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MST mostra que a meta é a tomada do poder

Carlos Soulié do Amaral

O Estado de S. Paulo, 20-22 de junho de 1999

Decorrido já quase um ano da publicação desta notável série de reportagens, o governo, os empresários e a mídia elegante continuam empenhados em dar ao MST a aparência pacífica e nobilitante de um movimento legal, comprometido apenas com a defesa dos delicados sentimentos do ser humano contra a dureza do mundo mau. Reproduzo-a nesta homepage como um lembrete para todas aquelas pessoas maravilhosas que acreditam que o comunismo morreu e que, mesmo se não tivesse morrido, não nos ofereceria o menor perigo, pois São Pentágono vela por nós. — O. de C.

I

Antes de deflagrar a ação, a preparação. Antes de mobilizar a massa, é preciso fortalecer as convicções dos militantes, reacender a mística que os anima para a luta, configurar como ilegítimo “o que está aí”, ou seja, o sistema jurídico e representativo vigente. É preciso chamar a atenção da mídia e das populações urbanas para a causa. A luta pela terra é coisa do passado. O Movimento dos Sem-Terra (MST) e a Coordenadoria Latino-Americana de Organizações do Campo (Cloc), unidos, jamais serão vencidos. Pois unidos vão detonar, com a aceleração da luta de classes, a democracia capitalista e o neoliberalismo que sufocam as esquerdas progressistas.

Somados à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), à Central Única dos Trabalhadores (CUT), ao Partido dos Trabalhadores (PT) e valendo-se do apoio de entidades religiosas “úteis” como a Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Igreja Católica, além de múltiplas organizações não-governamentais (ONGs) nacionais e estrangeiras, dinheiro não é nem será problema para bloquear estradas, promover invasões, ocupações e acampamentos em todo o País, sob o comando da Coordenação-Geral. A meta é a tomada do poder. “Hasta la victoria siempre!”

Estas foram algumas das normas e diretrizes ministradas em português e espanhol aos 93 participantes do Curso de Capacitação de Militâncias do Cone Sul, realizado numa chácara de Sidrolândia (MS), cidade de 18 mil habitantes, limpa e pacata, situada 70 quilômetros ao sul de Campo Grande, a capital do Estado, no início de maio.

Agora, os formados – 44 brasileiros, 21 paraguaios, 17 argentinos, 6 bolivianos e 5 chilenos – aguardam os grandes protestos prometidos pelo MST e pela Cloc, promotores do curso, para “materializar a prática individual e coletiva da Mística”.

Os documentos obtidos com exclusividade pelo Estado foram confirmados por Marcial Congo, representante da Cloc no Brasil, e por Sérgio Reis Marques, do MST e coordenador do curso.

A chácara (um seminário desativado) escolhida para sediar o encontro identifica-se como Centro Cultural São Francisco de Assis. É dirigida por dois frades capuchinhos, conta com algumas vacas leiteiras, um belo açude onde se criam grandes carpas herbívoras, um pomar de frutas variadas e altas mangueiras. Os militantes lembram-se com saudades do curso e dos dias em que gritaram numa só voz, como um pelotão militar, as “questões do coração” que animam a Mística.

O chefe perguntava: “Qual é nossa grande causa?” E eles respondiam: “A libertação do proletariado.” Pausa. Nova pergunta: “Quais são os caminhos para chegar a essa causa?” Resposta: “A reforma agrária e o socialismo.” Então vinha a questão-chave: “Quais são as formas para realizar isso?” Resposta: “Todas as formas de luta possível, tendo sempre em mente o poder.” Exigente, o chefe insistia: “Como?” E os militantes, (formados) numa só voz, repetiam: “Tendo sempre em mente o poder.”

Os frades forneciam o café da manhã, o almoço e o jantar. A comida era farta e a diária, barata: apenas R$ 8 por dia e por pessoa.

O MST por ele mesmo – Ao explicar-se para os companheiros nacionais e hispano-americanos, durante o Curso de Capacitação de Militantes do Cone Sul, o MST esclarece: “Defendemos a idéia de que somente as grandes mobilizações de massa podem alterar a co-relação de forças atuais na sociedade brasileira e colocar na pauta o projeto popular – e não apenas medidas paliativas, como querem setores moderados da oposição; estimulamos todas as formas de luta de massas por necessidade imediata, como ocupações de terras, de moradias, mobilizações de desempregados e ocupações de fábricas; estimulamos outros setores para que também o façam.”

Todo o trabalho do governo federal e dos governos estaduais relativo à reforma agrária é omitido, não existe. “Ao longo de sua trajetória, o MST organizou-se como um movimento social de massas, mas é também um movimento político, porque, ao lutar pela reforma agrária no Brasil, atinge diretamente os interesses da oligarquia rural e do Estado”, diz o documento, preparado pela Coordenação Nacional do MST. Após lembrar que a entidade foi confirmada como movimento nacional em 1984, o documento destaca que “nesses 15 anos de lutas conquistamos terras para mais de 200 mil famílias de trabalhadores rurais em área equivalente a 7 milhões de hectares, depois de mais de 2 mil ocupações massivas de latifúndios”.

Em seguida, sutil, mas orgulhosamente, afirma: “Nas áreas reformadas tentamos desenvolver um novo método de educação, garantindo que todos tenham acesso à escola e sejam aplicados conhecimentos voltados para as necessidades dos trabalhadores.”

Para o MST, os cinco primeiros anos do governo Fernando Henrique Cardoso significam “cinco anos de uma política econômica neoliberal, irresponsável e entreguista, que só trouxe mais dificuldades para o povo, aumento do atraso e da dependência externa do País”.

Para provar, o MST aborda o caso específico da dívida externa: “Em 1994, a dívida somava US$ 146 bilhões e, atualmente, soma US$ 212 bilhões; só de 1989 a 1997 o Brasil desembolsou (juros e amortizações) US$ 216 bilhões; vejam, portanto, que a dívida era de US$ 115 bilhões; pagamos US$ 216 e continuamos devendo US$ 212 bilhões.”

A conta é atrapalhada, mas a Coordenação Nacional parece desprezar detalhes. Prefere atuar como uma profética pitonisa: “Este mandato do governo FHC (99-2002) será de muita crise econômica e de piora nas condições de vida do povo; resta saber se o povo vai aceitar isso de braços cruzados.”

Via Camponesa – Preocupado com a adoção de políticas econômicas neoliberais em quase todos os países do Terceiro Mundo, com a abertura de mercado para as grandes empresas multinacionais e com as altas taxas de juros, o MST está construindo uma grande articulação chamada Via Camponesa, da qual fazem parte mais de 80 organizações em todo o mundo, “para defender uma alternativa a esse modelo neoliberal, de globalização excludente, que só interessa ao capital financeiro internacional”.

Em novembro ocorrerá a 2ª Conferência Internacional da Via Camponesa, na Índia. Na América Latina, o MST atua com a Cloc, com quem planeja realizar uma grande marcha do Canal do Panamá até a fronteira do México com os Estados Unidos, numa manifestação contra a dominação imperialista norte-americana. No Brasil, participa da campanha Jubileu 2000 coletando assinaturas contra o pagamento da dívida externa brasileira e preparando um tribunal internacional para julgá-la. Esse julgamento já tem data marcada. Será no Rio de Janeiro, entre 26 e 28 de abril do ano que vem.

Acima de tudo isso, porém, “o MST se empenha para que as organizações sociais e políticas de esquerda retomem o trabalho de formação de militantes, com uma nova concepção: a de que é possível implantar o socialismo”.

Em Sidrolândia, enquanto observavam o farfalhar das folhas das altas mangueiras que orlam o auditório dos frades capuchinhos, os militantes do MST aprendiam o já sabido. Aprendiam que, em meados do século passado, um estudioso alemão chamado Karl Marx analisou os mecanismos de funcionamento da sociedade capitalista e elaborou uma proposta chamada “socialismo científico”. Aprendiam que, segundo essa proposta, os meios de produção (terras, máquinas, fábricas, etc.) deixam de ser propriedade particular e passam a ser controlados pelos próprios trabalhadores, que também decidem como será feita a partilha dos frutos da produção. Que para alcançar o socialismo, os trabalhadores devem, em primeiro lugar, organizar-se para, mobilizando as massas, conquistar o poder político e o controle do Estado. Dirigindo o Estado, os trabalhadores farão a minoria capitalista submeter-se às suas vontades. Começa então a construção do socialismo.

Um militante chileno gritou: “Hasta la victoria!” E um argentino completou: `Siempre!” Ambos foram advertidos que a construção do socialismo é um processo demorado. As folhas das mangueiras continuavam farfalhando. Um mugido de vaca veio de longe, demorou no ar por segundos e, antes que a atenção dos militantes se dispersasse, eles aprenderam que os revolucionários têm de concentrar-se em ganhar o controle dos meios de produção, de comunicação e de distribuição em nível local, regional e nacional. “Os movimentos devem definir, em primeiro lugar, seus papéis em relação ao sistema econômico como classes e não nos termos da distinção legal de cidadãos, que existe no sistema eleitoral; em segundo lugar, devem identificar as divisões de classes que definem a `sociedade civil’ e rechaçar a ideologia que homogeneiza todas as classes como membros da mesma `sociedade civil’ no regime neoliberal vigente.”

Também aprenderam – e este tema foi trabalhado durante dois dias inteiros – que “a igualdade de gênero é um pré-requisito para a transformação social que o MST e os movimentos revolucionários propõem”. A questão de gênero foi ministrada pela professora Izabel Green. Em síntese, as aulas ensinaram que a luta dos sem-terra e demais “progressistas” por igualdade entre homens e mulheres, entre o gênero masculino e o feminino, “se baseia na solidariedade de classes para a reforma agrária, a socialização dos bancos, dos meios de comunicação e do Estado”.

E ainda que “os movimentos revolucionários e suas líderes femininas propõem uma aliança de mulheres dentro da luta de classes por reforma agrária contra a proposta neoliberal que subordina mulheres camponesas a mulheres burguesas”.

II

O Curso de Capacitação de Militantes de Base do Cone Sul promovido e ministrado pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) e pela Coordenadora Latino-Americana de Organizações do Campo (Cloc) no início de maio, em Sidrolândia (MS), contou com a presença do governador do Estado, Zeca do PT, na sua inauguração. A Metodologia e a Mística tiveram destaque especial. Segundo a definição do texto-base que conduziu o curso, Metodologia “é um conjunto de técnicas e procedimentos educativos ligados a uma visão de mundo e a uma opção política; é o caminho que percorremos para alcançar determinados objetivos”.

A Mística foi definida como a “alma das esquerdas”, como “a paixão que anima a militância”, como “palavra de origem religiosa, alimentada pela esperança de um objetivo a ser alcançado”.

Seja o que for, o importante é que a Mística se transforme em “uma causa” e o militante passe a viver por ela. No entender do MST, a materialização da Mística dá-se pela prática individual e coletiva. “Por isso, é necessário manter, em nível nacional e estadual, equipes treinadas para alimentar a Mística.”

Na aprazível chácara denominada Centro Cultural São Francisco de Assis, na periferia de Sidrolândia, a 70 quilômetros da capital do Estado, os militantes do MST vindos de São Paulo, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Goiás, Rondônia e Brasília, juntaram-se a companheiros paraguaios, argentinos, bolivianos e chilenos, formando um contingente de 93 “agentes de transformação social”.

Símbolos – Ali aprenderam que, “na Mística, os símbolos desempenham o papel de guias que representam o esforço coletivo; não são mitos, são reais e, por isso, cantar o Hino (Nacional) com os punhos fechados não é um simples gesto, representa desobediência à ordem estabelecida”. A bandeira e a foice são os principais símbolos do MST e devem ser exibidos com orgulho e destaque nas caminhadas, ocupações de prédios públicos, marchas, acampamentos e invasões de terra. “A militância precisa de um templo que consolide seu caráter e o compromisso com os ideais de uma nova sociedade: a Mística tem essa função!”

Quem decide as linhas, as formas e as cores da Mística? “Essa é uma tarefa desenvolvida pelos dirigentes que, por lógica, possuem a visão do futuro com clareza e vivem a esperança de transformações com maior intensidade.” Por esse motivo cabe aos militantes manter a disciplina no cumprimento dos acordos coletivos feitos pelos dirigentes e nunca os entender como uma ordem de cima.

“A disciplina brota do interior do militante como uma postura de zelo e segurança pela própria vida e pela vida do movimento; as orientações construídas coletivamente ajudam a combater dentro de cada um o vício de amparar-se nos outros, a mania de improvisação e a idéia da concorrência.” E para que as brasas da Mística permaneçam rubras e ardentes é preciso jamais esquecer o objetivo – a libertação do proletariado e a tomada dos bens de produção. Ao mesmo tempo, os militantes não podem deixar de acreditar que “são válidas todas as formas de luta possível, tendo sempre em mente o poder”.

Luta pela terra – No âmbito da Metodologia, a Coordenação-Geral do MST considera “fundamental” tornar claro “quais são as relações já superadas na questão da luta pela terra e pela reforma agrária”. Nesse ponto se tornam escombros as tentativas do governo, da Justiça e de todos os que tentam resolver os conflitos pipocados pelo MST em diversos pontos do território nacional. “A reforma agrária ganhou outra dimensão e já não deve ser feita por `razões econômicas’ como no passado e, sim, por `razões políticas’ ou, se quisermos, por `razões ideológicas’, tendo em vista que vivemos um tempo de disputas mais amplas”, decreta o texto-base oficial intitulado Lições Históricas da Luta Pela Reforma Agrária no Brasil, especialmente redigido para ser estudado durante o curso.

O documento é claro e direto. “Apenas ocupar a terra para trabalhar é uma posição já superada; essa posição se esgotou na luta pela conquista da terra vivenciada pelo MST na década passada e isso se comprova por duas razões: primeira – pela `facilidade’ de ocupar latifúndios, tendo em vista a queda do preço da terra (no começo dos anos 80, uma ocupação era uma verdadeira operação de guerra, enquanto hoje qualquer líder um pouco inteligente consegue organizar ocupações em todo o Brasil); segunda – a disputa fundamental não se dá mais entre sem-terras e fazendeiros, mas, sim, entre os sem-terra e o Estado.”

Desenvolvendo o tema, o documento apresenta o atual exercício dialético do MST. “No fim da década de 80, quando formulamos o grito de guerra `Ocupar, Resistir e Produzir’, a resistência era uma necessidade fundamental para conseguir permanecer nas áreas ocupadas ou para garantir um lugar para acampar depois da retirada, mas, agora, a resistência em si mesma já não se justifica; precisamos combinar novas formas de luta na sociedade. A ação militar sem orientação e controle político é como uma árvore sem raízes. Precisamos articular nossa resistência com a sociedade local, nacional e internacional para conseguir vitórias econômicas e políticas importantes, com a participação do maior número de pessoas possível”, informa o texto.

“A fase da luta pela terra como necessidade da categoria dos `sem-terra’ foi importante na década passada e no início desta, para dar identidade ao movimento. Mas, se ficar restrita à categoria dos `sem-terra’, a batalha perderá força rapidamente e não se sustentará nem se transformará em verdadeira luta social. A luta corporativa, mesmo que consiga alguma vitória, não será duradoura; as contradições serão cada vez maiores entre os trabalhadores e a burguesia e isso só se resolve quando a luta adquire um caráter político e de classe.”

Exercício – O exercício dialético prossegue tratando do marxismo (“o marxismo é nada mais que a ciência da história em desenvolvimento, uma ciência inesgotável que se alimenta da própria realidade,” etc. etc. etc.); destaca a necessidade de promover ações para aparecer na imprensa, utilizando-a, mas sem se deixar dirigir por ela; salienta que “a luta pela reforma agrária chegou ao ponto de tornar-se uma verdadeira arte,” porque é “um movimento de massas que tem a característica de apresentar-se como verdadeiras ondas, ou seja, depois de grandes enfrentamentos, ela desaparece para `descansar’, recuperar as forças e voltar em outro momento”; ressalta que “um movimento de massas se sustenta por longo período e se mantém em ascensão se a sua sigla organizativa tiver maior expressão que o nome de seus líderes porque, assim, os líderes locais adquirem significado e não só o `líder’ nacional, pois a expressão nacional deve ser o nome da organização, o que facilita que muitas pessoas a representem em muitos lugares ao mesmo tempo e, além disso, derrotas ou erros de `um líder’ não podem comprometer o crescimento e a credibilidade da organização.”

Ao concluir essa “lição”, a Coordenação-Geral do MST avisa que os militantes não podem esquecer-se do objetivo final da organização (o poder) e “devem saber combinar táticas para atacar em diferentes pontos do País, assegurando o potencial de força da organização”. Como de costume e praxe, o novo grito de guerra, em espanhol (numa demonstração de solidariedade aos companheiros do Chile, Argentina, Paraguai e Bolívia presentes), coroou os trabalhos: Hasta la victoria siempre!

Os Cursos de Capacitação de Militantes multiplicam-se e têm dupla finalidade: proporcionar o intercâmbio de informações entre agentes de regiões diversas, além de atualizar as lideranças ativas (e remuneradas) quanto às metas, a doutrina e a estratégia do MST. Tratam com desvelado carinho um tema em torno do qual “a organização” empenha seus melhores esforços: Como Mobilizar a Massa.

Manual – A pormenorização de etapas e procedimentos chega a ser exagerada. A seguir, alguns itens pinçados do manual elaborado pelo MST sobre essa ciência:

Tudo se extrai da massa – A massa é fonte inesgotável de tudo o que se necessita para a organização. Depende apenas da capacidade e da criatividade dos dirigentes.

Combinação de diferentes formas de luta – A organização de massa não deve bitolar-se em desenvolver uma forma de luta e de pressão apenas. Deve buscar a combinação de diferentes formas para confundir o inimigo e atacar em diferentes frentes. Embora os objetivos táticos sejam diversos, devemos combinar nossos objetivos estratégicos com outras organizações para atuar na terra, nas fábricas, nas escolas, nos bancos, no Parlamento ou naquela luta mais avançada ainda.

A estruturação orgânica – Mobilizar é diferente de organizar. O movimento de massa, além de mobilizado, deve estar profundamente organizado. Sem mobilizar é difícil organizar. Uma coisa depende da outra. A massa cresce e se educa quando se mobiliza. Qualifica os militantes e atrai os indecisos.

A massa tem necessidades e aspirações próprias – Muitas vezes as aspirações do dirigente não são as mesmas da massa. Nesse caso, é preciso desenvolver um trabalho ideológico para fazer com que as aspirações da massa adquiram caráter político e revolucionário.

Os dirigentes – É fundamental reconhecer a importância da direção, que tem a responsabilidade de conduzir a organização, elaborar métodos de trabalho, formular propostas, analisar a realidade, buscar recursos, programar as atividades, colocar bem as lideranças ou quadros, formar mais companheiros para a luta, distribuir as tarefas de acordo com as capacidades, controlar a organização e aplicar todos os princípios revolucionários.

A educação da massa – O conteúdo ideológico e político a ser passado para as massas deve ser planejado antes e transmitido nos momentos de mobilização – ou por meio dos meios de comunicação.

Articulação das lutas – Nenhum movimento, por mais forte que seja, pode sobreviver sem articulação com outros movimentos ou outras forças importantes. A articulação das diversas lutas desenvolvidas por diferentes forças deve primar pelo caráter classista procurando atingir objetivos táticos imediatos e estratégicos a longo prazo.

A massa precisa de vitórias – Ninguém se mobiliza de forma permanente se as mobilizações não trazem resultados concretos. As vitórias, mesmo que pequenas, devem ser comemoradas para servir de estímulo. As vitórias precisam também ser materiais. Não podem ser apenas políticas porque as reinvindicações são concretas (econômicas) e é por elas que ocorrem as mobilizações.

Grupo e massa – Trabalho de grupo e trabalho de massa são duas faces da mesma moeda. Ambos se complementam. Trabalhos de grupo, para nós, é fundamentalmente a organização de núcleos, os grupos-motores , dentro dos assentamentos onde está constituída a base do MST. O trabalho de massa refere-se às mobilizações e às ações programadas visando à conquista da terra, dos meios de produção e do poder, reinvindicações que complementam essa atividade.

III

As manifestações de protesto deflagradas pelo Movimento dos Sem-Terra (MST) e seus aliados prosseguem pipocando no Paraná, em São Paulo, Brasília, Pará, Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco e Goiás. Ao promover saques, seqüestros, invasões, marchas, bloqueios de estradas, ocupações de bancos e prédio públicos, a “organização” está apenas desenvolvendo a “prática diária da Mística que anima os militantes”.

Ao ameaçar, como fez o líder João Pedro Stedile dias atrás, reunido com a cúpula do PT na Câmara dos Deputados, “levar o povo para a rua e quebrar tudo”, o MST está apenas se utilizando da imprensa a favor de seu projeto político, “que é revolucionário e tem por meta a conquista do poder para construir, sobre os escombros do capitalismo, uma sociedade socialista”.

No Curso de Formação de Militantes de Base que o MST e a Coordenadora Latino-Americana de Organizações do Campo (Cloc) promoveram em Sidrolândia (MS), os alunos aprenderam que “a Agitação e a Propaganda têm dois canais: o indireto, através dos meios de comunicação e o direto, que é pessoal, mais vivo, mais eficiente para formar a consciência do povo”.

Ocorre que o povo, avalia o MST, “não tem modo de pensar próprio” e, por essa razão, “precisa ser trabalhado por meio da agitação e da propaganda”. Para tornar o conceito mais claro: “Não dá para fazer uma sem a outra, mas a propaganda se volta (em pichações, rádios, jornais, palestras, panfletos, etc.) para a formação de uma consciência que o povo não tem porque está com a cabeça feita pela idéia da social-democracia, ao passo que a agitação se volta para uma experiência pessoal, direta, que se traduz na luta: é o exemplo.”

Sigla – Embora contrariando a norma pela qual é obrigatório dar maior destaque à sigla da “organização” do que à figura de seus líderes, o MST acata todas as bravatas e ameaças, concretas ou não, de Stedile e alguns outros chefes como Gilmar Mauro, do Paraná, Gilberto Portes, de Brasília, e Egídio Bruneto, de São Paulo.

Os militantes submetem-se à regra da obediência e “os dirigentes, como já estão num nível mais avançado”, situam-se acima das críticas, “pois necessitam de uma Mística diferenciada para não fraquejar e continuar lutando”, como reza o capítulo IV da cartilha intitulada Como Organizar a Massa.

Os dirigentes são o oráculo que guia os militantes, que devem guiar a massa, “que é a fonte inesgotável de tudo o que se necessita para a organização e que, para ser mobilizada, depende apenas de capacidade e da criatividade dos dirigentes”.

Neste fim de semestre e antes das eleições municipais do próximo ano, o MST não só reformulou seu grito de guerra (que passa a ser Até a Vitória, Sempre!), como também atualizou o que considera seu “principal desafio”. Este resume-se na “ocupação de múltiplos espaços na sociedade”. O fundamento teórico que a organização apresenta para alicerçar seu novo direcionamento é o seguinte: “Ocupar e controlar espaços é ter poder; a ocupação de espaços deixa de ser uma ação oportunista para transformar-se em atitude revolucionária, se estiver dentro de uma estratégia de acúmulo de forças para alcançar um objetivo.”

O programa para vencer “o desafio” desenvolve-se sem nenhum disfarce ou timidez, até pôr o MST e o pretexto da “reforma agrária” na cabeça e no comando da vanguarda revolucionária.

Os postulados iniciam-se com um gesto amigo, propondo a tese da Vanguarda Compartilhada, uma composição de forças que podem manifestar-se em forma de partido, organização política, exército revolucionário ou frente ampla. “Portanto, não é a organização que se intitula vanguarda, mas a aceitação da capacidade que ela tem para dirigir o processo revolucionário é que a torna expressão e referência política”, defende o programa. E afirma, em seguida: “Esse espaço está vazio no Brasil por dois motivos fundamentais, que são: os desvios de princípios e a incapacidade de formular métodos corretos, que envolvam toda a sociedade em lutas de massas.”

Apontando provas, o MST declara: “A Central Única dos Trabalhadores (CUT) faz propaganda e agitação; a diferença com o PC do B é que este não tem tendência e, portanto, tem unidade; o PT tem muitas tendências e, por isso, não tem jornal nem eficiência na propaganda; o MST está zelando para manter a unidade e sua sigla representa a mesma coisa em qualquer lugar.”

Na seqüência, o programa lembra que “a força de transformação está nas massas organizadas e, por isso, não basta criar um partido ou uma organização qualquer, é preciso saber se esta tem influência e está enraizada na mobilização de massas; por outro lado, para ser vanguarda, a organização deve formular e seguir sempre a teoria revolucionária para ter condições de realizar a revolução”.

Tarefa – O coroamento dos argumentos e justificativas precedentes, finalmente emerge, seco e enérgico: “Nossa tarefa é colocar a Reforma Agrária no centro da luta e torná-la a bandeira capaz de unificar a sociedade em relação a um objetivo estratégico maior.”

O complemento dessa tarefa é eleger o MST como “a organização”, cegamente, “sem nos preocuparmos em saber quem são seus líderes”. E, para concluir, “depois disso, devemos procurar quais são as organizações que têm caráter e princípios voltados para a preparação revolucionária do povo e, assim, estabelecer critérios em torno de pontos convergentes.”

Seguem-se algumas diretrizes básicas para que uma vanguarda revolucionária se consolide. Dentre elas, “capacidade de propor, organizar e conduzir diferentes formas de lutas, para acumular forças, mantendo as pessoas disciplinadas; capacidade de conduzir disputas nos terrenos econômico, político e ideológico; cuidar da formação ideológica de quadros e núcleos em todos os níveis; saber enfrentar disputas com forças reformistas que vierem a desviar o rumo da luta de classes; ocupar o espaço da divulgação e da prática dos princípios políticos revolucionários”.

De repente, aflora esta máxima: “Como a água é capaz de fazer seu caminho de acordo com as circunstâncias naturais que encontra, também o militante e a organização devem preparar a vitória a partir da ubiquação do inimigo, para alcançar os objetivos fixados.”

A Mística volta a ser exaltada como “a arte de incentivar e manter os lutadores animados e felizes”, como “a força que vence a depressão depois de uma derrota” e como “a razão para lutar com outros por uma grande causa coletiva, o socialismo, causa pela qual vale a pena lutar e morrer!”

Na ocupação de novos espaços que propõe a si mesmo, o MST quer “vincular a reforma agrária como `uma luta de todos’ nas áreas oficiais que dão forma orgânica à sociedade”. Para atingir esse objetivo, ajusta sua mira na direção das “prefeituras dos municípios do interior que podem ter influência dos assentados, onde geramos renda e dinamizamos a economia”.

Também “as Câmaras Municipais podem ser um espaço para contribuir, solucionando os problemas da sociedade local”. Além desses alvos, a mira aponta para “os sindicatos de trabalhadores rurais, que na maioria dos lugares se dispersaram, mas ainda possuem força moral e referência política”.

Escolas – O MST não se esquece das escolas, faculdades e igrejas, principalmente as igrejas. A imensa importância logística de milhares de paróquias espalhadas por todo o território nacional, interligadas e conectadas, “muito contribuiu para desenvolver o MST, através de suas pastorais”, reconhece a organização. A meta é o poder, “é ocupar os espaços que se conformam na superestrutura da sociedade”.

No fim do curso, um aviso aos navegantes: “Se alguém disser que esses espaços não devem ser ocupados por nossa organização, pois esses temas não nos competem, digamos sem receio de estarmos equivocados: os audazes sempre prevalecem sobre os medrosos!”

Até a vitória, sempre!

Jurisprudência hedionda

Olavo de Carvalho

República, 15 de junho de 1999.

Sexta-feira, 14 de maio, fui convidado pelo programa Opinião Nacional, da TV Cultura de São Paulo, a dizer por telefone, do Rio, o que pensava das quotas raciais nos empregos. O que penso é simples: conferir direitos especiais aos cidadãos de determinada raça é negá-los aos de outras raças; é racismo descarado. Porém, mal eu havia começado a dizê-lo, o entrevistador Heródoto Barbeiro me informou que um outro convidado, diante das câmeras, iria responder às minhas abreviadíssimas declarações de entrevistado invisível.

Era um advogado de nome Hédio — sim, Hédio — da Silva Júnior, fundador de um tal Centro de Estudos de Relações de Trabalho e Desigualdade e especialista em processos de negros contra brancos. Não fiquei sabendo se o doutor era branco ou preto, pois minha TV a cabo estava desligada por falta de pagamento. O que pude compreender do que ouvi foi que até o momento seus clientes são raros, já que a população negra não está consciente de ser vítima do racismo, e ainda mais escassos os seus possíveis sucessos forenses, já que a população branca não está consciente de ser racista e assim é quase impossível provar crime de racismo. No intuito de remediar tão lamentável situação, empenha-se o referido causídico numa campanha de esclarecimento para que os brancos se tornem racistas assumidos e os pretos se sintam horrivelmente discriminados — um resultado que, segundo ele, trará a completa e definitiva eliminação do racismo brasileiro.

Um exemplo dos métodos usados para tão nobre finalidade consiste em apregoar que qualquer anúncio de emprego que exija “boa aparência” exclui, por hipótese, os candidatos pretos, todos de péssima aparência na aparente opinião do dr. Hédio. Se o anunciante nem de longe pensou nisso, dane-se: como se trata de racismo inconsciente, pouco importa o que você pensa que está fazendo — quem sabe é o dr. Hédio. Ele lhe dirá quais foram suas intenções inconscientes — e você irá parar na cadeia por um crime que não sabe que cometeu.

O dr. Hédio inaugura, com isso, uma revolução jurídica de conseqüências portentosas. Na antiga ciência do direito, o criminoso não podia alegar ignorância da lei. Na nova, ninguém poderá alegar ignorância dos conteúdos do próprio inconsciente. A invenção é inteiramente original no mundo jurídico, já que seu único antecedente foi no campo da literatura de ficção (v. Franz Kafka, O Processo). Em homenagem a seu criador, será portanto denominada, no futuro, jurisprudência hedionda.

Mas tudo isso só chegou ao meu conhecimento depois, quando uma boa alma paulista me reproduziu parte da entrevista gravada. Na hora, só o que ouvi foi a resposta que o dr. Hédio me ofereceu diante das câmeras — um insulto seguido de uma mentira:

— Esse é o discurso típico de um servidor do poder. É um argumento desatualizado, que foi muito usado durante a ditadura.

Revidei o insulto mais ou menos assim. A causa defendida pelo dr. Hédio tem o apoio do governo Bill Clinton, da Rainha da Inglaterra, da ONU, do Banco Mundial, das fundações Ford e Rockefeller, de centenas de empresas multinacionais, do New York Times e todo o establishment midiático norte-americano, do nosso presidente e sua digníssima esposa, da Rede Globo, da TV Cultura — e eu é que sou um servidor do poder! A estratégia assumida dos poderes globalistas contra as nações é precisamente fomentar lealdades supranacionais (raciais, sexuais, ecológicas) para enfraquecer a unidade das culturas nacionais e solapar o poder dos Estados. Eles gastam nisso rios de dinheiro, inclusive no programa de educação discriminatória (só para negros) financiado no Brasil pelo Bank Boston — tudo para garantir as costas quentes de gente como o dr. Hédio. Esse doutor era realmente um cara de pau.

Mais tarde descobri que o dr. Hédio recebe ajuda em dinheiro da União Européia e da Fundação Ford. Ele não é portanto um “servo” do poder: é um empregado bem pago. É um representante imperialismo cultural empenhado em jogar brasileiros contra brasileiros, em destruir nossa confiança no alto valor da nossa cultura inter-racial para que, esquecidos da nossa superioridade moral nesse ponto, consintamos na abjeção de receber lições de democracia racial de um povo que finge combater seu próprio racismo invertendo os polos da discriminação. É um propagandista da demagogia globalista politically correct, o mais pérfido instrumento que alguém já inventou para quebrar o pacto da lealdade nacional, dividindo para reinar. Como advogado que incita os negros a se sentir discriminados quando não o são e os brancos a assumir à força de chantagem emocional um racismo que abominam, o dr. Hédio vive disso, ganha com isso e não tem com isso o menor drama de consciência: quem poderá abalar aquela firmeza de convicção que nasce do matrimônio indissolúvel entre uma ideologia insana e um sólido interesse profissional? O rótulo difamatório de “servidor do poder” que o doutor colava na minha testa era enfim a mesma coisa que aquele racismo que ele atribuía aos outros: pura autoprojeção. E a população negra deste país há de depositar sua confiança nesse tipo de gente?

À segunda observação do dr. Hédio eu teria respondido, se pudesse, que o debate das quotas foi posterior ao fim da ditadura e não pode antes disso ter suscitado qualquer argumento que fosse; que portanto a estapafúrdia alegação hédica, hediana, hedionda ou hediota só se explicava pelo safadíssimo desejo de criar um comprometimento artificioso da minha imagem com a de uma ditadura que, na época, só não me pôs na cadeia porque não chegou a minha vez. Mas não pude dizer mais nada: diante da minha resposta à primeira parte, o entrevistador Barbeiro agradeceu gentilmente minha participação e desligou rapidinho, ciente de que fizera, ao me convidar, a maior barbeiragem. Afinal, todo o programa fora calculado para realçar, com dinheiro público, o charme e a simpatia das doutrinas hediondas.

NOTA

Com o título editorial “Só preto, com preconceito” , este artigo saiu na revista República de junho de 1999, em reação a um insulto claramente difamatório que me fora lançado pelo dr. Hédio da Silva no programa Opinião Nacional, da TV Cultura de São Paulo. Fui ali chamado de “servo do poder”. O sujeito podia ter-me chamado de qualquer coisa, que eu nem ligaria. Disso, não. Ninguém tem o direito de colar esse rótulo infamante na testa de um homem que para conservar sua independência consentiu em não ter casa própria, nem carro, nem cartão de crédito, nem cheque especial, e que tanto ama essa independência que nem chega a sentir falta dessas coisas não obstante úteis e saudáveis; de um homem que sempre viveu de seu trabalho e nunca recebeu (nem pediu) subsídio de poderoso nenhum, brasileiro ou estrangeiro; de um homem, sobretudo, que se alguma vez abriu a boca foi sempre e sistematicamente para defender o mais fraco: a esquerda, quando a direita mandava; a direita, hoje, quando a esquerda impera e ganha dinheiro a rodo. Fiz minha divisa o apelo de Ortega y Gasset — “En toda lucha de ideas o de sentimientos, cuando veáis que de una parte combaten muchos y de outra pocos, sospechad que la razón está en estos últimos. Noblemente prestad vuestro auxilio a los que son menos contra los que son más” –, e não admito que este meu único ponto de orgulho seja enlameado pelas palavras de um bocó irresponsável que nunca me viu e não sabe quem sou. Desprovido de meios de resposta proporcionais à amplitude de divulgação da ofensa, pois a repercussão da TV é incalculavelmente superior à da palavra escrita, respondi à despropositada agressão verbal por meio do único veículo que estava a meu alcance naquele momento. Inconformado de que eu exercesse, mesmo com limites, o meu direito de resposta, o pretensioso causídico telefonou furioso para a redação de República, ameaçando tomar contra a revista não sei quais providencias judiciais que, na sua imaginação, seriam cabíveis no caso. Valha-me Deus! O sujeito quer insultar à vontade e ainda processar quem responda. Mas pretensões judiciais extravagantes não me espantam num advogado cuja especialidade é defender pessoas que nem sabem que foram ofendidas contra pessoas que nem sabem que as ofenderam. Qualquer que seja o caso, estou aqui aguardando ansiosamente a convocação da Justiça para ter o prazer de repetir na frente da autoridade cada palavra que escrevi neste artigo, acrescentando ainda a seguinte informação comprobatória: o arrogante difamador que se permite chamar os outros de “servos do poder” é autor de uma obrinha jurídica que acaba de ser publicada com o patrocínio da Fundação Ford e da Comunidade Econômica Européia (1).

Disse, repito e provo: Servo do poder é você, Hédio da Silva.

(1) V. Hédio da Silva Jr. Anti-racismo – coletânea de leis brasileiras – federais,estaduais, municipais, São Paulo, Ed. Oliveira Mendes, 1998. Apoio cultural: Comunidade Européia, Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades, Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Fundação Ford. (1a. edição), 311 pp.

P. S. – Se o dr. Hédio quiser responder ao artigo ou à nota que lhe dá fecho, concederei ao distinto, nesta homepage e sem qualquer restrição, aquele mesmo direito de resposta que tanto o escandaliza quando usado para rebater um insulto seu.

O Astrólogo

Por Pedro Sette Câmara

14 de junho de 1999

Saturno na três, júpiter na dez…
Eu sei o que isso dá, e você não.
E digo mais: olhando de viés,
essa lua não vai com seu plutão.

E não me venha dar opinião,
que neste mundo astral não tem talvez.
Eu sou astrólogo — e você não.
Aqui o seu papel é de freguês.

Vejo um jardim repleto de aflições
aqui no meio-céu… A dialética
dos planetas que querem conjunções

talvez se dê de forma pouco ética…
Mas agora, largando essa abstração,
são cem reais aqui na minha mão.

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