Olavo de Carvalho

Diário do Comércio (editorial), 24 de outubro de 2007

Xingado de ultradireitista por Hugo Chávez, humilhado pelo governo de Cuba que vetou a entrada da comissão parlamentar brasileira, o Senado brasileiro tratou logo de reconquistar as graças de seus exigentes proprietários, derretendo-se em sorrisos sedutores e baixando ao último grau da abjeção mediante a despudorada homenagem a um sociopata assassino, odiento, covarde e autolatricamente vaidoso.

Com essa iniciativa aliás involuntariamente irônica, pois Che Guevara já se colocava a si próprio “no primeiro escalão da espécie humana” e quem quer que depois disso lhe renda graças aceita ipso facto um lugar inferior ao dele na hierarquia zoológica, a única coisa que o Senado conseguiu foi reforçar um pouco mais a tese petista que considera seriamente a hipótese da sua extinção a médio prazo.

Aqueles que esperam conquistar o coração do tirano mediante atos de subserviência não fazem senão mostrar a ele o quanto são dispensáveis.

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Celso Lungaretti, que entrou para os anais da História Universal como prefeito de Pariquera-Açu, SP, demonstrou sua lealdade à esquerda revolucionária indo à TV delatar seus companheiros de ideologia durante o regime militar. Agora ele prova sua fidelidade aos princípios da democracia e da livre expressão exigindo o fechamento judicial dos sites conservadores na internet .

Isso é que é inteireza de caráter.

Aproveita a ocasião para classificar o jornal eletrônico Mídia Sem Máscara entre “os sites financiados por facções políticas”, mas, como não informa qual é a facção, o jornal continua sem meios de acesso ao tal financiamento, que espero seja substantivo e duradouro. Se o misterioso subsídio não aparecer logo, vou cobrá-lo do próprio Lungaretti, que como dono da Geração Editorial, editora da primorosa “História Crítica” de Mário Schmidt, tem prosperado muito no ramo da propaganda comunista, a indústria mais pujante deste país.

Que um sujeito se arrependa, depois se arrependa de ter-se arrependido, e por fim se arrependa de ambas as coisas, faz parte da miséria usual da humanidade. O que diferencia Lungaretti é que seus arrependimentos sempre o colocam a favor do lado mais vantajoso no momento, primeiro como serviçal da direita militar e agora como delator de direitistas. Por isso mesmo, ele não está de todo errado ao posar de superior a todas as ideologias. No fundo ele não serve a nenhuma: serve-se delas e nunca sai perdendo.

Com similar idoneidade, ele classifica de ficção conspiratória a minha afirmação de que os partidos membros do Foro de São Paulo dominam atualmente os governos de vários países da América Latina. Fique pois o leitor sabendo que os partidos de Lula, Kirschner, Chávez, Morales e tutti quanti não governam nada ou então não pertencem ao Foro de São Paulo, embora eles próprios digam o contrário em ambos os casos.

Normalmente, o que quer que um tipo como Lungaretti diga ou faça é inócuo como um pum de mosquito, mas, como a nota foi publicada no site do prof. Roberto Romano, que tem mais de três leitores, um deles me enviou uma cópia da coisinha, perguntando o que acho dela. Não acho nada, apenas noto que o prof. Romano, quanto mais apanha de comunistas, mais solicitamente os lisonjeia, rebaixando-se ao ponto de se fazer de megafone para o ex-prefeito de Pariqüera-Açu. É o que normalmente se chamaria de fim de carreira, mas, no caso, parece ser apenas o preço de um emprego na Unicamp. Ou talvez acumulação de méritos para uma vaga no Senado.

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