Olavo de Carvalho


Diário do Comércio (editorial), 17 de outubro

Em 25 de setembro escrevi neste Diário do Comércio: “Qualquer que seja o resultado das eleições, qualquer que seja o desenlace das presentes investigações de corrupção, a gangue petista não vai largar gentilmente a rapadura.”

Não se passaram quinze dias e a quadrilha confirmou minha previsão, como aliás costuma fazê-lo há anos, com a regularidade de um cuco. As ameaças explícitas ou veladas de represália violenta à possível derrota de Lula nas eleições são algo mais do que a “chantagem psicológica” que a assessoria de Geraldo Alckmin acredita ver nelas. São o anúncio de um ataque geral à ordem democrática que já está planejado há décadas por todas as organizações de esquerda — PT inclusive, é claro — como alternativa em caso de fracasso da transição pacífica para o socialismo. A coisa já foi proclamada mil vezes e, não tenham dúvidas, vai acontecer. O próprio Lula, um dos que a aprovaram com freqüência no passado, voltou a ela após um período de abstinência forçada e desde sexta-feira passada já está aquecendo os motores da engenhoca subversiva, incitando ao crime os militantes do MST, uma das entidades que prometem vingança golpista em caso de vitória de Alckmin (v. http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1410200612.htm)

O contraste falso e artificioso que a mídia chique estabeleceu entre os chamados “setores radicais” do PT e o petismo supostamente ordeiro e legalista de Lula é ele mesmo um instrumento da trama esquerdista, à qual serve para encobrir a unidade da estratégia revolucionária dando uma aparência de dualismo substantivo ao que nunca passou de mera duplicidade de táticas, alternadas ou mescladas conforme as necessidades do momento (mais explicações na entrevista que dei domingo ao site www.conservador.wordpress.com).

Se, enquanto isso, o sr. Marco Aurélio Garcia chama de “terrorismo” a simples divulgação jornalística de fatos que o partido preferiria esconder, é porque é um comunista cínico, empenhado em ocultar a truculência irrefreável da esquerda revolucionária sob uma patética afetação de coitadice.

Terrorismo, no vocabulário dessa gente, não é colocar tropas de agitadores nas ruas para espalhar o pânico entre a população e anular pela força a decisão popular. Terrorismo é contar ao público que o presidente da República está comprometido oficialmente a legalizar o aborto no país – uma verdade banal abundantemente registrada em documentos do próprio PT (se têm dúvidas, vejam tudo em http://www.olavodecarvalho.org/textos/mensagem_aborto.html).

Seria ingênuo esperar racionalidade e senso das proporções da parte de pessoas dispostas a apelar à violência por incapacidade de submeter-se ao ciclo democrático normal do qual ainda ontem diziam ser a encarnação mais pura e elevada; mas o grotesco das alegações estapafúrdias surgidas do cérebro petista em desespero, nas últimas semanas, ultrapassa tudo o que se conhece historicamente em matéria de besteirol comunista.

Karl Marx dizia que a tragédia histórica se repete como comédia, mas, sinceramente, é horrível ver que o nosso país foi escolhido pelo demônio como palco da comédia revolucionária. Todo o potencial da esquerda para o ridículo parece que se concentrou no Brasil. A vergonha que isso traz é até possível de suportar. Insuportável é saber que o sangue que vai correr no palco da comédia é o mesmo da tragédia: não é massa de tomate, é sangue de verdade. Dizem que o ridículo mata, mas na palhaçada brasileira ele arrisca fazer isso em sentido literal, físico. Personagens de carne e osso, tornados ridículos por sua recusa obstinada e sonsa de enxergar um perigo óbvio, serão mortos nas ruas por outros personagens, que a incapacidade de suportar seu próprio ridículo transformou em loucos furiosos.

O romancista Georges Bernanos, que viveu no Brasil e o amava como sua segunda pátria, temia que o país viesse a sucumbir, um dia, na mais sangrenta das revoluções. Nunca foi mais urgente do que hoje a advertência dele: “O perigo que nos ameaça não é somente o de morrer, mas de morrer como idiotas.”

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