2 de novembro de 2000
O resto do Brasil não tem a menor idéia do que está acontecendo no Rio Grande do Sul, imagem e projeto do futuro que espera todo o país. Empenhado em conservar sua imagem de bom-mocismo na mídia, o PT, através de seus servidores nas redações de jornais, esconde da opinião pública o descalabro gaúcho. Esta carta que acaba de receber dá um testemunho direto, e bem comedido, de algumas coisas que estão acontecendo por lá. – O. C.
Por Disneu Santiago Júnior
Prezado Olavo:
Tenho acompanhado seus artigos, publicados por “Época”, e tenho me identificado muito com sua linha de raciocínio político. Hoje lí o último, da edição de 30/10, e passei a correlaciona-lo com alguns comentários que ouvi no rádio, nestes dias de eleição. Veja, sou paulista, mas trabalho em Porto Alegre desde abril – mudei-me com a família, em busca de melhor qualidade de vida, o que realmente consegui. Porém, o que vejo aqui me apavora.
O trabalho de propaganda que o PT faz aqui é algo impressionante. Esta cidade não tem nada de excepcional, a não ser suas virtudes inatas, porém “eles” dizem que são responsáveis pela qualidade de vida que temos aqui. O governo do Estado é um fracasso, porém a propaganda alardeia que “é o governo da participação popular”. Nada mais enganoso.
Eles dizem que o Orçamento Participativo é a mais avançada forma de participação e democracia existente na gestão de uma cidade. Não funciona, pois os coordenadores são do partido, que detém a chave do cofre e a prerrogativa de vetar propostas que não são de seu interesse. As favelas da cidade se multiplicam, como em qualquer outra metrópole brasileira, mas a propaganda diz que tudo vai bem.
A impressão que eu tenho é que eles, no país inteiro, estão nos anestesiando com aquela anestesia de dentista – lenta e gradual. Está começando a “formigar”. O cenário está muito claro, pelo menos sob meu ponto de vista. O MST se arma, treina, invade, recua e treina outra vez, invade outra vez, e assim vai; o PT se veste de rosa (menchevique ou social-democrata) e fatura nas capitais e maiores cidades; em 2002, se aproveitam da “anestesia” e levam o Planalto; as forças policiais são desmoralizadas e desmanteladas; as agitações no campo começam, passam para as cidades, as milícias estarão prontas e pimba!!!, acabou a democracia – tudo em nome do “povo” que clama por inclusão social, por terra, por trabalho, pelo fim do capitalismo selvagem, pela quebra dos contratos, pelo fim da propriedade privada e tudo mais que já conhecemos. Aí cai a máscara. Acabou.
Aqueles que hoje passeiam pelas ruas com seus carros importados portando alegremente bandeiras do PT serão os primeiros a ter a garganta cortada.
Por que não declaram o que buscam? Por que não mostram ao povo brasileiro o que realmente desejam, que é o fim da democracia? Mostrem-se por inteiro e deixem que o povo decida o que é melhor. Não basta usar o disfarce de bom-moço para ganhar as consiências; precisa mostrar-se por inteiro, sem a máscara que estão acostumados a usar. Máscara de cordeiro. Estão sim, calando a imprensa, pois a estão infiltrando, desde há muito, começando pelas faculdades; estão subvertendo a igreja, através de uma bem organizada infiltração em seminários; estão dominando a sociedade, mediante a óbvia dominação de órgãos de classe, como os estudantís e os sindicatos.
Quando a anestesia passar, será tarde. O que faz o governo a respeito disso? O que fazem as instituições conservadoras deste país a respeito disso? O que fazem os órgãos de segurança que permitem a ação impune dos líderes do MST? Temos pouco tempo para reagir. Necessitamos de um novo Carlos Lacerda, na tribuna, que grite, denuncie e influencie. Como articular a reação? Seá que não se percebe o risco que estamos correndo?
Um preocupado abraço a você.
Disneu Santiago Júnior
Porto Alegre – RS