Fórum da Liberdade 2000 Porto Alegre, 4-5 de abril de 2000
CORREIO DO POVO
PORTO ALEGRE, QUARTA-FEIRA, 5 DE ABRIL DE 2000
Oradores não se entenderam nos primeiros pronunciamentos, fazendo aflorar as questões ideológicas de governo e empresários
Lewin criticou o intervencionismo do Estado na história
Já na abertura do XIII Fórum da Liberdade, realizado ontem na Fiergs, sobressaiu a divergência ideológica entre empresários e governo estadual. Ao passo que Sérgio Lewin, presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), organização promotora do fórum, defendeu o ‘egoísmo racional’, social e economicamente empreendedor do capitalismo, o governador Olívio Dutra advertiu os participantes para a ‘ingenuidade’ da crença de que o Estado não deve participar ativamente da vida econômica. Também no primeiro debate da manhã, a divergência aflorou. Em uma de suas intervenções, o filósofo e jornalista Olavo de Carvalho, autor de ‘O Imbecil Coletivo: Atualidades Culturais Brasileiras’, alfinetou: ‘Em vez de me sentir constrangido de dirigir uma empresa que desse lucro, eu me sentiria constrangido em dirigir um Estado que desse prejuízo’. (1)
‘Uma sociedade em que poucos têm muito e muitos têm muito pouco não pode ser caracterizada como equilibrada’, contestou o governador à platéia lotada do Teatro do Sesi, que aprovou as colocações de Olavo de Carvalho e o discurso do presidente do IEE. Os 2.530 participantes aplaudiram Lewin, principalmente quando ele enfatizou: ‘Está na hora de parar de pensar que destruindo os ricos pode-se enriquecer os pobres’. Para essa colocação em particular, o governador insistiu que é necessário penalizar a parcela de ‘ricos’ que, ao longo de 500 anos, exploraram a população pobre.
O confronto de ideologias e os discursos ásperos, apesar de polidos, não resultam em atritos entre o governo e o empresariado, na avaliação de Olívio Dutra. ‘A explicitação das diferenças de opinião é fundamental para a consolidação do planejamento do futuro e faz parte do processo civilizatório’, disse Olívio.
Em seu discurso, Lewin criticou o perfil assistencialista e intervencionista do Estado, presente na história brasileira, e salientou que o grande problema no Brasil é a carência de capital humano com formação. O membro do Conselho Nacional dos Institutos Liberais e presidente da comissão executiva do Programa Gaúcho da Qualidade e Produtividade (PGQP), Jorge Gerdau Johannpeter, concordou com a posição de Lewin. Para Gerdau, os investimentos do Estado na indústria de base, apontados pelo governador como uma intervenção positiva e necessária, poderiam ter sido feitos em educação e saúde. ‘O projeto de infra-estrutura básica foi implantado pelo Estado a um alto custo’, argumentou.
Porto Alegre – RS – Brasil
(1) Nota do administrador da homepage do jornal : O governador Olívio Dutra havia afirmado, dias antes, que jamais dirigiria uma empresa privada, por ser entidade voltada para o “lucro egoísta”.