Olavo de Carvalho
Diário do Comércio, 20 de agosto de 2007
“A fraqueza atrai a agressão”, dizia Donald Rumsfeld, cujo malogro político não deve fazer esquecer que foi o arquiteto da mais espetacular vitória militar dos tempos recentes, a ocupação em quinze dias de um país inimigo poderoso e bem armado, cujo sucesso contra as tropas invasoras era anunciado como líquido e certo por toda a mídia esquerdista do mundo.
A sentença do ex-secretário da Defesa norte-americano deveria servir de alerta aos antipetistas brasileiros, dos quais muitos se empenham menos em combater o adversário do que em esquivar-se pudicamente da rotulação de conservadores e direitistas, que se fossem homens de coragem ostentariam com orgulho.
Quarenta anos de hegemonia cultural gramsciana fixaram tão bem na mente popular o dogma do monopólio esquerdista das virtudes, que preservá-lo contra a mera suspeita de que possa haver algo de bom na direita se tornou prioridade máxima para os próprios direitistas. Tão longe levam eles a obediência a esse mandamento que, mesmo quando querem denunciar os crimes mais escabrosos da esquerda, se apressam em advertir que o fazem sem o menor intuito político, o que equivale a reconhecer que só a esquerda tem o direito de fazer política.
Do mesmo modo, quando vêem os prodígios de manipulação esquerdista do noticiário, não ousam cobrar da mídia um espaço justo e digno para as vozes conservadoras, muito menos a publicação de tais ou quais notícias omitidas – o permanente genocídio anticristão no mundo ou as relações amigáveis PT-Farc, por exemplo –, preferindo antes solicitar genérica e abstratamente que ela seja “imparcial”, o que além de ser uma impossibilidade prática resulta em elevar a classe jornalística à condição de juiz em vez de mera divulgadora de dados e opiniões dos quais o único juiz abalizado é o público em geral.
Quando se sentem chocados ante a pregação comunista nas escolas, gemem implorando uma utópica educação “apolítica” em vez de exigir virilmente o confronto aberto entre as idéias da esquerda e da direita, mesmo sabendo que aí estas levariam vantagem arrasadora sobre as suas concorrentes.
Similarmente, quando querem protestar contra a ocupação comunista dos púlpitos, dizem que a Igreja deveria ficar fora da política, em vez de exigir, como deveriam, que ela cumpra a missão política que lhe cabe, que sempre lhe coube e que ao longo dos séculos ela sempre cumpriu, que é a de educar e mobilizar os fiéis para a defesa permanente e incondicional dos princípios e valores que justificam a sua própria existência como instituição, princípios e valores esses que são o que há de mais oposto e hostil a toda mentalidade revolucionária, seja ela socialista, nazista, fascista, anarquista, o diabo. Como depositária da mais imutável e supra-histórica das mensagens, a Igreja não pode jamais ser apolítica, no mínimo porque foi ela mesma que, inspirada nessa mensagem, criou as bases de todas as noções essenciais da política no Ocidente, a começar pelas de liberdade civil e direitos humanos. Principalmente não poderia sê-lo numa época em que a tendência dominante se inspira na ambição revolucionária de historicizar o Evangelho, trazendo o Juízo Final para dentro do acontecer temporal e usurpando para um partido político o papel de juiz da humanidade, que incumbe exclusivamente a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Aqueles que forçam a Igreja a escolher entre ser de esquerda e abster-se de fazer política a obrigam, na prática, a optar pela primeira alternativa, que tem ao menos o mérito de ser possível.
Todas essas precauções, toda essa pusilanimidade, todas essas concessões ao adversário não impedem, antes estimulam que este os carimbe não só como direitistas mas como extremistas de direita e golpistas e mobilize contra eles todas as armas do ridículo e da intimidação. A sucessão de humilhações que assim atraem sobre si mesmos culmina na decisão do arcebispo Odilo Scherer de proibir a missa do movimento “Cansei” na Catedral da Sé, espaço reservado, como se sabe, aos dignos e cristianíssimos membros do PCC, do MST, da CUT, etc, etc. Que essa decisão seja tomada sob a desculpa cínica de ser a Igreja uma instituição apolítica deveria advertir aos prejudicados que eles fizeram muito mal em fornecer a pessoas indignas de confiança o pretexto retórico que agora estas voltam contra eles.
Só falta agora a direita nacional, numa apoteose de bom-mocismo, continuar se dirigindo a esses manipuladores astutos como se fossem porta-vozes autorizados do próprio Jesus Cristo sobre a Terra. Recusar-se a enxergar que a Igreja Católica no Brasil é revolucionária e cismática é o cúmulo da covardia intelectual. Pela sua colaboração pertinaz e maliciosa com a revolução comunista no continente, muitos dos nossos bispos e arcebispos já estão, segundo a letra e o espírito do Código do Direito Canônico, excomungados há muito tempo. O “Decretum Contra Communismum” assinado por Pio XII e confirmado por João XXIII não deixa a menor margem de dúvida quanto a isso. Não há nada a solicitar a esses prelados traidores. O que há a fazer, o que os conservadores brasileiros fariam se tivessem um pouquinho de fibra, é juntar as provas e solicitar ao Vaticano que a excomunhão já vigente de facto seja subscrita oficialmente. Dirigir-se àqueles servos do comunismo com a filial solicitude devida a autênticos Príncipes da Igreja é uma baixeza inominável. Não contem comigo para isso.