Olavo de Carvalho

O plágio como arma de difamação

22 de novembro de 2009

Em 10 de setembro de 2003, publiquei neste website (www.olavodecarvalho.org/avisos/10set2003.htm) o aviso “Calúnia pretensiosa”, no qual dava ciência aos meus leitores de “um dos escritos caluniosos mais extravagantes que já se produziram a meu respeito”. Tratava-se de um panfleto anônimo que, sob o título “Quem é Olavo de Carvalho?”, me acusava de crimes e trapaças espetaculares, tudo num estilo que simulava estudo sério e longa observação.

A aparente idoneidade do escrito, no entanto, nascia de um truque simples: “Nove décimos de seu conteúdo são uma cópia literal de um antigo texto meu, ‘Quem é Gurdjieff?’, apenas com o nome ‘Gurdjieff’ trocado para ‘Olavo de Carvalho’. Os parágrafos copiados vêm sem aspas ou qualquer outra indicação que permita distingui-los dos poucos trechos restantes ali enxertados, os quais, separados daqueles, perdem toda contundência e se reduzem a fofocas de cortiço, capazes de impressionar tão somente a um público de bêbados e retardados mentais. Por meio desse expediente supremamente canalha, difamadores bem chinfrins tentaram adornar a miserável produção de seus espíritos com a credibilidade e a força dos escritos de sua própria vítima.”

A versão falsa foi colocada em circulação por duas pessoas que julgaram ter motivos justos para me odiar: uma socialite cujos furores eróticos eu, já velho demais para essas aventuras, tinha me recusado a aplacar, e um pobre diabo que na extrema penúria tomara a referida como sua protetora, passando a prestar-lhe, por uns trocados, qualquer serviço por mais abjeto que fosse. Tão logo publiquei o aviso “Calúnia pretensiosa”, que não citava seus nomes nem dava a menor pista das suas identidades, os dois se apressaram a me telefonar, jurando inocência, sem notar que com isso se desmascaravam automaticamente. Até hoje são fontes de inumeráveis intrigas que circulam a meu respeito. Non raggionam di lor, ma guarda e passa.

Não faltaram, evidentemente, cobranças insolentes de que eu exibisse imediatamente o original, sob pena de que à palavra dos intrigantes se desse, a priori, mais valor do que à minha. No Brasil é mesmo assim: o ônus da prova cabe sempre ao caluniado, jamais ao caluniador. Aparentemente, nenhum desses cobradores tinha inteligência bastante, nem para reconhecer a autoria do escrito copiado, nem muito menos para entender que os processos de dominação psicológica praticados pelo taumaturgo armênio Georges I. Gurdjieff sobre seus discípulos exigiam complicados exercícios físicos na presença do mestre, sendo impossível que eu atingisse resultados similares mediantes simples exposições orais em aulas e palestras.

Foi Hillaire Belloc, se não me engano, quem disse: “Não acreditamos na mentira porque ela nos convence. Acreditamos nela porque queremos.”

Como na ocasião eu estivesse de mudança, de Petrópolis para Curitiba, não consegui localizar nos meus arquivos, já empacotados, o texto original da apostila “Quem é Gurdjieff?”. Muito menos pude fazê-lo depois, ao transferir-me para os EUA, quando todos os meus papéis antigos, chegando do Brasil em mais de sessenta caixotes, com seis meses de atraso, foram imediatamente depositados em baús de plástico, para evitar sua rápida deterioração, e aí permaneceram estocados na minha garagem até umas semanas atrás. Durante todos esses anos não senti a menor urgência de atender à demanda de provas, nem mesmo quando uma mocinha que se dizia muito católica recolocou em circulação o “Quem é Olavo de Carvalho?”, passando por cima não só do Oitavo Mandamento mas da própria Constituição Brasileira, que, proibindo formalmente o anonimato, faz dele um agravante doloso dos crimes de calúnia e difamação.

Foi o Sílvio Grimaldo que, abrindo pela primeira vez alguns dos baús, localizou o original datilografado, datado de uma época em que só ricos e excêntricos usavam computadores. Em vez de digitalizá-lo como arquivo Word ou html, preferi reproduzi-lo em PDF para que os leitores possam verificar com seus próprios olhos a antigüidade da coisa. Infelizmente não consegui localizar os diagramas mencionados no texto, que no entanto é perfeitamente compreensível sem eles. A demora em publicar isso foi boa: mostra que estou fornecendo a prova tão-somente para informação dos leitores honrados, não para a satisfação de cobradores insolentes, office-boys de caluniadores.

O original de “Quem é Gurdjieff?” data, se não me falha a memória, de 1986 ou 1987. Independentemente do mau uso que se fez dele, e descontado o estilo tariqueiro em que o redigi, o qual hoje me revira um pouco o estômago, “Quem é Gurdjieff?” conserva algum valor informativo.

Anexo: Quem_Gurdjieff

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