Já a América Latina é sacudida pela turbulência econômica, pela violência, pela decorrência de maus governos. Balança a Argentina, o Perú, a Venezuela, o Paraguai……
No Brasil, ao lado de conquistas inegáveis, a violência urbana associada à impunidade, ao governo paralelo de bandidos, ao poder cada vez maior dos traficantes beira o insuportável. Paradoxalmente as Forças Armadas vão sendo desmanteladas e humilhadas por falta de recursos e os policiais permanecem mal pagos e mal armados. Aos poucos, corrosiva doutrinação no mais apurado estilo de Gramsci, assume mecanismos de controle social e se instala a partir das redações e das cátedras, gerando novas levas de “imbecis coletivos” – para usar a expressão de Olavo de Carvalho – e preparando a ascensão dos cultores da ultrapassada religião de Estado, própria do totalitarismo. E no clima eleitoral aprofunda-se a insegurança com relação ao futuro, enquanto o capital externo se retrai com as previsíveis conseqüências que recaíram sobre o país.
Sobre a América Latina, recordo certas palavras proféticas, ditas por Símon Bolívar, em 1830: A América Latina é para nós ingovernável; a única coisa a fazer na América Latina é emigrar; Este país (a Grande Colômbia, partilhada sucessivamente entre a Colômbia, a Venezuela e o Equador) cairá infalivelmente nas mãos da populaça desenfreada para passar em seguida para a dominação de obscuros tiranetes de toda a cor de toda a raça; se acontecesse que uma parte do mundo voltasse ao caos primitivo, isso seria a ultima metamorfose da América Latina”. Teria sido El Libertador excessivamente pessimista?
Ah, posso ainda citar o atentado sofrido por Jacques Chirac, o avanço do neonazismo na Europa ou mesmo o ataque de megalomania de Saddan Hussein, quando o ditador iraquiano, que está sendo acusado de incentivar o terrorismo palestino, desafiou os “demônios” a derrubá-lo.
Parece que o capeta está solto neste mundo no meio do redemoinho, como diria Guimarães Rosa. Que Deus nos acuda!
A autora é socióloga, escritora e professora universitária.
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