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O plano e o fato

Olavo de Carvalho

Diário do Comércio, 11 de março de 2013

O caso do Dicionário Crítico, que lembrei no artigo “Devotos de um vigarista”, é somente  a figura mais extrema, caricatural e grotesca que o fenômeno assume no Terceiro Mundo, mas ignorar o pensamento do adversário e tampar os ouvidos às objeções são hábitos gerais e infalíveis da intelectualidade esquerdista em toda parte.
Em Thinkers of the New Left (1985), onde examina os principais expoentes de uma escola de pensamento que ainda é a mais influente na esquerda hoje em dia, Roger Scruton observa que nenhum deles jamais deu o menor sinal de querer responder às críticas feitas à teoria marxista por Max Weber, Werner Sombart, F. W. Maitland, Raymond Aron, W. H. Mattlock, Böhm-Bawerk, Popper, Hayek ou von Mises.
Poderia acrescentar Eric Voegelin, Cornelio Fabro, Rosenstock-Huessy, Norman Cohn, Dietrich von Hildebrand, Alain Besançon e uma infinidade de outros autores merecidamente tidos também como clássicos.
No Brasil você não verá nenhum marxista discutindo as objeções de Gilberto Freyre, Mário Ferreira dos Santos, J. O. de Meira Penna, Paulo Mercadante, Antonio Paim, Orlando Tambosi, Ricardo Velez Rodriguez, Gustavo Corção, João Camilo de Oliveira Torres, José Guilherme Merquior.
O marxismo universitário vive e prospera de ignorar a cultura universal das ideéias e sonegá-la aos estudantes. Ao mesmo tempo, infunde neles a impressão sedutora e enganosa de que, por terem lido os autores aprovados pelo Partido, são muito cultos.
Trata-se da forma mais extrema e radical da incultura organizada, da ignorância obrigatória, da burrice prepotente e intolerante.
Enquanto os anticomunistas de todos os matizes não cessam de analisar e refutar o marxismo, escrevendo milhares de livros a respeito, os marxistas fogem sistematicamente ao debate.
Quando não se contentam em baixar sobre os  adversários a mais pesada cortina de silêncio, dedicam-se a difamá-los pelas costas, inventando a respeito as histórias mais escabrosas, tratando-os como criminosos, colocando-os em “listas de inimigos” e cumprindo à risca a regra de Lênin: não discutir com o contestador, mas destrui-lo politicamente, socialmente e, se possível, fisicamente.
Que maior prova se poderia exigir de que essas pessoas, que se atribuem o monopólio de todas as virtudes, são as mais perversas, malignas e desprezíveis que já infestaram a profissão intelectual?
A ascensão da escória marxista ao primeiro plano da vida nacional foi e é a causa principal ou única da destruição da cultura superior e do sistema educacional no Brasil.
Com ares de escândalo e indignação, a Folha noticia a descoberta de um plano do governo militar, concebido pelo ministro Alfredo Buzaid nos anos 70, para refrear a infiltração comunista nas universidades e órgãos de mídia. O plano não foi levado a efeito, tanto que a era dos militares foi o período de maior prosperidade da indústria do livro esquerdista no Brasil e a época da conquista da mídia pelos comunistas. Mas o jornal do sr. Frias não perdoa nem a simples ideia. Que horror, que coisa mais tirânica, mais nazista, pensar em impedir o acesso dos comunistas a todas as cátedras, a todas as páginas de jornais, a todos os megafones!
Oque o sr. Frias e seus empregados fingem ignorar é que aquilo que a ditadura quis fazer e não fez é exatamente o que os comunistas já fizeram e que já está em plena vigência neste País, com uma amplitude e uma rigidez que ultrapassa tudo o que os militares pudessem ter sonhado em matéria de controle hegemônico dos canais de comunicação e ensino. As gerações mais novas,  que não conheceram o Brasil dos anos 50-60, já nasceram dentro dessa atmosfera, que lhes parece normal, e não notam a diferença.
Mas um simples detalhe basta para mostrar o que aconteceu: o ponto de vista cristão-conservador, que era oficialmente o do Estadão, do Globo e parcialmente da própria Folha naquela época, está totalmente excluído, proibido e criminalizado em toda a mídia.
Os editoriais escritos pelos srs. Roberto Marinho e Júlio de Mesquita Filho jamais poderiam ser publicados, hoje, nos próprios jornais que esses homens fundaram, onde o máximo que se permite, num espacinho minoritário, é um pouco de liberalismo chocho e inofensivo, quando não a pura crítica de esquerda a algum desmando ou patifaria mais vistosa do governo petista. Se até essa oposição mole e parcial é hoje abertamente condenada como “extremismo de direita”, é notório que a medida geral de aferição mudou, e quem a mudou foi a própria mídia. E se jornais e canais de TV dão alguma cobertura à Sra. Yoani Sanchez, é precisamente porque esta é anticastrista sem ser anticomunista e suas críticas ao governo cubano são brandas e autocensuradas em comparação com as de outros dissidentes, que contam a história inteira. Estes jamais aparecerão no Globo ou na Folha. E alguém é capaz de imaginar, hoje em dia, uma novela da Globo defendendo os valores cristãos que eram tão caros ao sr. Roberto Marinho?
DPor que uma simples intenção não realizada do governo militar deveria ser considerada mais repugnante e assustadora do que o fato consumado, a mesmíssima intenção realizada em muito maior escala pela esquerda triunfante e dominadora, senhora absoluta das páginas da própria Folha? A simples redação dessa mesma notícia já não revela a inversão de critérios, imposta como norma universal e inquestionável que só loucos e extremistas ousariam contestar? O sr. Frias não sabe ler o seu próprio jornal? Não enxerga que ele mesmo foi, em pessoa, um dos artífices do plano do ministro Buzaid realizado com signo oposto?

Imagens e escravos

Olavo de Carvalho


Jornal da Tarde, São Paulo, 9 de novembro de 2000

A toda hora aparecem porta-vozes do esquerdismo nacional e internacional denunciando casos de trabalho escravo no Brasil. Com aquele ar de seriedade pétrea de que só os cínicos são capazes, eles asseguram que essa coisa horrível veio ao mundo por culpa do neoliberalismo. Não é preciso discutir isso. Obviamente não existe trabalho escravo em nenhum país de economia liberal. Existe algum em países subdesenvolvidos da América Latina governados por burocracias estatizantes. Existe muito nos países da África e da Ásia que mergulhavam na miséria e na barbárie tão logo “libertados” do colonialismo. Mas onde existiu muito mais foi nos países socialistas. Não apenas existiu, mas foi a base mesma da construção da economia socialista.

Na URSS, na China, em Cuba, não se poderia denunciar “casos” de trabalho escravo, não só porque a censura não deixaria, mas também pela simples razão de que ali o trabalho escravo não eram “casos”: era a regra geral. Quem se impressiona com denúncias de escravidão são as pessoas livres. Escravos não se abalam com a descrição das condições de trabalho de outros escravos, e a denúncia, mesmo que varasse a censura, cairia no vazio. O socialismo, enquanto viveu, viveu apenas de duas coisas: ajuda dos países capitalistas e trabalho escravo.

Nada disso é segredo, no mundo em geral, mas no Brasil, graças ao bloqueio das informações anticomunistas na mídia, ainda é. O bloqueio não é completo, como se vê pelo fato de que, sob a hegemonia comunista, eu mesmo ainda tenho algum espaço para escrever; mas é vasto o bastante para abranger todas as páginas noticiosas, cujo maciço trabalho de desinformação não posso contrabalançar com uns quantos artigos por mês. O único modo de furar esse bloqueio é ir direto às fontes, que hoje são abundantes graças à Internet.

No site http://www.osa.ceu.hu/gulag/ vocês podem ter uma visão do que foi a economia escravista na União Soviética.

O trabalho escravo deve, sim, ser denunciado, e os responsáveis por ele, punidos. Mas o regime mais escravagista que já existiu neste mundo não tem o direito de limpar sua imagem na de escravagistas menores e ocasionais.

Cada apologia do socialismo é legitimação e embelezamento de um passado criminoso. Nenhum dos males presentes se compara, nem de longe, ao cortejo de horrores e misérias que o socialismo estendeu por um terço da superfície terrestre.

Fotos de Sebastião Salgado podem impressionar uma burguesia idiota, fraca, viciada, irresponsável e covarde, pronta a aplacar com dólares e afagos a fúria de seus acusadores, sem nem se perguntar se são sinceros e loucos ou fingidos e espertos. Mas fotos mostram apenas um fato que se deu em algum lugar; não elucidam a sua causa, nem muito menos provam que fatos idênticos ou piores, em quantidade muito maior, não se passaram e passam em outros lugares, eventualmente naqueles mesmos que os Sebastiões Salgados imaginam ser províncias do paraíso terrestre. Interpretar fotos – ou qualquer outro documento visual sobre trabalho escravo – como argumentos contra o capitalismo é falhar por completo no exercício do mais elementar discernimento, é cair num raciocínio de indução sensível que está abaixo do nível do humano.

A propaganda comunista, desde Eisenstein, especializou-se no uso de imagens como substitutas do raciocínio. Ninguém, como os socialistas, sabe fazer uma simples fotografia produzir na cabeça do espectador uma impressão de silogismo. Acreditar nesse tipo de raciocínio é animalesco, e o simples fato de que os comunistas tenham abusado tanto desse expediente, não só na propaganda ostensiva, mas também na educação infantil e na cultura superior, já mostra seu completo desprezo pela inteligência humana. Depois o mundo capitalista aprendeu a usar do mesmo recurso na propaganda comercial, mas num ambiente de concorrência e neutralização mútua que pelo menos resguardava a liberdade de escolha do consumidor. Ademais, a compra de um produto não é uma decisão tão grave quanto a adesão a uma ideologia política que solicita nosso apoio para ações violentas. Para completar, as agências de publicidade podem ser processadas por seus abusos, e quem nos países socialistas haveria de processar Lenin, Kruschev ou Fidel Castro? A desonestidade de todas as agências de publicidade comercial do mundo, somada, é zero em comparação com a total falta de escrúpulos da propaganda socialista.

As imagens de meninos escravos são impressionantes, sim. Porém mais impressionante é a irrefreável cadeia de reflexos condicionados que consegue fazer a imagem de um fato passar por prova de causas remotas absolutamente inacessíveis à percepção visual.

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