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Demonstração de autoridade

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 10 de abril de 2008

Esta notícia passou quase despercebida, mas é uma das mais importantes dos últimos tempos: segundo o Daily Mail de 2 de abril, as autoridades britânicas, pressionadas pela comunidade muçulmana, retiraram os livros homossexuais do currículo de duas escolas da cidade de Bristol.

Até hoje, nenhum protesto cristão obteve resultado tão espetacular, seja em escolas da Europa ou dos EUA. Ao contrário, o ensino do homossexualismo expande-se formidavelmente até mesmo para crianças pequenas que não têm ainda sequer uma idéia clara do que são relações heterossexuais . Na mesma medida, aumenta a pressão do establishment contra as pregações religiosas, multiplicando-se por toda parte as ameaças. boicotes e punições voltados exclusivamente contra as organizações cristãs (v. http://www.silencingchristians.com/ ), jamais contra as muçulmanas. À atenção especial que estas últimas recebem do governo britânico correspondem, nos EUA, inúmeros e crescentes sinais de uma política midiática e empresarial calculada para dar à comunidade islâmica um estatuto privilegiado. O Walmart, a maior rede de supermercados da América, que em nome da “não-discriminação” chegou a trocar os votos de “Feliz Natal” por “Boas Festas” e a proibir a presença dos músicos do Exército da Salvação até mesmo no pátio dos seus estabelecimentos, acaba de abrir uma loja especial para muçulmanos, com funcionários obrigados a falar árabe e a receber seus clientes com cumprimentos religiosos islâmicos. O significado da medida torna-se mais que nítido quando se sabe que muitos lojistas têm sido punidos pela justiça por insistir em usar somente o inglês nos seus estabelecimentos. Quando a classe empresarial, o governo e a justiça boicotam o uso do idioma nacional e impõem o de uma língua estrangeira, a guerra cultural já alcançou aquele ponto em que a defesa da cultura local se torna crime, e a promoção da cultura estrangeira uma obrigação legal.

Nos EUA, o desprezo da mídia aos sentimentos religiosos dos cristãos contrasta com suas manifestações de deferência quase psicótica ante as sucetibilidades islâmicas, ao ponto de que a simples menção ao sobrenome do meio do pré-candidato democrata Barack Hussein Obama é condenada como sinal de discriminação e “hate crime”.

No episódio de Bristol, a proteção governamental ao movimento gay , que jamais aceitaria recuar ante a indignação das comunidades cristãs, admitiu tranqüilamente fazê-lo por exigência de uma minoria numericamente insignificante, mas acobertada, como já destaquei aqui, pelas simpatias cúmplices de membros da própria Casa Real (v. a nota “Absurdo sensato” em Para compreender a revolução mundial).

No caso, o reconhecimento oficial da autoridade religiosa como princípio demarcador dos limites últimos entre a decência e a indecência foi ostentivamente transferido das entidades cristãs e judaicas para as islâmicas, que se revelaram mais poderosas até do que as organizações gayzistas mais ruidosas e arrogantes. Após expulsar do espaço público a autoridade religiosa tradicional, a cultura do “humanismo secularista” se mostra impotente e servil ante as pretensões de uma nova autoridade, mais prepotente, vinda de fora. O secularismo não entrou na História para fundar uma nova civilização, mas para servir de tampão provisório entre duas civilizações religiosas.

Ódio à realidade

Olavo de Carvalho

Jornal do Brasil, 17 de maio de 2007

O sexo anal pode dar câncer no reto; o oral, câncer na garganta. Excluída a masturbação, que não exige parceiros, eis aí esgotado, com riscos incomparavelmente mais altos que os do abominado tabaco, o rol dos contatos sexuais possíveis numa relação gay. Que haverá nisso de tão excelso para que toda crítica a essas atividades seja proibida por lei?

Decerto estou mais disposto a defender o direito de os senhores parlamentares se entregarem a esses perigosos afazeres do que eles a me deixar acender um único cigarro nas áreas cada vez mais vastas onde o proíbem.

O que não posso entender é que atos prejudiciais à saúde devam ser considerados mais dignos de proteção oficial do que a boa e velha relação conjugal da qual todos nascemos, ao ponto de a simples afirmação da superioridade desta última ser condenada como uma abominação e um crime. Afinal, não é possível fazer sexo oral ou anal sem ter nascido, nem muito menos nascer mediante uma dessas práticas, ao passo que o nascimento as antecede de muitos anos e independe delas por completo. Entre as diversas atividades sexuais, aquela da qual deriva a continuidade da espécie humana tem manifesta prioridade sobre as que se destinam somente a fins lúdicos ou deleitosos, por mais interessantes que estas pareçam a seus aficionados.

Não posso crer que meu pai teria agido melhor se em vez de depositar seu esperma no ventre da minha mãe ele o injetasse no conduto retal do vizinho, de onde o referido líquido iria para a privada na primeira oportunidade. Nem há como imaginar que essas duas hipóteses sejam tão nobres e respeitáveis uma quanto a outra. Por mais que à luz da doutrina gay isto soe até presunçoso, não posso admitir que eu e um cocô sejamos resultados igualmente desejáveis e valiosos de uma relação sexual. Nem suponho que os próprios senhores parlamentares mereçam esse radical nivelamento, ainda que muitos se esforcem para alcançá-lo.

Tudo isso é bastante evidente, e o deputado Clodovil Hernandes é a prova de que não é preciso ser heterossexual para admiti-lo. Se a afirmação do óbvio está em vias de se tornar crime, é porque o ódio do movimento gay não se volta contra injustiças e perseguições reais (infinitamente menores, em todo caso, do que aquelas sofridas pelos cristãos e judeus), mas contra a razão, a lógica, o bom-senso e a civilização. Culturalmente, a ideologia gay nasce de correntes de pensamento que professam destruir a “tirania do logos” e instaurar, em lugar da ordem racional, a pura vontade de poder de um ativismo prepotente e chantagista.

Cada vez que um de seus porta-vozes, como uma nova Rainha de Copas, ordena que todos se prosternem diante de exigências absurdas, ele sabe que não está combatendo “a homofobia”, mas a estrutura da realidade ou, em termos religiosos, o Verbo divino. Só a opção total pela irracionalidade explica que, sob a alegação de proteger uma comunidade contra a mera opinião alheia, se busque submeter a novas perseguições judiciais outras comunidades que não estão expostas ao simples risco de ouvir palavras desagradáveis, mas de morrer em campos de extermínio.

A mensagem que não veio

Olavo de Carvalho


 O Globo, 29 dez. 2001

Muitos amigos estranharam que eu não publicasse aqui a mensagem de Natal que lhes passei por e-mail no dia 24. Mas uma coisa é escrever para um círculo de amigos, outra para um jornal. A única mensagem de Natal que, neste ano de 2001, eu faria estampar num diário de grande circulação seria um inútil apelo a meus colegas jornalistas para que prestassem um pouco de atenção à situação dos cristãos no mundo.

Michael Horowitz, erudito judeu ortodoxo que nobremente assumiu a vanguarda da campanha em defesa dos cristãos perseguidos, calcula que uns 150.000 deles — o total dos mártires dos primeiros séculos — morrem anualmente assassinados pelas ditaduras da China, do Vietnã, da Coréia do Norte, do Irã, do Sudão, etc. Dessas ditaduras, umas são comunistas: cumprem fielmente a máxima leninista de “varrer o cristianismo da face da Terra”. Outras são islâmicas: violam despudoradamente o mandamento corânico que proíbe a coerção em matéria religiosa. Coerentes ou incoerentes, são todas genocidas.

Jesus disse que Deus Pai não aceitaria nossas preces e sacrifícios enquanto não pagássemos o que devemos a nossos irmãos. Uma mensagem de Natal que se omitisse de dizer antes de tudo uma palavra em favor desses mártires seria uma blasfêmia.

Mas seria preciso também reservar umas linhas para aqueles que tentam defendê-los e cujas vozes são abafadas pela indiferença geral. Esses também são mártires, em escala menor. Seu martírio é lutar pelo reconhecimento de fatos que, justamente por ser desprezados pela mídia, não adquirem jamais aquele grau de credibilidade pública que preservaria da pecha de paranóico o homem que os divulga.

Os que sofrem insulto e chacota por dizer verdades não reconhecidas do mundo são imagens vivas do Cristo atado à coluna, entre Anás e Caifás, perguntando em vão: “Se minto, prova-o. Se digo a verdade, por que me bates?”

Se eu, falando do Natal na grande imprensa, nada dissesse deles, meu silêncio seria também insulto e chacota.

É verdade que minha reputação nada sofreria com isso. O insulto e a chacota, quando voltados contra cristãos, não são delito, não são discriminação, não são coisa feia. São a expressão dos altos sentimentos de uma elite falante que hoje é aceita como superior, em moralidade e consciência, a todos os santos da Igreja.

Um representante dessa elite acaba, aliás, de produzir a típica mensagem de Natal dos novos tempos. Em artigo publicado no “Jornal do Brasil” do dia 25, o sr. Gerald Thomas celebra como um grande progresso moral a iniciativa de uma faculdade de filosofia holandesa, a qual, a título de lição de casa, sugeriu a seus alunos heterossexuais que fizessem uma experiência “gay” e em seguida a descrevessem num ensaio literário. Mais pormenorizadamente: a experiência seria na forma de sexo oral, a “fellatio”, devendo prosseguir até o orgasmo e sendo proibido cuspir o esperma ejaculado.

Não se trata propriamente de um experimento, e sim (embora o sr. Thomas decerto o ignore por completo) da aplicação de uma técnica bem conhecida de indução comportamental, descrita por C. A Kiesler em “The Psychology of Commitment”, de 1971, cujo princípio se pode resumir assim: persuadido a adotar por brincadeira uma conduta que reprova, na maioria dos casos o sujeito a aprovará retroativamente. “Tanto mais profunda será a mudança de atitudes, diz Kiesler, quanto mais o comportamento adotado seja inconsistente com as convicções anteriores”. Gostando ou não, os novos adeptos da “fellatio” dirão que gostaram.

Segundo o sr. Thomas, esse procedimento, adotado universalmente, libertaria a humanidade de muitos de seus males, inclusive a guerra americana contra o terrorismo, a qual — quem não sabe? — é puro homossexualismo reprimido. Porém, mais que resolver problemas político-militares, a espetacular inovação pedagógica traria ainda um benefício de ordem espiritual: ela nos levaria, assegura o sr. Thomas, “mais perto da belíssima filosofia prática… de Jesus Cristo”.

O que é o gênio, meus amigos! Ao longo de dois milênios, em todo o cortejo dos papas e doutores, ninguém se deu conta, com a inteligência iluminada do sr. Thomas, de um método tão simples e eficiente de evangelização.

Se não fosse a intervenção providencial desse cavalheiro, jamais teríamos percebido que Nero, Calígula e os outros aficionados da felação descritos na “História dos Doze Césares” de Suetônio estavam mais próximos do espírito cristão do que aqueles mártires que, desconhecendo o verdadeiro sentido da oralidade evangélica, se deixaram devorar pelos leões.

Suponha-se, agora, que eu escrevesse coisa análoga a respeito, não dos cristãos, mas de qualquer das comunidades queridinhas da Nova Ordem Mundial; que eu dissesse, por exemplo, que os índios, ou os chamados “afro-brasileiros”, contribuiriam muito mais para o bem da humanidade se, em vez de se apegar aos complexos ritos de suas religiões de origem, tratassem de chupar os membros uns dos outros.

Alguém tem dúvida de que eu seria preso, processado e condenado, além de flagelado nos jornais como disseminador de preconceitos, como nazista, como inimigo da espécie humana?

Mas, se essas coisas são ditas a respeito de cristãos, tudo se inverte. Mau, preconceituoso, inumano, é o cristão que tenha o desplante de se sentir insultado e aviltado em sua fé pelas palavras do sr. Thomas.

O sr. Thomas, naturalmente, negará qualquer intenção de insultar. Dirá que foi sincero, que no seu entender a identificação da essência do cristianismo com o sexo oral “gay” é a mais alta homenagem que se poderia prestar à fé cristã. Ninguém, ao menos nos meios jornalísticos, porá em dúvida seu direito de acreditar nisso e apregoá-lo. Podem achar que exagerou, que foi de mau gosto, mas jamais admitirão que cometeu um crime. Ao contrário: acharão inconcebível que alguém se magoe, por mero conservadorismo religioso, com uma coisa tão cândida, tão singela, tão… cristã! Tal é o milagre da imaginação moderna: à luz dela, qualquer ilusão autolisonjeira de um membro das classes falantes, por mais estapafúrdia, se torna critério de veracidade e legalidade, sobrepondo-se à opinião de milhões de religiosos, rejeitada como crença subjetiva com base na qual seria injusto julgar um ser humano. E ninguém vê nada de mais em que o total desprezo pelo sentimento alheio coexista, numa mesma alma, com pretensões de moralidade superior.

Uma longa tradição de retórica anticristã preparou a classe culta não somente para receber com simpatia as palavras do sr. Thomas, mas para ouvir com a mais completa indiferença a notícia da morte anual de 150.000 cristãos, não lhe opondo, na melhor das hipóteses, senão um sorriso de desprezo olímpico e incredulidade desdenhosa. Essa mesma opinião letrada, se a notícia lhe fosse dada no dia de Natal, acusaria a mensagem de extemporânea e truculenta. Eis por que preferi deixar essa mensagem para depois do Natal.

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