23 de junho de 1999
A seção “Diga o que quer, ouça o que não quer” bem poderia se chamar: “Leia aqui a resposta ao que você não disse”. Ao comentar carta que escrevi à revista “Bravo” em fevereiro de 1998, o sr. Olavo de Carvalho diz que “o leitor que deseja um debate deve expressar opiniões definidas sobre pontos precisos”. Conselho que ele é o primeiro a desconsiderar.
Ao contrário do que afirma o sr. Carvalho, não o convidei ao debate, não sugeri a sua exclusão da revista em questão, e não sou psicanalista, nunca o fui e jamais o serei (que oráculos consultará o sr. Carvalho?). A carta está lá, para quem quiser ler, no número de 1998, como está a resposta grosseira – por mim ignorada – de Carvalho no número de abril de 1998.
Como se faz quando alguém que prega critérios de verdade distorce, mente e manipula só para conquistar algumas poucas linhas em sua pr’pria homepage para esbravejar contra aquilo que pensa que os outros pensam dele? Acionamos a Justiça, denunciamos ao Procon por fraude contra os que o consomem, pedimos a sua interdição por motivos psiquiátricos ou simplesmente o ignoramos como se deve fazer com aqueles que não merecem a menor consideração nem respeito?
Atenciosamente,
Helion Póvoa Neto
Resposta de Olavo de Carvalho
Reaparecendo das sombras do nada em que minha memória falível o havia desterrado, ergue-se o dr. Póvoa, com um formidável atraso, para protestar contra coisas que escrevi em Bravo! de março de 1998. Não me deixa alternativa senão reler tudo aquilo e em seguida informar ao remetente a inútil vaidade de suas caretas ameaçadoras:
1) Eu nunca disse que o dr. Póvoa me convidou para um debate. Quem disse — aliás no intuito de defendê-lo — foi a leitora Helga Helena Monteiro (v. carta nesta mesma homepage), e, precisamente, respondi que ele não fizera nada disso, limitando-se sugerir minha exclusão da revista Bravo!. Fingindo que pus palavras na sua boca, o dr. Póvoa põe algumas na minha.
2) O dr. Póvoa que largue de se fazer de ingênuo. Escrever a uma revista expressando repulsa à presença de um determinado sujeito no quadro de redatores é sugerir sua exclusão, e de maneira bem pouco sutil. Mas isto já virou uma regra. Dos sujeitos que enviam cartas a editores para protestar contra algo que eu disse, cinqüenta por cento começam por lamentar que a imprensa me conceda espaço para escrever. Que outro sentido tem isto, senão a de sugerir que a imprensa se livre de um colaborador lamentável? O efeito acumulado de cartas desse teor é bem previsível. Alvos mais paranóicos suspeitariam de uma campanha orquestrada. Da minha parte, diagnostico: é simples repetição de um cacoete stalinista, irreprimível em certas cabecinhas feitas à imagem e semelhança do inventor da “arma da fome”.
3) Num ponto o dr. Póvoa diz a verdade: ele, de fato, não é psicanalista. Admito que errei quanto a esse detalhe, o qual, aliás, no conjunto da questão, não fede nem cheira. É preciso ser um bocado teatral para afirmar que essa imprecisão miúda e irrelevante atesta uma intenção de “distorcer, mentir e manipular”.
4) No que diz respeito às alternativas de ação perfeitamente malucas que o dr. Póvoa conjetura – acionar a Justiça, denunciar-me ao Procon, etc. etc. -, provam apenas que ele tem dificuldade de rebater palavras com palavras e que, diante de um adversário que o irrita, sente o impulso quase irresistível de fazer algo contra ele. Mas, diziam os escolásticos, para agir é preciso ser. Não cumprindo esta última condição, o dr. Póvoa limita-se a fantasiar vingancinhas, retorcendo-se de raiva ao mesmo tempo que procura fingir uma indiferença superior. A alternativa de me ignorar olimpicamente não parece, no entanto, estar ao alcance de um sujeito que ainda se mostra tão nervoso depois de decorrido todo esse tempo da publicação de minha resposta. A profusão mesma de estratégias belicosas que ele conjetura contra mim prova que o dr. Póvoa tem pensado dia e noite na minha humilde pessoa. Lamento não poder retribuir sua atenção.
Atenciosamente,
Olavo de Carvalho