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A verdadeira direita burra

A verdadeira direita burra

A direita autocastrada

Olavo de Carvalho


Diário do Comércio, 28 de agosto de 2006

Quando me perguntam como quebrar a hegemonia esquerdista, a primeira fórmula que me ocorre é a do poeta austríaco Hugo von Hofmannsthal: “Nada se torna realidade na política de um país se antes não está presente, como espírito, na sua literatura.” A palavra “literatura”, aí, tem a acepção ampla de cultura superior escrita. Criem uma cultura superior na qual predominem os valores liberais e conservadores, e a esquerda não terá mais chance na política. Este resultado não se seguirá automaticamente, é claro, mas sem essa limpeza prévia do terreno mental nenhuma iniciativa política poderá prosperar contra o esquerdismo triunfante e monopolístico.

Entrem numa livraria qualquer e verão nas prateleiras a demonstração clara do que estou dizendo: a ascensão do império petista foi precedida de meio século de ocupação do espaço cultural. Antes de o Estado ser engolido pelo PT, impregnaram-se de esquerdismo militante as idéias, os juízos de valor, as palavras, os sentimentos, até as reações automáticas de aplauso e rejeição. A esquerda dominou de tal modo o imaginário nacional que até quem a detesta não ousa criticá-la senão nos termos dela, como se fosse possível derrotar politicamente o inimigo fortalecendo o controle ideológico que ele exerce sobre a sociedade. Políticos tarimbados como os srs. Marco Maciel, José Sarney ou Cláudio Lembo mimetizam o discurso politicamente correto, esperando atenuar sua imagem de “direitistas” e só conseguindo com isso atrair, junto com o ódio usual, uma boa dose de desprezo.

Essa falsa esperteza, tão miúda e provinciana quanto suicida, é o máximo de inteligência estratégica que um exame histológico atento revelará nos cérebros dos políticos “de direita” neste país. Com a colaboração prestimosa e servil dessas criaturas, os critérios e juízos de valor esquerdistas se impregnaram tão profundamente na mentalidade das classes falantes que já não são reconhecidos como tais: tornaram-se dogmas do senso comum. Nessa atmosfera, não é de estranhar que os eventuais opositores do governo já nem mesmo consigam imaginar o que é uma luta política, mas entendam sob esse termo a mera concorrência eleitoral. Essa é a diferença, no Brasil, entre a esquerda e a “direita”: a primeira quer o poder, a segunda quer apenas mandatos. Mandatos conquistam-se nas eleições; a luta pelo poder abrange um território muito mais amplo. Eleição não é política, é o resultado de uma política preexistente que começa no fundo anônimo e obscuro da sociedade, naquela camada quase invisível onde a hegemonia cultural se traduz como influência sutil exercida sobre as emoções básicas da população.

A esquerda sabe disso, a “direita” não. Os partidos de esquerda marcam sua presença numa variedade impressionante de campos da vida social – escolas, sindicatos, campanhas humanitárias, clínicas de psicoterapia e aconselhamento, telas de cinema, exposições de arte, novelas, programas culturais e educativos da TV, o diabo. A direita só é visível nos comitês eleitorais, às vésperas da votação. Isso é assim já faz muitos anos. Quem quer que tivesse observado esse fenômeno, como eu observei, teria chegado, como cheguei há mais de uma década, à conclusão de que a total esquerdização da vida política nacional era não só previsível como inevitável a prazo mais ou menos curto. Os inumeráveis idiotas – políticos, empresários, intelectuais, oficiais militares – a quem expus essa conclusão em tempo de reverter o processo, e que riram dela do alto de sua ignorância presunçosa, olhavam apenas o panorama eleitoral e, vendo ali a vitória fácil de um Collor, de um Fernando Henrique, proclamavam: a esquerda jamais dominará este país.

Ainda às vésperas das eleições de 2002, algumas dúzias desses sábios, selecionados entre brasileiros e brazilianists, consultados pelo Los Angeles Times, asseguravam que Lula não teria mais de trinta por cento dos votos. Não entendiam que os resultados das eleições anteriores refletiam apenas o conservadorismo residual da população brasileira, o qual, desprovido de canais de expressão cultural e partidária, acabaria por ceder terreno à invasão esquerdista. Tanto mais que esta última tomava o cuidado de não se apresentar ostensivamente como tal, camuflando-se de “populismo” ideologicamente neutro e ludibriando até observadores estrangeiros experientes como Mário Vargas Llosa.

Chamemos de direita, para fins de raciocínio, o conjunto heterogêneo e inorganizado dos que não querem viver sob o socialismo. Eles constituem, segundo uma pesquisa da Folha de S. Paulo, 47 por cento da população brasileira, face a 30 por cento de esquerdistas professos. Os restantes 23 por centro definem-se como centristas, com a ressalva de que aquilo que imaginam como centrismo inclui o apoio ostensivo a propostas conservadoras em matéria de moral e segurança pública. Com ou sem nome, a direita é 70 por cento dos brasileiros. Um programa político ostensivamente conservador teria portanto sucesso eleitoral garantido. Mas, como esse programa não existe — e se tentasse existir teria de vencer em primeiro lugar o desafio de criar uma linguagem própria num panorama semântico já totalmente impregnado de esquerdismo –, o resultado é que a população conservadora acaba votando em candidatos de esquerda nos quais não percebe esquerdismo nenhum mas apenas as qualidades externas mais afins à exigência conservadora, a começar, é claro, pela honestidade e honradez. Mas que honestidade e honradez pode haver em políticos que passam o tempo todo tentando parecer o que não são? E qual político brasileiro, de esquerda ou “direita”, se ocupa hoje de alguma coisa que não seja precisamente isso?

Assim, toda a política brasileira tornou-se um sistema de armadilhas e auto-enganos: o eleitorado vota maciçamente em candidatos que representam o contrário simétrico das suas aspirações, os políticos que poderiam representar essas aspirações recusam-se obstinadamente a fazê-lo e se apegam à busca de uma sobrevivência degradante por meio da parasitagem servil do discurso adversário. É tudo fingimento, hipocrisia, teatro, camuflagem, desconversa. Nenhuma discussão objetiva do que quer que seja é possível nessas condições. Os tais “problemas nacionais” podem esperar sentados: nenhuma discussão política, pelos proximos anos, tocará em nada que tenha algo a ver com a realidade. Nossa única esperança de um despertar coletivo é o programa comunista do Foro de São Paulo alcançar sucesso total e, tranquilizado pela ausência de oposições, arrancar finalmente a máscara e dizer a que veio. Aí a platéia chocada perceberá que, por décadas, viveu entre as névoas de uma fantasia entorpecente. Mas essa tomada de consciência tardia já não servirá para nada, exceto para produzir lágrimas inúteis em torno da vida que poderia ter sido e que não foi.

Entre os homens da “direita”, muitos teimaram em recusar os meus diagnósticos, ao longo dos anos, sob o pretexto de que eu era demasiado pessimista. Nem percebiam o quanto sua resposta provava o que eu dizia. Pessimismo e otimismo são atitudes da mente, são estados subjetivos. Não têm nada a ver com a situação externa, com a realidade das coisas. É possível ser pessimista diante de uma situação objetivamente positiva e otimista quando tudo está perdido. Quando uma descrição do estado de coisas é rejeitada por ser “pessimista”, é claro que o ouvinte está respondendo na clave dos seus estados emocionais e não no da percepção da realidade. Ele não está impugnando um diagnóstico: está reagindo contra os sentimentos desagradáveis que ele lhe infunde. É uma mera reação de autodefesa psicológica, uma autovacina contra a depressão pressentida. Só reage assim quem está fragilizado demais para abstrair-se de estados emocionais e concentrar a atenção na realidade. Os fortes não têm medo de encarar o pior: os fracos fogem dele porque sua mera visão os esmaga. Aquelas afetações de otimismo, fingindo desprezo superior ante as minhas análises deprimentes, não eram senão sintomas de debilidade terminal. A liderança “direitista” já não tinha força nem para admitir sua própria fraqueza.

Um pouco mais adiante, ela agravou mais ainda a sua situação, quando, após a revelação dos crimes do PT, perdeu a oportunidade de denunciar toda a trama comunista do Foro de São Paulo e, por covardia e comodismo, se limitou a críticas moralistas genéricas e sem conteúdo ideológico. Estas podiam facilmente ser apropriadas pela esquerda, e de fato o foram. Rapidamente alguns ratos abandonaram o navio petista e trataram de tirar proveito do naufrágio, sendo ajudados nisso pela recusa obstinada da “direita” de falar de assuntos politicamente incorretos  O único resultado objetivo alcançado pelas denúncias de corrupção no governo foi a ascensão da sra. Heloísa Helena nas pesquisas eleitorais. Agradeçam esse resultado à autocastração voluntária da liderança “direitista”.

Notas da quinzena

Olavo de Carvalho


Jornal da Tarde, 1o de abril de 1999

Adepto da filosofia realista, segundo a qual os cinco sentidos nos mostram a realidade objetiva, há fatos, no entanto, que me fazem duvidar da existência do mundo exterior e me põem em angustiantes dúvidas metafísicas. Um deles é ouvir os governantes do Estado do Rio anunciarem que vão reprimir os assaltantes pelo método de desarmar suas vítimas.

Inútil exclamar, de mãos para o céu: “Será a Benedita?” Inútil, porque é mesmo da Benedita que se trata. E não só dela: também do sr. Garotinho – mais que um nome, um modo de ser. Juntaram-se os dois na varanda, como o General Craveiro e o Oliveira Salazaire da cantiga, a fazeire prupaganda pra guerra se acabaire . Valha-me Deus, que o que se acaba é o mundo se ninguém lhes mete umas camisas-de-força e outra no sr. Carlos Minc, que não é doido, mas finge com perfeição, já que ouve os dois falando e faz que sim com a cabeça – embora este gesto possa também ser interpretado como sinal de resignação filosófica ante o fim dos tempos.

Algum dia, Benê e Nenê anunciarão a solução definitiva para o tráfico de heroína: serão proibidas todas as injeções e fechadas todas as farmácias.

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A revista Época traz uma reportagem de Percival de Souza sobre o cabo Anselmo, o agitador esquerdista que, delatando meio mundo, possibilitou o fim da guerrilha urbana. Os editores, não podendo meter o lápis num texto do decano dos repórteres policiais, vingaram-se da sua neutralidade despejando na manchete de capa todo aquele rancor esquerdista que o tempo, em vez de atenuar, só torna mais insano. A reportagem, em si neutra e imparcial, adquiriu assim um sentido involuntariamente faccioso. Deixa a impressão de que o cabo não traiu um dos lados em disputa, mas o País inteiro. Mais um sinal de que o lobby comunista, firmemente instalado nos altos postos da imprensa nacional, já aboliu todos os escrúpulos de objetividade, mesmo fingida, e partiu para a doutrinação aberta, descarada, sem-vergonha.

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O poder mundial ascendente subjuga os Estados mediante uma política econômica global, enquanto de outro lado os debilita estimulando reivindicações divisionistas entre os cidadãos. Essas duas tarefas cabem respectivamente à “direita” e à “esquerda”, cujas rusguinhas de madames servem para jogar areia nos olhos do público.

Políticas raciais que incentivam ódios a pretexto de proteger minorias são talvez o componente mais maquiavélico dessa estratégia. O Programa de Educação Profissional patrocinado pelo BankBoston para crianças pobres, por exemplo, exclui a priori, em flagrante violação da Lei Afonso Arinos, toda criança que não seja de raça negra. Uma nação tem de ter perdido todo respeito por si mesma para permitir que emissários de um dos países mais racistas do mundo venham achincalhar uma cultura tradicionalmente inter-racial e mestiça, oferecendo-se para proteger brasileiros contra brasileiros por meios ilegais.

Só resta perguntar quanto de ancestralidade negra será preciso para ser admitido no programa. Meu neto André, que é loiro, tem uma gota de sangue negro por parte do bisavô materno. Será isso capital suficiente para abrir uma conta na carteira de crédito racial do BankBoston? Ou haverá testes genéticos para os casos de pureza incerta?

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O Conselho Federal de Psicologia, do alto da sua psicótica onipotência, acaba de editar sua resolução nº. 1/99, que, em substância, afirma: (1) não havendo provas de que o homossexualismo é doença, fica provado que não é; (2) para o psicólogo de ofício, é conduta altamente meritória incentivar a homossexualidade entre os heterossexuais e abominável delito, punível com a cassação do registro profissional, incentivar a heterossexualidade entre os homossexuais. O psicólogo curitibano Carlos Grzybowski já está ameaçado de cassação por violar essa norma bárbara, anticientífica, irracional. Os juristas que possam ajudá-lo a salvar-se da inquisição gay instalada no CFP por favor avisem-no pelo e-mail: catito@avalon.sul.com.br . O que torna o caso de Grzybowski ainda mais apalermante é que a “infração” de que o acusam foi cometida antes de emitida a resolução. Mas, como poderia o CFP respeitar os princípios do Direito, se desconhece os da lógica elementar?

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