Posts Tagged Caco Barcelos

O parteiro do mal

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 29 de maio de 2006

Um leitor me envia a pergunta mais urgente e mais temível dos últimos tempos: Será que todo mundo já esqueceu a gravação, transcrita meses atrás na revista Veja, na qual um líder do PCC confessava que o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, havia ajudado a organização a obter o apoio do MST?

É claro que, sem esse apoio, a matança do dia 15 não teria chegado a acontecer. Ela resultou diretamente da ponte entre as duas organizações criminosas. E quem construiu essa ponte foi o sr. ministro. Se ele não foi o pai da criança, foi pelo menos o parteiro.

Quando vemos, porém, que a mídia e a opinião pública em geral continuam inocentemente tratando S. Excia. como se fosse um virtual portador de soluções em vez de parte do problema, a pergunta é irresistível: Será que todo mundo esqueceu quem é esse cidadão? Será que as galinhas já não sabem – ou não querem — distinguir entre o granjeiro e a raposa?

Não tenho resposta. E não tenho um remédio mágico para curar a amnésia coletiva dos brasileiros. Em compensação, acho que não é só amnésia. Também não é só incapacidade de juntar os fatos e tirar conclusões. A percepção mesma dos fatos singulares, na hora em que acontecem, já é deficiente. No trajeto do olho ao cérebro, são tantos os neurônios dorminhocos estendidos pelo caminho, que a coitada da informação vai tropeçando, tropeçando, e não chega nunca. Em qualquer país medianamente acordado, um ministro suspeito de colaborar tão intimamente com duas gangues de criminosos seria bombardeado na mídia, afastado do cargo e investigado. No Brasil, a denúncia não ecoou nem nos jornais: morreu ali mesmo, nas páginas de Veja, como se nunca tivesse sido publicada. O sr. Bastos continuou no seu posto, imperturbado e solene como um cavalo de bronze indiferente aos cocôs de passarinhos.

Antes disso, a declaração do sr. Olivério Medina, de que havia trazido cinco milhões de dólares das Farc para a campanha do PT, também foi amortecida com reconfortante facilidade. Alguém alegou que fôra apenas uma bravata, e imediatamente a explicação foi aceita como um motivo razoável para não perturbar o sr. Medina, mesmo depois de preso, com perguntas inquietantes.      

Em compensação, qualquer especulação idiota contra os militares brasileiros, mesmo quando contraria a lógica e o senso de realidade, é alardeada como se fosse uma verdade definitiva, uma revelação dos céus.

Jamais esquecerei a história do terrorista que, assassinado e colocado por malvados milicos num automóvel em velocidade para simular acidente, emergiu do além para frear o veículo em tempo de não morrer de novo. Essa estupidez foi trombeteada pela Rede Globo durante uma semana inteira e, mesmo depois de demonstrada a sua absoluta impossibilidade física, rendeu dois prêmios jornalísticos ao seu inventor, Caco Barcelos.

Nem sai dos meus pesadelos o episódio do soldadinho que, na urgência de sumir com documentos comprometedores, vendo que não tinha cinco minutos para lhes atear fogo, optou por passar algumas horas cavando um vasto buraco para enterrá-los.

E, por mais desmemoriada que esteja a nação, talvez ainda recorde por alto as fotos do falso Vladimir Herzog, fartamente exibidas como provas da crueldade militar até ser demonstrado que as imagens do preso cabisbaixo e deprimido na beira da cama eram, de fato, as de um padre num bordel, recuperando forças após o extenuante exercício da cópula em doses cardinalícias.

Os casos dessa natureza são centenas. Mas, em sã consciência, não posso atribuí-los à pura incompetência jornalística, por mais disseminada que esteja. Nenhuma incompetência é ideologicamente seletiva. Incompetentes genuínos errariam, de vez em quando, contra a esquerda. Façam uma revisão dos jornais dos últimos trinta anos e verão que isso jamais aconteceu. Lapsos, distrações, burradas, inconseqüências, são sempre contra os mesmos alvos – os militares, o “imperialismo”, a “direita”.

Outro detalhe que me chama a atenção nesse assalto persistente e sistemático à honra das Forças Armadas é a reação sempre tímida, quase envergonhada, dos comandos militares. No máximo soltam uma notinha oficial de protesto, que ninguém lê. Nunca processam ninguém, nunca fazem nenhum engraçadinho pagar pelo crime de calúnia dolosa. O resultado dessa circunspecção paralítica é bastante pedagógico: ano após ano os detratores aprendem, diretamente dos próprios comandos das três armas, que a mentira antimilitar é barata e rentável.

Quando estreei na prática do jornalismo aprendi que a essência da técnica profissional era a capacidade de apreender a importância relativa dos fatos e de discernir entre os verdadeiros e os falsos. Na época, isso não parecia ser objeto de dúvida entre meus colegas. Transcorridos quarenta anos, noto que essa capacidade distintiva elementar foi atrofiada, sufocada e por fim proibida no jornalismo nacional. Não por coincidência, isso aconteceu precisamente nos anos em que os jornalistas passaram a falar obsessivamente de “ética”. É claro que a única ética imperante no jornalismo nacional consiste em mentir a favor do lado certo. A chave do enigma reside portanto em saber o que é que entendem por “lado certo”.

Que as crenças e valores gerais recortam e determinam em grande parte a percepção dos fatos, é algo que nenhum psicólogo jamais colocou em dúvida. Os antigos retóricos romanos já sabiam que a boa fama de um cidadão às vezes pesa mais do que centenas de provas contra ele. Quando a mentira se torna hábito e prática sistêmica de toda uma corporação profissional, é porque houve, antes disso, alguma mudança profunda na índole dos seus sentimentos morais. O império da mentira esquerdista na mídia brasileira tem de ser explicado, portanto, como efeito de uma mudança geral do código de valores imperante na sociedade brasileira.

Essa mudança de fato ocorreu e não foi nenhum fenômeno social espontâneo. Há mais de meio século o conjunto de fundações bilionárias e organizações subversivas empenhadas em criar uma nova ordem global paradisíaca vem usando de todo o poder de controle que o dinheiro tem sobre a mídia, o movimento editorial e as escolas, para operar uma mutação radical dos sentimentos morais da humanidade inteira. O fenômeno está hoje tão fartamente documentado que só botocudos isolados da civilização pensariam em negá-lo (não digo que eles não existam mas, por economia de tempo, permito-me não levar suas opiniões em consideração).

O fundo doutrinal dessa mudança vem do ódio milenar que certas seitas ocultistas devotam às religiões tradicionais e aos valores morais que elas ensinaram à humanidade. Entre os séculos XVIII e XIX, algumas dessas organizações saíram do isolamento e se transformaram em movimentos revolucionários de massa. Tal é a origem do comunismo, do fascismo e do nazismo, cujos discursos econômico-sociais não são senão puras construções pretextuais destinadas a encobrir as ambições civilizacionais muito mais vastas e profundas. Esse processo foi bem descrito em clássicos da historiografia e da ciência política como Fire in the Minds of Men, de James H. Billington (1980) e The New Science of Politics de Eric Voegelin (1950). Só a partir de fins do século XIX, no entanto, aparece comprovadamente a penetração da influência gnóstica em círculos de bilionários que então se transfiguram em reformadores do mundo e acabam dando aos mãos aos movimentos revolucionários.

No vasto documentário que reuniram sobre as ambições espirituais do projeto globalista, os pesquisadores Lee Penn, Stanley Montieth, Pascal Bernardin e Ted Flynn, entre dezenas de outros, demonstraram, acima de qualquer possibilidade de dúvida, que as organizações financiadoras da subversão mundial se inspiram diretamente em crenças ocultistas e gnósticas de uma grosseria sem par. Os maiores charlatães espirituais de todos os tempos – Madame Blavatski, Aleister Crowley, Albert Pike, Alice Bailey – são cultuados em altos círculos de potentados financeiros e planejadores sociais como portadores da mensagem celeste destinada a forjar a utopia do Terceiro Milênio. É horrível ver tão descomunal poder político e financeiro ser posto a serviço de ideais tão imbecis e destrutivos, mas quem disse que o dinheiro traz sabedoria? Se dois milênios atrás o destino espiritual da humanidade dependesse do gosto das classes abastadas, a Europa teria sido educada por Simão o Mago e não por Simão Pedro. A novidade do mundo moderno é que a tradição judaico-cristã foi sendo perdida de vista pelas multidões ao mesmo tempo que o veloz enriquecimento capitalista elevava ao sétimo céu do poder famílias inteiras de idiotas presunçosos que acreditam ter no bolso a solução de todos os males humanos. Se não fosse a vaidade insana de Morgans e Carnegies, aberrações ideológicas como o comunismo e o nazismo teriam morrido no berço, por falta de suporte financeiro. Hoje em dia, se não fossem pelas fundações Soros, Ford e MacArthur, não haveria a estupidez neocomunista no Terceiro Mundo, nem tanta inermidade ante o terrorismo no Primeiro. Muito menos haveria o surto mundial de ódio gnóstico ao cristianismo.    

Dentre os itens fundamentais da mutação civilizacional em curso, destaca-se a idéia de desviar o culto religioso dos seus alvos espirituais tradicionais e canalizá-lo no sentido de “ideais sociais” oferecidos como o nec plus ultra da bondade humana.

Ao longo de milênios a humanidade foi educada na base da devoção à bondade infinita, da prática das virtudes e do senso do dever. Um ataque maciço e simultâneo através de livros, filmes, espetáculos de teatro e TV, programas educacionais e ativismo judicial está tratando de abolir rapidamente esse quadro de referência e substituí-lo por slogans casuísticos como “ inclusão”, “justiça social”, “igualdade”, etc. No curso de duas gerações, esses novos símbolos de bom-mocismo lograram penetrar tão profundamente na alma das classes letradas, que hoje têm aí o mesmo valor emocional coercitivo dos Dez Mandamentos. Quem os infringe sente-se um pecador, um réprobo, um inimigo da espécie humana. Na classe jornalística, por exemplo,  não há mais quase ninguém que não esteja persuadido de que esses estereótipos constituem a mensagem essencial das grandes religiões, cuja doutrina efetiva já escapa por completo ao seu horizonte de visão. Quando anos atrás a revista Veja propôs, a sério, a beatificação do sr. Herbert de Souza — o estrategista revolucionário espertalhão que gramscianamente sugou o prestígio do cristianismo para esvaziá-lo do seu conteúdo espiritual e usá-lo como canal de agitação revolucionária –, não fez senão comprovar até que ponto a moral comunista, já tão assimilada que nem se reconhecia como tal, havia ocupado na mente da classe jornalística brasileira o lugar das crenças religiosas mais antigas e fundamentais.

A “revolução cultural” gramsciana é, decerto, apenas uma expressão parcial e localizada de uma mutação muito mais vasta empreendida por um exército de poderes entre os quais se destacam a ONU, a Unesco e as fundações bilionárias. As revoluções morais ali planejadas sucedem-se em rapidez alucinante e em escala tão gigantesca que o cidadão comum não tem sequer os meios de acompanhá-las, quanto mais de apreciá-las criticamente e defender a sua integridade psíquica pessoal que elas violam incessantemente. Em cada terreno, a escalada de novas exigências e cobranças que se substituem aos antigos deveres morais é veloz e prepotente. Só para dar um exemplo, aqueles que ainda estão escandalizados com a idéia do casamento gay, devem agora de se preparar para a etapa seguinte: a Fundação Ford está lançando uma vasta campanha em favor não do simples casamento, mas da poligamia homossexual. A força dessas empreendimentos é irresistível: em menos de uma geração, quem quer que se oponha à idéia de crianças serem criadas por uma tropa de marmanjos entre uma suruba e outra será considerado um sujeito cruel e sem sentimentos, um perseguidor dos oprimidos, um nazista. Projetos do mesmo teor com relação à pedofilia já estão em avançado estado de implementação. O ardil é apelar à liberdade individual como legitimador de “relações consentidas” entre adultos e crianças. Que a coisa é uma mera bolha de sabão verbal, é claro que é. Todo ato de pedofilia é consentido, caso contrário não seria mera pedofilia e sim estupro. Legitimar a pedofilia consentida é legitimar toda e qualquer pedofilia. Isso está no programa e vocês dificilmente sairão desse mundo antes de ver a rejeição do “amor entre homens e meninos” ser condenada como atitude socialmente inaceitável.

Muito antes de se disseminar na sociedade em geral, essas mutações afetam a cabeça das classes letradas, dos “intelectuais” no sentido gramsciano do termo. E os jornalistas são, entre os “intelectuais”, um alvo prioritário das lutas pela conquista das consciências. Especialmente no Brasil, país sem quaisquer tradições culturais sólidas que possam oferecer resistência ao assalto da utopia globalista, essas coisas penetram e se arraigam com impressionante facilidade, tornando-se o próprio cimento para a construção de personalidades adaptadas à “nova civilização”. Vocês podem ter a certeza de que, entre os jornalistas brasileiros, essa é a crença, essa é a moral, esse é o sentimento orientador. A perversão cultural que os afetou é funda e letal ao ponto de abolir em suas mentes o próprio senso de realidade, quanto mais a habilidade jornalística de distinguir o verdadeiro do falso. Toda uma geração de jornalistas, independentemente das convicções políticas nominais de cada um, enxerga o mundo por um prisma onde o único pecado é violar os mandamentos da sensibilidade politicamente correta. Para evitar a experiência de isolamento e exclusão decorrente de eventuais transgressões, eles fazem tudo. Até esquecer que o ministro da Justiça é o padrinho da aliança PCC-MST.

Os novos ditadores

Olavo de Carvalho


O Globo, 29 de setembro de 2001

O Prêmio Imprensa da Embratel foi atribuído este ano à série de TV na qual o repórter Caco Barcelos acusava o Exército de ter assassinado a tiros um casal de terroristas e simulado um acidente rodoviário para ocultar o crime.

Barcelos já recebeu vários prêmios, decerto merecidos. Mas este ele não deveu a nenhum mérito profissional, e sim a uma decisão política destinada a legitimar como bom jornalismo uma farsa já desmascarada, por esta mesma coluna, em 28 de abril de 2001. O que a Embratel acaba de premiar é uma mentira inventada por um soldado desertor que, na tentativa de extorquir do Exército vantagens indevidas, se apresentou — e foi aceito pelo repórter — como testemunha participante de fatos que, se tivessem ocorrido, não poderiam ter sido presenciados por ele: nenhum praça que fuja do quartel aparece atuando numa operação militar dois meses depois de constatada oficialmente sua deserção.

Não creio que Caco Barcelos tenha agido de má-fé. Mas é nítido que se deixou usar como instrumento de uma fraude grotesca e pueril. Ele diz ter pesquisado durante um ano para desencavar suas informações. Mas não seria preciso mais de três horas para obter, no Exército e em livros de domínio público, os documentos que as impugnavam por completo, que não poderiam ter sido ignorados por um pesquisador atento e que depois foram postos à disposição do público no site http://www.ternuma.com.br.

Outras incongruências, ainda mais graves que a mencionada, faziam da reportagem uma invencionice tosca que, se não podia ser aceita como jornalismo, também não se saía melhor como obra de desinformação, tão ingênuas e frágeis eram as bases de papelão que a sustentavam. Os terroristas, que segundo a pretensa testemunha teriam sido mortos em 8 de novembro de 1968, participaram de um assalto três dias depois, segundo o relato — bem mais confiável — de Jacob Gorender. E a alegada simulação de acidente rodoviário era descrita na reportagem em termos que a tornavam fisicamente impossível: as fotos mostravam, na pista, a um metro de distância do local do choque, as marcas de frenagem do carro trombado. Se as vítimas foram postas no veículo já mortas, quem pisou no freio? Um agente kamikaze das forças de segurança, cujo cadáver em seguida se desmaterializou? Ou um ser sobrenatural capaz de frear e sair voando pela janela ao mesmo tempo?

Um recruta que permanece em serviço depois de desertar, dois mortos que ressuscitam às pressas para tentar impedir sua própria morte e depois ainda cometem um assalto — com esses elementos não se constrói uma reportagem, não se constrói nem mesmo uma mentira: só se constrói um insulto à inteligência humana.

Um romance, um filme ou peça de teatro pretensamente históricos podem conservar seu valor quando os fatos que narra se demonstrem falsos. Os méritos da obra de imaginação não dependem de fidelidade ao real. Mas uma reportagem se constitui de fatos e somente de fatos: sem fatos, ela inteira não vale nada. Nada ali portanto restava para ser premiado, exceto a intenção política, muito mal realizada, de desmoralizar o Exército mediante uma acusação falsa.

Premiar uma coisa dessas é desmentir a definição mesma do jornalismo, o qual se distingue da ficção e da propaganda por um certo compromisso intrínseco com a verdade e a prova, compromisso que, no caso presente, foi radicalmente desatendido.

Mas não se pode acusar a Embratel de remar contra a corrente. Boa parte da classe jornalística brasileira já perdeu os últimos escrúpulos e aderiu festivamente à desinformação sistemática que antes se fazia em tablóides de propaganda esquerdista, bem longe da imprensa profissional que, mesmo na polêmica, conservava alguma imparcialidade. Os leitores, privados de alternativas, não apenas passaram a aceitar esse tipo de jornalismo como o único possível mas já estão adestrados para estranhar e rejeitar, como indecência reacionária, o simples exercício do direito de duvidar do que sai publicado.

Há trinta anos não se vê nos jornais deste país, exceto em raros artigos assinados por dissidentes marginalizados, uma única menção às violências cometidas pelos esquerdistas contra o mais brando e tolerante dos regimes autoritários; regime que só tardiamente e a contragosto consentiu no endurecimento de 1968, depois de falhadas todas as tentativas de conter a violência revolucionária mediante o expediente incruento das demissões e cassações, e depois que 84 bombas terroristas já tinham explodido em vários estados, matando transeuntes que nem tinham idéia do que se passava.

A simples cronologia dos fatos mostra que a ditadura não se constituiu como barreira premeditada contra anseios de democracia, mas como anteparo improvisado para deter uma avalanche de crimes hediondos. Por isso ela foi riscada da memória popular e substituída por clichês de propaganda que trinta anos atrás seriam recebidos, mesmo entre militantes de esquerda, com piscadelas de malícia.

Mas não é só a história nacional que sumiu da nossa mídia. Praticamente todos os massacres empreendidos pelos comunistas ao longo desse período, em Cuba, na China, no Vietnã, na África, no Tibete — com não menos de dez milhões de mortos — foram omitidos do noticiário brasileiro ou só mencionados discretamente, com o meticuloso cuidado de não deixar transparecer uma associação demasiado íntima entre os crimes e o lindo ideal político que os produziu, inimputável por direito divino. Enquanto isso, cadernos inteiros de lágrimas e louvores se concediam aos terroristas mortos pelo regime militar, apresentados como combatentes pela democracia e jamais como aquilo que comprovadamente eram: assassinos treinados, a soldo e a mando da ditadura genocida de Fidel Castro.

Também não se pode dizer que o júri do Prêmio Imprensa esteja em descompasso com a moda. Pois a falsificação ideológica das notícias acaba de chegar à apoteose da desinformação com a cobertura da operação Justiça Infinita. A acreditar no grosso da mídia local, o brasileiro fica com a impressão de que a Humanidade está unida contra George W. Bush, de que explosões de pasmo e indignação se voltam por toda parte contra a mobilização americana de combate ao terrorismo e não contra o próprio terrorismo, que é o que se lê na imprensa do mundo civilizado. Somente no Iraque e nos países comunistas é possível enganar tão completamente leitores e espectadores. Brasileiros residentes no exterior escrevem-me revelando seu espanto ante essa barreira de palavras que isola do mundo a nossa opinião pública e a aprisiona num paroquialismo fanático e imbecil. A diferença é que, naquelas ditaduras, os jornalistas são obrigados a fazer isso. Aqui, fazem porque querem, porque gostam, porque são eles mesmos os ditadores, investidos enfim do poder discricionário que por tanto tempo invejaram nos militares.

Veja todos os arquivos por ano