Por José Nivaldo Cordeiro
17 de julho de 2002
Encontrei com antigo conhecido que hoje exerce alto cargo no Ministério da Fazenda e, dessa conversa, brotou para mim a lógica aterradora da política econômica em vigor. Pode ser que eu esteja errado, e até gostaria, posto que então a realidade seria menos dramática para todos nós. Mas duvido.
Até ter realizado a conversa com essa pessoa, a lógica da política de preços “administrados”, dos grandes monopólios como a Petrobrás e a Eletrobrás, me escapava. Esses preços teoricamente são controlados por agentes políticos do governo. Seria simples burrice deixar que essas empresas pratiquem a loucura que estão fazendo com os preços de seus produtos, em prejuízo de todos os brasileiros, especialmente os mais pobres? Isso em um ano eleitoral, o que poderia comprometer a eleição do candidato oficial? Não seria uma política alucinada, que poderia colocar a estabilização da inflação no lixo?Algo não se encaixava.
Ele me disse que o governo está segurando dinheiro em caixa, conforme planejado, o que é a única maneira de gerar o superávit primário, e que a inflação precisa subir, para comportar um superávit fiscal maior, levando-se em conta que o PIB crescerá pouco. Traduzindo: o imposto inflacionário é indispensável para o ajuste das contas públicas, vez que o governo não tem nem a vontade e nem a força para mexer no foco essencial das despesas, que é a Previdência do setor público, segundo ele mesmo reconheceu..
Depois de ir embora rememorei a conversa e cheguei à seguinte conclusão. Por acordos internacionais e pela vigilância do Congresso e da sociedade, a nossa inflação não está sendo puxada pela expansão primária da moeda, contrariando a lógica ensinada nos livros-texto de economia. Os macrocéfalos governamentais decidiram elevar os preços ditos administrados para elevar a inflação e assim alcançar alguns objetivos: 1- Ajustar para baixo os gastos reais, pela inflação mais alta; 2- Arrecadar mais, pois os setores que estão puxando a inflação são gravados por elevadas tarifas; 3- A maior inflação impõe uma maior desvalorização do câmbio, na medida que eleva as incertezas, vez que o nível de preços e o câmbio movem-se conjuntamente, sendo que, a cada momento, um puxa o outro; 4- Abrir a taxa de câmbio traz a vantagem de aumentar o superávit na balança de pagamentos.
Tudo em prejuízo do povo mais pobre, que é o grande pagador do imposto inflacionário, mas não apenas. Todos aqueles que têm rendas de contratos em bases anuais são perdedores, são os contribuintes forçados desse imposto nefando. O trágico é que esse verdadeiro crime está sendo cometido para que os privilégios de alguns poucos sejam mantidos, mediante o empobrecimento programado da Nação. É imoral.
Dessa forma, com a elevação do nível de preços, a expansão monetária terá que ser feita em algum momento, para que a liquidez do sistema seja mantida. Tudo se encaixa perfeitamente.
A única coisa que está fora dessa equação é a eleição. A percepção de que o governo conspira contra o povo se traduz na rejeição ao candidato oficial, conforme as pesquisas que têm sido divulgadas. A conclusão que se impõe é que, do ponto de vista de quem está na Presidência da República, não faz muita diferença quem será o sucessor, desde que seja um dos três que estão bem situados nas pesquisas. Afinal, qualquer deles mudará tudo, a fim de que nada seja mudado.
O autor é economista e mestre em Administração de Empresas pela FGV – SP